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Desastre climático vira marketing para empresas de alimentos

Nate Lanxon

29/10/2018 12h53

(Bloomberg) -- Os cientistas vêm alertando há vários anos que os humanos correm o risco de causar uma catástrofe ambiental se não comerem menos carne. No início do mês, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou o mais recente de uma série de relatórios sombrios a respeito das mudanças climáticas, prevendo que, juntamente com a elevação dos oceanos e das temperaturas, haverá menos terra arável para alimentar uma população global cada vez maior. As notícias são deprimentes, com certeza, mas em termos de marketing valem ouro para empresas de refeições substitutas como Soylent e Huel.

Ambas estão apelando para a preocupação crescente dos consumidores em relação à degradação agrícola. "Estamos em meio a uma crise alimentar", proclama a Huel em seu website. A Soylent afirma que suas refeições à base de vegetais exigem menos água e produzem menos CO2 que o gado e são melhores para o planeta. O apelo da mensagem conquista cada vez mais gente. A WeWork informou a seus 6.000 funcionários em julho que já não pagaria refeições que contivessem carne e que a empresa não gastará com carne bovina, de aves ou suína em seus eventos.

"A Huel é vegana, por isso é melhor para o meio ambiente", diz o cofundador da empresa, Julian Hearn. "Eu não sou vegano, mas sei que nós todos devemos comer menos carne do que comemos atualmente."

A Soylent, de São Francisco, começou a divulgar seus produtos para os ascetas da tecnologia que relutam em perder tempo preparando refeições. A Huel, que tem sede em Buckinghamshire, no Reino Unido, tem discurso semelhante. Ambas vendem suas próprias versões de uma farinha rica em proteínas que é misturada com água para produzir uma bebida. A Huel usa ingredientes como aveia, proteína de ervilha e sementes de linho; a Soylent dá preferência à proteína extraída da soja e às gorduras do óleo de girassol. Ambas incorporam uma série de vitaminas e minerais adicionados.

Até o momento essas substituições de refeições são produtos de nicho e ambas as empresas estão tentando se popularizar. No ano passado, a Soylent começou a vender bebidas engarrafadas na 7-Eleven, no Walmart e na Amazon. A Huel também se prepara para lançar uma versão pronta para beber e para entrar em lojas grandes. Hearn diz que a discussão com possíveis vendedores varejistas "será muito mais fácil" porque a Soylent já os acostumou com a categoria.

A Huel e a Soylent sabem que os sabores básicos não modificados e a consistência de suas bebidas não agradam todos os paladares. A Huel vende uma série de pós aromatizantes que podem ser adicionados às bebidas, incluindo chocolate, banana, matcha e caramelo. Um guia de receitas inclui instruções para brownies de batata-doce e um smoothie de sorvete. As bebidas pré-misturadas da Soylent são vendidas nas variedades cacau, morango e baunilha e a empresa vende um produto de sabor café com cafeína desde 2016.

Richard Corrigan, um chef britânico com estrela no guia Michelin, fez um teste de sabor dos produtos da Huel, da Soylent e da concorrente Saturo para a Bloomberg. Ele descreve o gosto da bebida da Huel como "bastante aceitável" e "não necessariamente desagradável" e afirma que se o consumidor pegar o melhor dos produtos e agregar a um purê de frutas, "acaba tendo uma refeição 'completa' e bastante interessante." Ele não fez muitos elogios aos produtos da Soylent e da Saturo.