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Declínio do petróleo? Investidor opina sobre o que ocorrerá

Mathew Carr

12/02/2019 15h01

(Bloomberg) -- A demanda sempre crescente, base da indústria global do petróleo, provavelmente desmoronará, o que pode prejudicar os lucros antes do esperado, segundo um gerente de fundos em Londres.

O setor enfrentará uma estagnação da demanda dentro de sete a 10 anos e, com isso, pode perder a capacidade de se reequilibrar quando os preços do petróleo caírem, disse Nick Stansbury, que ajuda a gerenciar US$ 1,3 trilhão na Legal & General Investment Management como chefe de pesquisa de commodities, em entrevista.

A possibilidade de o setor enfrentar taxas de crescimento muito menores em breve é algo que as empresas precisam enfrentar agora porque o ritmo mais lento de crescimento da demanda pode não ser suficiente para estimular preços para o petróleo que justifiquem projetos com ciclos de investimento de uma década, disse Stansbury.

No passado, as quedas dos preços do petróleo estimularam aumentos da demanda porque os consumidores aproveitaram os custos mais baixos. Enquanto isso, o crescimento a longo prazo da economia global e da população continuaram elevando o consumo de petróleo.

Agora o setor pode perder a capacidade de se recuperar completamente dos declínios de preços devido ao pico da demanda global por petróleo, esperado para a década de 2030, mas que poderia até chegar antes que isso.

"O que importa é quando a demanda estagnará, não o ano de pico absoluto", disse Stansbury. "É realmente difícil argumentar que este não seja um problema a curto prazo."

Até mesmo as projeções da BP, uma das maiores petroleiras, mostram que o crescimento da demanda por petróleo cai para cerca de 0,5 por cento ao ano depois de 2025, contra 1,3 por cento atualmente, com a popularização dos veículos elétricos e a melhora da eficiência energética. Stansbury argumenta que esse ritmo mais baixo pode não ser suficiente para elevar os preços do petróleo após uma queda.

As empresas em breve deverão estar prontas para priorizar o retorno de dinheiro aos investidores em vez de investir mais em novos projetos de petróleo e gás ou na tentativa de desenvolver negócios de energia renovável, disse.

"Nos próximos 10 anos, entraremos em um período de incertezas." A Legal & General está pedindo às empresas de energia para "expressar com muita clareza a força de sua alocação de capital".

Com a eletrificação do sistema energético mundial, diferentes partes do setor de petróleo começarão a competir entre si para abastecer um grupo cada vez menor de clientes em meio a preços possivelmente baixos, disse Stansbury.

A mudança será importante para os mercados globais porque o setor de energia foi construído com mais de US$ 10 trilhões em capital de investidores e o setor fornece um quinto de cada dólar pago em dividendos por ações do FTSE 100. Somente em 2017, os investimentos em petróleo e gás totalizaram US$ 716 bilhões, segundo a Agência Internacional de Energia.

--Com a colaboração de Kelly Gilblom.