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Casas Bahia: mercado aprova renegociação, mas acionista pode se dar mal

As ações das Casas Bahia (BHIA3) abriram o pregão desta segunda-feira (29) em alta de 17,65%, indo para R$ 6,40 em torno das 11h, após a companhia ter pedido recuperação extrajudicial — ou seja, só com os bancos para os quais ela deve, sem envolver a Justiça.

A negociação pegou o mercado de surpresa. Foi o que disse Carlos Daltozo, chefe de análise da Eleven Financial. No entanto, para ele, o plano de recuperação feito com os bancos credores é melhor do que o realizado com a Justiça — porque custa menos. Por isso houve esse salto no valor dos ativos.

O que está acontecendo?

A empresa renegociou R$ 4,1 bilhões com os bancos credores. O Banco do Brasil (BBAS3) é o maior credor, com R$ 1,272 bilhão. Em seguida vem o Bradesco (BBDC4), com R$ 953 milhões. Eles detêm 54,5% dos débitos.

A dívida das Casas Bahia era maior. Chegou a passar dos R$ 10,7 bilhões, no ano passado. A empresa fez um levantamento de capital em 5 de setembro. O grupo de varejo lançou uma oferta primária de ações, com a expectativa era vender 778,65 milhões de ativos adicionais no mercado.

O objetivo era conseguir cerca de R$ 1 bilhão para melhorar a situação financeira. Mas a Casas Bahia conseguiu levantar apenas R$ 623 milhões.

O que muda agora?

Mas a nova negociação vai dar fôlego para as contas. É o que diz Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank. Com os juros caindo agora — mesmo que não tanto quanto se esperava — a Casas Bahia tem como recuperar as vendas e pôr as finanças em ordem.

Tanto é que ela vai fazer uma economia de R$ 400 milhões. Esse é o valor que ela vai pagar a menos referente a juros ao ano, segundo Dalltozo.

Como a empresa chegou a esse ponto?

O varejo gasta muito para poder vender. São custos de propaganda, alugueis, pessoal, tecnologia. Por isso, as margens de lucro são muito apertadas.

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As dívidas surgem porque a empresa compra praticamente à vista para pagar a prazo. Quando ela compra, por exemplo, uma geladeira do fornecedor, a Casas Bahia tem um prazo de poucos meses para pagar o fabricante. Mas ela vende para o consumidor em 24 ou até 36 meses.

Para fechar a conta, ela pede empréstimos. É aí que mora o problema. Até 2021 e meados de 2022, ela vendeu bem e paga o que devia porque os juros estavam em baixa. Mas com a alta da Selic, ela foi tendo prejuízo, com vendas caindo e sem dinheiro para pagar os bancos.

A empresa, historicamente, sempre ganhou mais na operação financeira do que com a venda dos produtos. É o que explica Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital. "Isso, hoje, vem se mostrando um modelo cada vez mais difícil, em razão dos altos estoques e de uma operação muito onerosa", diz ele. Por isso as dívidas cresceram tanto.

Assim ela passou a pagar juros de dívida -- e muito altos. A empresa tinha uma dívida bilionária -- que era corrigida, em boa parte, acima da taxa básica da economia, a Selic. Ao ano, ela chegou a pagar mais de 15% de juros. Ou seja, só em juros, foram R$ 1 bilhão ao ano. A economia de R$ 400 milhões entra aqui.

A concorrência também apertou. "Entraram novos concorrentes internacionais no mercado, principalmente estrangeiros e — nesse ponto — a Casas Bahia era muito nichada, com vendas muito concentradas em linha branca (geladeira, fogões, lavadoras). Isso prejudicou muito a companhia que perdeu mercado", diz Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos.

E como fica o investidor?

Ele pode se dar mal. Dalltozo explica que o acordo com os bancos implica na compra de ações por parte dessas instituições financeiras. Essa compra seria feita dentro de 18 a 36 meses após o fechamento do acordo. Além disso, a compra seria feita com desconto no preço da ação de 20%.

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Isso pode gerar uma diluição das ações atuais. Ou seja, o valor do papel cai mais.

Além disso, a empresa pode não se recuperar. É o que diz Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos. Para ele, a crise da empresa vem de longe e existem também problemas de gestão. "Isso aí é apenas mais um capítulo antes de uma falência completa da empresa", diz Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos. Para ele, a cise toda pode afetar não só as ações da empresa, mas também as do Banco do Brasil e do Bradesco. Por isso, a compra não é recomendada.

Nesta segunda, feira, as ações do BB estavam praticamente estáveis. Eram cotadas no mesmo horário a R$ 27,57, em alta de 0,073%. As do Bradesco eram negociadas a R$ 13,97, em alta de 0,65%.

A Casas Bahia é dona de uma rede de 900 lojas. Além da marca que dá nome ao grupo (que anteriormente se chamou Via Varejo ou só Via), há também as lojas Ponto e os negócios online, como Extra.com.

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.

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