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Rio europeu mais importante está secando por redução de geleiras

William Wilkes, Vanessa Dezem e Brian Parkin

18/01/2019 14h46

(Bloomberg) -- A balsa de carros de Kevin Kilps agita as águas do rio Reno, na Alemanha, enquanto ele segue em direção à margem oposta a Kaub, uma pitoresca vila ao sul do afloramento rochoso que leva o nome da lendária sereia Lorelei.

Trata-se de um trecho aquaviário normalmente movimentado. Em um dia normal transportando trabalhadores, a balsa disputa espaço com barcaças de carga que levam suprimentos para fábricas do sul e mercadorias alemãs para os portos no Mar do Norte, além de barcos turísticos que se dirigem para castelos medievais e vinhedos próximos.

Após uma seca prolongada no verão, o tráfego movimentado em um dos pontos mais rasos do rio Reno foi interrompido durante quase um mês no fim do ano passado, sufocando uma importante artéria de transporte. O impacto afetou a máquina industrial da Alemanha, desacelerando o crescimento econômico no terceiro e no quarto trimestres. Foi o mais recente sinal de como até mesmo economias industriais avançadas estão combatendo cada vez mais os efeitos do aquecimento global.

"É possível notar que os níveis da água estão mais baixos a cada ano", disse Kilps, que acrescentou equipamentos extras de flutuação ao barco de 150 toneladas durante a paralisação para que ele conseguisse atravessar o rio novamente. "É assustador ver a mudança climática."

Com sua nascente no alto dos Alpes suíços, o Reno serpenteia por cerca de 1.300 quilômetros atravessando as zonas industriais da Suíça, da Alemanha e da Holanda antes de desembocar no mar em Roterdã, o porto mais movimentado da Europa. Ele serve como canal fundamental para fabricantes como Daimler, Robert Bosch e Bayer.

Quando o baixo nível da água interrompeu a navegação no verão boreal, a siderúrgica Thyssenkrupp foi obrigada a atrasar remessas para clientes como a fabricante de veículos Volkswagen porque não conseguia transportar matérias-primas para uma usina em Duisburg.

As restrições no Reno custaram à Basf em torno de 250 milhões de euros (US$ 285 milhões) porque obrigaram a fabricante de produtos químicos a utilizar opções de transporte mais caras. Em entrevista recente a um jornal, o CEO da Basf, Martin Brudermüller, defendeu grandes investimentos em infraestrutura, como eclusas e barragens, para liberar água e garantir que as rotas marítimas permaneçam abertas.

"Já vimos os efeitos no crescimento econômico nacional", disse Oliver Rakau, economista-chefe da Oxford Economics para a Alemanha. "O problema está relacionado ao aquecimento global e pode se repetir."

O rio é alimentado por geleiras e pela chuva. Mas os fluxos vindos do gelo alpino diminuíram 28 por cento de 1973 a 2010 -- data do estudo aprofundado mais recente do governo suíço --, e esse declínio pode chegar a 35 por cento atualmente, segundo Wilfried Hagg, especialista em geleiras da Universidade de Munique.

"Os Alpes estão esquentando a um ritmo ainda mais acelerado com o derretimento da neve e do gelo", disse Hagg. "Com o clima mais quente, incidentes como o baixo nível do rio deste verão têm maior probabilidade de ocorrer."