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`Black site' da Apple oferece poucos benefícios aos funcionários

Joshua Brustein

11/02/2019 15h23

(Bloomberg) -- O novo campus da Apple em Cupertino, na Califórnia, é um símbolo de como a empresa se vê como empregadora: ao mesmo tempo em que inspira seus funcionários com sua magnífica escala, mima-os com sua cafeteria de quatro andares e uma academia de 9.290 metros quadrados. No entanto, um grupo de funcionários terceirizados da Apple considera que outro prédio, a cerca de 10 quilômetros de distância, na avenida Hammerwood, em Sunnyvale, é um símbolo mais adequado.

O que o campus principal da Apple tem de impressionante, este edifício tem de insípido. Do lado de fora, parece haver uma área de recepção, mas não tem ninguém nela, o que faz sentido, considerando que as pessoas que trabalham nesse escritório secundário - em sua maioria, funcionários de prestadores de serviço da Apple que trabalham no Apple Maps - usam a porta dos fundos. Os trabalhadores dizem que os gerentes os instruíram a andar vários quarteirões antes de pedir um transporte para ir para casa. Várias pessoas que trabalharam lá disseram que o lugar é amplamente referido na Apple como um "black site", em referência às instalações secretas de operações militares dos EUA.

Dentro do prédio, segundo ex-funcionários, era comum que as máquinas de venda estivessem pouco abastecidas e que fosse necessário fazer fila para usar os banheiros masculinos. Uma arquitetura surpreendente e encantadora não era prioridade ali; afinal de contas, quase todos os trabalhadores terceirizados em Hammerwood vão embora depois que seus contratos de 12 a 15 meses terminam.

Não é incomum que os trabalhadores fiquem ainda menos tempo. De acordo com 14 funcionários atuais e antigos contratados pela Apex Systems, empresa que mantém o pessoal desse prédio e de outros escritórios de mapeamento da Apple, eles trabalhavam sob a constante ameaça de rescisão. "Deixaram bem claro que éramos funcionários temporários e que eles nos demitiriam a qualquer momento", diz um ex-contratado de Hammerwood, que, como a maioria dos trabalhadores entrevistados para esta matéria, falou sob condição de anonimato por ter assinado um contrato de confidencialidade com a Apex. "Havia uma cultura de medo entre os contratados, pela qual fui contagiado e que provavelmente também espalhei."

A Apex, e não a Apple, gerencia os trabalhadores que contrata. A Apple afirma que exige que as empresas contratantes tratem os trabalhadores com "dignidade e respeito". Após uma investigação da Bloomberg News, a empresa informou que realizou uma auditoria surpresa nas instalações de Hammerwood e que o ambiente de trabalho era condizente com o de outras instalações da Apple. "Como fazemos com outros fornecedores, trabalharemos com a Apex para analisar seus sistemas de gestão, inclusive protocolos de recrutamento e rescisão, para garantir que os termos e condições de emprego sejam transparentes e comunicados claramente aos trabalhadores com antecedência", disse um porta-voz da Apple em uma declaração.

Buddy Omohundro, diretor de serviços e consultor-geral da Apex, disse por e-mail que sua empresa se empenha em criar a melhor experiência de trabalho possível. "A Apex fornece vários caminhos para que os funcionários apresentem suas preocupações, tanto de modo direto quanto anonimamente, e para que essas preocupações sejam resolvidas", escreveu ele.

A Apex é uma pequena parte de uma extensa rede global de empresas que contratam os funcionários terceirizados que trabalham com a Apple; inclusive, ela nem sequer é a única empresa que trabalha na instalação da avenida Hammerwood. Somente no Apple Maps, os trabalhadores estão espalhados por vários lugares no Vale do Silício, bem como em Austin, Texas; Londres; República Tcheca; e Índia, de acordo com pessoas que trabalharam no projeto. A operação envolve milhares de trabalhadores terceirizados . Em Hammerwood, já houve mais de 250 funcionários, embora o número total flutue e a Apple tenha preferido não informar a quantidade atual.