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Bolsonaro pode surfar em onda de alta do petróleo

Sabrina Valle

29/10/2018 15h51

(Bloomberg) -- Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro assumirá o posto na hora certa para colher os frutos de uma onda positiva do petróleo.

Após uma década de produção praticamente estagnada, os megacampos do Brasil estão prestes a gerar uma dupla boa notícia: as exportações devem crescer justamente num momento de alta do preço do petróleo, com o Brent confortavelmente acima de US$ 70 o barril. Isso significa aumento de receitas num país que sofre com déficit fiscal, além de aquecimento de uma indústria chave da economia, disse Decio Oddone, diretor geral da ANP.

A reviravolta do petróleo dá ao governo mais do que apenas dinheiro - promete reativar a maré de sorte da Petrobras, empresa que historicamente é fonte de orgulho para brasileiros, mas que passou os últimos anos atolada em escândalos.

Como são necessários anos para que um campo de águas profundas comece a produzir, é provável que Bolsonaro obtenha todo o crédito de decisões de investimento tomadas no passado.

"Muitos brasileiros podem ver isso como o efeito de uma política ou postura que ele implementou e não necessariamente a continuação das políticas existentes", disse Roberta Braga, diretora associada com foco em América Latina para o Atlantic Council, think tank sediado em Washington. "Se isso der resultados, a imagem dele vai melhor significativamente."

O presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, disse na semana passada que a produção aumentará "espetacularmente" em 2019 e que a empresa está reabrindo um escritório em Cingapura para ajudar a impulsionar o aumento das exportações.

A produção da Petrobras deverá subir 9% em 2019, de 2 milhões de barris por dia para 2,4 milhões, segundo o UBS Group. O Morgan Stanley espera um aumento ainda maior, de 12%. Embora a Petrobras ainda não tenha anunciado uma meta oficial para 2019, um recorde de oito plataformas começaram a ser instaladas neste ano e vão gradualmente aumentar a produção ao longo de 2019. Juntas, as plataformas flutuantes têm o potencial de quase dobrar a capacidade de produção de petróleo da Petrobras.

O aumento se dá graças às grandes reservas de petróleo encontradas há cerca de uma década em águas profundas do Atlântico. As chamadas reservas do pré-sal, que ganham este nome por ficarem abaixo de uma camada de sal, agora são responsáveis por mais da metade da produção do país e estão atraindo investimento crescente de grandes petroleiras.

Essa região é a principal fonte de valor para a Petrobras, com produtividade incomparável e exploração de baixo risco, disseram os analistas do Morgan Stanley Bruno Montanari e Guilherme Levy em um relatório de 23 de outubro.

Mesmo que a produção tenha sido estável para declinante em 2018, a combinação de preços mais altos do petróleo e variação do câmbio já estão gerando lucros inesperados. A Petrobras pagou 28% a mais em impostos e royalties no primeiro semestre de 2018, ou R$ 75 bilhões, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A empresa divulgará o balanço do terceiro trimestre em 6 de novembro.

A Petrobras também voltou a pagar dividendos e o segundo trimestre foi o mais rentável desde 2011. Isso contrasta fortemente com as baixas contábeis de bilhões de dólares registradas após investigações da Lava Jato.

Uma fonte de incerteza é quem vai liderar a Petrobras sob Bolsonaro, que toma posse no dia 1º de janeiro. Ele não nomeou sua equipe de energia, que inclui o ministro das Minas e Energia, ou possíveis recomendações para o conselho e a diretoria da Petrobras.

"Passada a eleição, as atenções se voltam, agora, para a fase de transição de governo e a definição de nomes para a futura equipe ministerial", disse o analista do Bradesco, Fernando Barbosa, em nota aos clientes na segunda-feira.