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Polícia do cobre brinca de gato e rato no deserto do Atacama

Laura Millan Lombrana

18/02/2019 15h23

(Bloomberg) -- Apenas algumas semanas após sua criação, a unidade policial bateu os olhos pela primeira vez nos ladrões de cobre -- as silhuetas de um grupo de homens em uma colina com vista para as linhas férreas --, o que iniciou uma perseguição de carro na calada da noite pelo deserto do Atacama, no Chile.

A perseguição fracassou e a quadrilha desapareceu na escuridão a toda velocidade, mas a polícia ao menos havia impedido um possível assalto de trem.

O incidente faz parte do jogo de gato e rato entre as forças de segurança e os ladrões que se desenrola em uma área do tamanho do Mississippi que produz cerca de um quarto do cobre do planeta. Os roubos dispararam nos últimos anos, quando os ladrões passaram a atacar os trens que transportam o metal vermelho das minas localizadas em altitudes elevadas nos Andes até os portos. Agora a polícia está contra-atacando com a formação dessa nova força-tarefa, em agosto do ano passado.

"Eles podem atacar trens em qualquer lugar simplesmente bloqueando a ferrovia", disse Luis Millapán, vice-comissário que lidera a força de combate ao roubo de cobre. "E então eles pulam para dentro, cortam as cordas que prendem os cátodos e os colocam em vans especialmente adaptadas para suportar o peso."

A nova unidade policial já teve certo sucesso, tendo prendido 11 pessoas e apreendido cerca de 60 toneladas do mineral roubado das próprias minas. Apesar de o grupo não ter conseguido capturar nenhuma das quadrilhas que roubam trens, a vigilância maior fez o número de roubos cair.

Altamente especializados

"Eles são altamente organizados", disse Millapán sobre os criminosos. "Eles usam rádios de alta frequência e roupas especiais para resistir às temperaturas congelantes do deserto e conhecem a área como a palma da própria mão."

Os roubos de trem dispararam. Foram 46 no ano passado, contra apenas um em 2015, segundo o Grupo FCAB, a unidade de logística da empresa Antofagasta que é dona e opera 700 quilômetros de linhas férreas na região. A tendência agora parece estar mudando, já que foram registrados apenas dois roubos neste ano, segundo a polícia.

Os 15 agentes da força-tarefa se revezam para escoltar os trens pelo deserto com seus próprios veículos 4x4. Eles se concentram nos comboios com maior probabilidade de serem roubados -- aqueles que viajam em noites de lua cheia, quando os ladrões não precisam acender os faróis de suas caminhonetes para rastrear os trens. Os condutores dos trens alertam a polícia quando veem movimentos suspeitos perto das ferrovias. Mas, na maioria das vezes, quando os agentes chegam os suspeitos foram embora há muito tempo.

Os ladrões estão atrás de cátodos, que são chapas de cobre quase puras de 80 quilos que valem cerca de US$ 500 cada pelos preços atuais. Depois de roubados, os cátodos são enterrados no deserto e só são recuperados quando a atenção da polícia diminui. O cobre, então, é levado para ferros-velhos locais antes de ser colocado em caminhões, coberto por resíduos e enviado a países vizinhos, como Peru, Bolívia e Argentina.