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Facebook usa 'telefones de WhatsApp' para conquistar Índia

Saritha Rai

03/12/2018 14h26

(Bloomberg) -- Em uma tarde recente na cidade indiana de Pune, um pedreiro de 35 anos chamado Om Prakash Gaekwad recebe um curso intensivo sobre tecnologia. Ele assiste a um esquete de rua que explica as virtudes do serviço de mensagens do WhatsApp e da rede sem fio da Reliance Jio. Ele então sobe a bordo de um caminhão para descobrir como configurá-los. Meia hora depois, ele se decidiu: fará o upgrade para um novo telefone, para poder negociar tarifas de alvenaria pelo WhatsApp e deixar que seu filho de seis anos brinque com jogos móveis.

Essas apresentações - parte tutorial, parte kitsch - estão impulsionando a adoção no mercado de internet que já registra o crescimento mais acelerado do mundo. O Facebook, companhia controladora do WhatsApp, e o homem mais rico da Índia, que criou a Reliance Jio, estão unindo forças para atrair milhares de clientes com telefones baratos, tarifas baixas e serviços de mensagens úteis. O papel do Facebook em tudo isso é tão central que, nas regiões rurais, os aparelhos com acesso à rede são apelidados de "telefones de WhatsApp".

As duas empresas estão construindo uma enorme base de usuários que aumentará suas próprias fortunas. Ao mesmo tempo, elas estabelecem a base sobre a qual podem ser criados negócios como varejo on-line, pagamentos digitais e entrega de alimentos. A Reliance Jio e o WhatsApp preferiram não comentar diretamente sobre planos futuros, mas especialistas consideram que uma maior colaboração é inevitável.

"É uma aliança natural porque dá acesso ao WhatsApp a dezenas de milhões de novos clientes através da Reliance Jio", disse Nandan Nilekani, investidor em tecnologia e cofundador da gigante de terceirização de tecnologia Infosys. Por sua vez, a Reliance Jio ganha impulso porque os novos usuários veem o WhatsApp como o primeiro passo para entrar no restante da internet.

A Índia já tem 480 milhões de usuários de internet - cerca de 75 por cento a mais que os EUA e só perde para a China. Esse número deve crescer para 737 milhões até 2022, segundo a Forrester Research. "Os próximos 500 milhões de usuários ainda não foram conquistados", disse Satish Meena, analista de previsões da Forrester.

O Facebook, cambaleando de crise em crise nos EUA, também enfrenta desafios na Ásia, como críticas de que não fez o suficiente para combater a disseminação da violência em Mianmar. Na Índia, seu serviço Free Basics, que oferece uma internet minimalista para mercados emergentes, foi proibido por violar a neutralidade da rede, e o WhatsApp foi usado para divulgar vídeos falsos e rumores que levaram a dezenas de linchamentos. O governo ameaçou tomar providências judiciais se a empresa não se empenhar mais para resolver os problemas.

No entanto, a Índia talvez seja sua oportunidade mais promissora. O país já é o maior mercado do WhatsApp, com mais de 200 milhões de usuários - tão importante que Chris Daniels o visitou duas vezes desde que se tornou CEO, em maio. O uso do serviço de mensagens é gratuito, mas o Facebook cobra de empresas para se comunicar na plataforma e deve inserir publicidade. O WhatsApp se tornará mais crucial para os resultados do Facebook à medida que a rede social amadurecer.

O recente impulso do Facebook na Índia decorre de sua aliança com Mukesh Ambani, chefe do conglomerado Reliance Industries. Em uma medida que sacudiu o setor de telecomunicações, Ambani investiu US$ 35 bilhões para lançar a rede sem fio mais avançada do país há dois anos. Ele ofereceu chamadas de voz gratuitas e conectividade digital com desconto através de telefones básicos e baratos em toda a Índia, apelando para quem não se sentia à vontade com smartphones. Milhões de indianos pobres foram inseridos na era digital praticamente de um dia para o outro. A maioria dos rivais de Ambani - incluindo seu próprio irmão - rapidamente se tornou irrelevante.

--Com a colaboração de Sarah Frier.