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Indústria quer que consumidor pague para corrigir poluição

Jeremy Hodges

11/12/2018 15h37

(Bloomberg) -- Alguns dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo estão pedindo ajuda aos contribuintes para deixar de poluir.

As maiores empresas de petróleo, gás natural e mineração do mundo estão intensificando a campanha para implantação de captura e armazenamento de carbono (CCS, na sigla em inglês) com o objetivo de desacelerar o aquecimento global. Mas o possível custo de US$ 90 bilhões por ano é elevado demais para que as empresas o façam por conta própria.

A tecnologia retira a poluição das chaminés das unidades industriais e a injeta permanentemente debaixo da terra. Promete reduzir os gases causadores do efeito estufa sem reformular o sistema de energia do mundo. Apesar de todo o potencial, a CCS gera perguntas difíceis para as autoridades em relação ao financiamento e ninguém no setor desenvolveu nenhuma solução além de subsídios diretos ou de impostos muito mais altos para o carbono. Qualquer uma dessas medidas tornaria a queima de combustíveis fósseis muito menos econômica.

Mesmo assim, empresas como as gigantes da mineração Glencore e BHP Billiton e grandes petroleiras como Royal Dutch Shell e Total foram encorajadas a levar o esforço adiante por um relatório da ONU que mostra que a CCS é fundamental para conter o aquecimento global.

"A questão é mudar a forma com que as pessoas veem a CCS, deixando de pensar que é inevitável, mas impossível, e tornando-a necessária e factível", disse Fiona Wild, chefe de mudanças climáticas e sustentabilidade da BHP Billiton, em entrevista, em Edimburgo. "Precisamos implantar regimes políticos que respaldem o desenvolvimento a longo prazo porque precisamos de escala."

O custo é o maior impedimento para a CCS. A Agência Internacional de Energia estima que o preço inicial do sequestro do carbono é de cerca de US$ 40 por tonelada, o dobro do custo das emissões na Europa. A indústria precisa capturar 2,3 bilhões de toneladas por ano até 2040. Isso sugere que a CCS precisaria de US$ 92 bilhões por ano em apoio para operar em escala -- mais do que todo o setor de carvão tomou em investimento no ano passado.

Esses números deixam a CCS vulnerável tanto aos desafios dos ambientalistas, que não gostam da ideia de ajudar os combustíveis fósseis, quanto dos desenvolvedores de energias renováveis, que estão construindo cada vez mais parques eólicos e solares a um custo que rivaliza com o das formas tradicionais de energia.

"A CCS é uma carta branca e uma ótima oportunidade de negócio", disse Michael Liebreich, fundador do grupo de pesquisa Bloomberg NEF em Londres, atualmente de propriedade da Bloomberg LP. "Não apenas permitiria que continuassem fazendo o que fazem, mas também oferece a perspectiva de que sejam pagos para limpar sua própria poluição. Simplesmente não consigo imaginar que algum dia isso seja realizado em escala."

Independentemente dos obstáculos, a indústria está avançando. Em um dia cinzento de outono, em Edimburgo, no mês passado, executivos da Shell, da Total e da petroleira norueguesa Equinor se uniram à ministra de Energia do Reino Unido, Claire Perry, em uma conferência em defesa da aposta na CCS.

O governo britânico, por sua vez, anunciou medidas para, segundo sua expectativa, colocar o primeiro projeto de CCS do país em operação em meados da próxima década.

"Temos a ambição de fazer mais", disse o CEO da Shell, Ben van Beurden. "Estamos prontos e aptos para concretizar a CCUS [tecnologia de captura, uso e armazenamento de carbono] se pudermos operar dentro de uma estrutura fiscal, política e de alocação de riscos bem compreendida."