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Britânicos esperam fim do Brexit para comprar imóveis em Algarve

Henrique Almeida e Ben Stupples

08/02/2019 13h02

(Bloomberg) -- No resort Quinta do Lago, na costa algarvia do sul de Portugal, Jamie Robinson está de olho nas reviravoltas das negociações do Brexit a mais de 1.600 quilômetros de distância.

O diretor de vendas imobiliárias do resort que pertence ao bilionário irlandês Denis O'Brien tem clientes potenciais para os quais muito depende de como o Reino Unido sairá da União Europeia em 29 de março. A Quinta do Lago, com seus campos de golfe e suas mansões com vista para o mar que custam bilhões de dólares, conta cidadãos britânicos entre seus maiores compradores. E como o valor da libra provavelmente dependerá de como o Reino Unido cairá fora do bloco, sem acordo ou de um jeito mais ordenado, alguns clientes em potencial decidiram dar uma pausa.

"Vimos compradores do Reino Unido que ainda estão tentando garantir um imóvel aqui na Quinta do Lago, mas a incerteza por trás da falta de decisão sobre o Brexit está atrasando alguns dos processos de compra", disse Robinson em entrevista por telefone. "Se vão trocar grandes valores em libras por euros para comprar imóveis, muitos compradores querem ver um rumo mais definido para a libra."

Assim como Robinson, outros corretores de imóveis na costa do Algarve, lar da maior comunidade de expatriados britânicos do país, notaram a calmaria. O sol, a areia e o golfe há muito tempo levam compradores britânicos de uma segunda casa para o Algarve - que tem cerca de 300 dias ensolarados por ano, dezenas de campos de golfe e várias escolas internacionais -, mas as consultas sobre casas que custam menos de 500.000 euros (US$ 567.000) quase desapareceram, de acordo com Zoie Hawker, diretora da Fine & Country Algarve, uma corretora imobiliária com cerca de 750 listagens.

Isso não quer dizer que todos os britânicos estejam se afastando. O número de residentes britânicos registrados em Portugal aumentou 18 por cento em 2018, para 26.513, e 22 por cento de todos os passageiros que chegam aos aeroportos portugueses são britânicos, de acordo com o Ministério da Administração Interna de Portugal.

Ainda confiante

Laurence Seward, cofundador e presidente da empresa de recrutamento TXM Group, continua confiante de que vai ser fácil vender as quatro casas de luxo que ele está construindo, inclusive para compatriotas do Reino Unido. De fato, ele já vendeu uma para o arquiteto das mansões e vai comprar outra para alugar. Ele frequenta o Algarve com a família há mais de uma década, e sua própria mansão na região ficará pronta em março.

"O Brexit afetará algumas pessoas, especialmente aquelas que precisarem fazer um empréstimo", disse Seward, cujas mansões de frente para o mar, que custam 2,2 milhões de euros, ainda estão em construção. "Mas quem tiver fundos disponíveis e estiver procurando uma segunda casa no Algarve fechará o negócio independentemente do Brexit."

Embora os indivíduos de alto patrimônio líquido do Reino Unido tenham permanecido muito ativos no Algarve, as consultas de cidadãos britânicos por imóveis mais baratos praticamente desapareceram, de acordo com Hawker, da Fine & Country.

"Há uma leve desaceleração em termos de negócios imobiliários com nossos clientes britânicos por causa do Brexit", disse Ana Marques, dona da agência Goldentree Real Estate no resort de Vale do Lobo. "Esperamos que a situação melhore depois que a saga do Brexit acabar."

Repórteres da matéria original: Henrique Almeida em Lisboa, halmeida5@bloomberg.net;Ben Stupples em Londres, bstupples@bloomberg.net