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A inconveniente verdade sobre laços entre Deutsche e elite alemã

Steven Arons e Chris Reiter

19/11/2018 15h59

(Bloomberg) -- Próximo de seu 150º aniversário, o Deutsche Bank enfrenta uma verdade inconveniente: o maior banco da Alemanha deixou de ser insubstituível para a elite econômica do país.

Das gigantescas corporações às firmas especializadas em engenharia, a fidelidade das empresas alemãs em relação ao Deutsche Bank está perdendo força após anos de crises decorrentes dos esforços de imitar os bancos de investimento de Wall Street, segundo diálogos com diversos executivos.

Depois de trabalhar por mais de meio século com o Deutsche Bank, "sinto um verdadeiro desgosto pelo declínio dessa instituição antes tão orgulhosa e confiável", disse o bilionário Reinhold Wuerth, 83, patriarca da fabricante de materiais de construção Wuerth Group. Mas esses problemas "não influenciam nossos negócios, já que estão presentes em todos os tipos de serviços bancários disponíveis na União Europeia", disse Wuerth, uma antiga referência do famoso Mittelstand, grupo das pequenas e médias empresas do país que são a espinha dorsal da economia.

Essa indiferença representa um risco para o plano do CEO Christian Sewing de devolver o banco às suas raízes e apoiar o exército de exportadores do país, embora os líderes empresariais alemães anseiem por um banco doméstico forte com alcance internacional. A relevância menor do banco também serve àqueles que defendem a criação de um banco alemão mais forte por meio de uma fusão com o rival Commerzbank, uma combinação que está ganhando o apoio de algumas autoridades.

Os comentários de Wuerth estão em sintonia com os de vários outros líderes empresariais, que pediram para não ser identificados para não comprometer suas relações comerciais. Muitos ressaltaram a força da divisão de transações do banco -- que oferece financiamento para exportação e serviços de pagamento -- como uma das principais razões para desejarem que o Deutsche Bank continue forte. Mas a maioria concordou que poderia encontrar outras instituições financeiras para preencher a lacuna se necessário.

Mais do que nunca, as empresas alemãs do Mittelstand contam atualmente com um amplo leque de opções de financiamento, e mais bancos estrangeiros estão entrando no mercado. BNP Paribas, ING Group e Goldman Sachs anunciaram recentemente intenções de aprofundar seus laços com os "campeões ocultos" do país. Enquanto isso, a participação no mercado de empréstimos alemão recuou e o Deutsche Bank caiu para o quinto lugar até esta altura do ano. Em 2015 era o primeiro.

"A concorrência por clientes do Mittelstand se intensificou na Alemanha", disse Stefan Bender, chefe de clientes comerciais do Deutsche Bank na Alemanha, em entrevista. "É por isso que estamos investindo" para atender melhor essas empresas no país e no exterior.

O banco está reforçando sua cobertura ao Mittelstand, que estará isenta de demissões desde que Bender e sua equipe consigam cumprir as metas de lucros. Os negócios nesse segmento cresceram neste ano depois que o Deutsche Bank ganhou 4.500 novos clientes, um ponto positivo para uma instituição que divulgou sua pior receita desde 2010 no terceiro trimestre.

Entre os clientes comerciais, a nova abordagem tem sido notada. Funcionários do Deutsche Bank realizam telefonemas frequentes e enviam convites para eventos para atrair empresas antes abertamente desdenhadas por serem pequenas demais, segundo um executivo.

"Havíamos perdido nosso foco no Mittelstand, mas o recuperamos", disse Bender. "Nossos clientes sabem que podemos fazer negócios com o Mittelstand. Agora precisamos mostrar que também queremos isso."