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BC ajusta discurso, agora mais cauteloso, sereno e perseverante

Fernando Travaglini

18/12/2018 09h38

(Bloomberg) -- A ata do Copom joga um balde de água fria nas apostas de que o Banco Central poderia até cortar a Selic em 2019. Essa possibilidade foi levantada por alguns economistas depois de o comunicado citar projeções para a inflação abaixo da meta e elevar o risco baixista para os preços em função da atividade ainda vacilante. Parece que os diretores não concordaram com essa visão do mercado e aproveitaram o documento de hoje para fazer um ajuste fino no discurso.

"Cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis", nas palavras do parágrafo 22 do documento. E ainda acrescentam o que parecer ser uma indicação para a próxima diretoria, que assumirá em breve. "O Comitê entende que decisões pautadas por esses princípios constituem bom guia para a política monetária."

Outro alerta está no parágrafo 15. Após repetir dois pontos dovishs do comunicado, a saber, ociosidade elevada e menor risco de continuidade das reformas, o BC "ressaltou que os riscos altistas para a inflação" seguem com maior peso em seu balanço de riscos. Ou seja, "persiste, apesar de menos intensa, a assimetria no balanço de riscos para a inflação". Esse ponto havia sido retirado do comunicado da decisão da semana passada de manter a Selic em 6,5% e volta agora na ata.

Para Maurício Oreng, estrategista-sênior para Brasil do Rabobank, a fala sugere que o comitê não parece disposto a "fazer apostas". "Esse ponto esfria a discussão sobre juro neutro ainda mais baixo e sobre eventuais cortes de juros", diz, lembrando que o Copom ainda vê a política monetária com postura expansionista ? ou seja, juro abaixo do neutro.

--Com a colaboração de Felipe Saturnino.