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Traders recorrem a apps de streaming para negociar milho chinês

Alfred Cang e Lulu Yilun Chen

12/03/2019 14h12

(Bloomberg) -- Os aplicativos de streaming conquistaram a China com vídeos curtos de adolescentes dançando, dublando e fazendo palhaçadas estranhas. Agora, os traders estão usando-os para prever o futuro dos preços dos grãos.

Por exemplo, um fazendeiro da zona rural no nordeste do país usa seu telefone para filmar caminhões em fila, prontos para carregar montes de milho dourado. A cerca de 3.200 quilômetros de distância, em seu escritório em Shenzhen, Honda Wei observa atentamente, examinando os comentários entusiasmados do produtor e as imagens dos campos em busca de pistas sobre a oferta e a demanda.

"Isso nos dá informações intuitivas sobre os mercados domésticos", disse Wei, 33, sobre sua experiência no aplicativo Kuaishou, uma plataforma de vídeos curtos financiada pela gigante da tecnologia Tencent Holdings. "Os traders estão buscando correlações entre o sentimento dos agricultores e a flutuação dos preços futuros."

Com mais de 700 milhões de usuários combinados, os apps Kuaishou e Douyin, da Bytedance, oferecem uma enorme fonte potencial de informações no pouco transparente mercado chinês, onde os dados do governo nem sempre são os mais confiáveis ou eficientes. Recorrendo também a redes sociais, como Weibo, os traders coletam informações sobre plantações de safras, colheitas, estoques e vendas em tempo real, em vez de passarem horas fazendo pesquisas por telefone ou visitas presenciais, como era necessário antigamente.

Redes sociais

"A comunidade dos traders monitora os agricultores, que compartilham seu sentimento nas redes sociais", disse Zhang Yan, analista da Shanghai JC Intelligence, que acompanha usuários no Kuaishou.

Embora internacionalmente os traders tenham usado o Twitter para rastrear oportunidades, reagindo a tudo, desde incêndios em refinarias e encalhamentos de navios até o sentimento do mercado acionário, isso não é uma opção na China, país onde a rede social com sede nos EUA está bloqueada.

Em sua avidez por dados, muitos traders na China recorreram aos aplicativos de streaming, porque os agricultores começaram a se filmar para estar em contato com outros e ajudar a melhorar a produtividade, gerenciar custos e maximizar os lucros. Mudanças no mercado interno de commodities contribuíram para essa tendência.

Em 2016, o país aboliu seu programa de armazenamento de milho na região nordeste para deixar que o mercado definisse os preços. Em vez de comprar a produção, o governo agora concede subsídios aos agricultores para incentivá-los a plantar. Os rendimentos na China são contidos pela restrição de variedades geneticamente modificadas e por limites às transferências de terras, o que contribui para a sensibilidade do mercado interno.

Os mistérios da produção e da estocagem no principal comprador de commodities têm confundido traders e analistas, agitando os mercados globais. O milho oscilou amplamente em novembro, quando o Departamento de Agricultura dos EUA revelou grandes mudanças nos números do estoque mundial depois que a China ajustou as estatísticas da última década.

Isso tornou a disseminação e a coleta de informações nas redes sociais uma prática comum.

Em novembro, quando os preços de referência do milho na China atingiram o patamar mais alto em mais de três anos, traders com gigantes do setor -- como Archer-Daniels-Midland, Cargill e Cofco -- começaram a intercambiar vídeos. Houve uma correlação entre os vídeos que mostravam a estocagem dos agricultores e os movimentos reais dos preços, e isso bastou para estimular os traders a instalar os aplicativos. No mês passado, o contrato de futuros mais ativo da Dalian Commodity Exchange caiu 10 por cento em relação ao pico e atingiu o ponto mais fraco desde julho.

--Com a colaboração de David Ramli.

Repórteres da matéria original: Alfred Cang em Cingapura, acang@bloomberg.net;Lulu Yilun Chen em Hong Kong, ychen447@bloomberg.net