Argentina cria solução polêmica para efeitos da seca no trigo
(Bloomberg) -- A Argentina acredita ter uma solução para as secas que assolaram os grandes produtores de trigo do Mar Negro à Austrália. O problema? Ela não será facilmente aceita.
A startup de tecnologia agrícola Bioceres criou uma planta de trigo geneticamente modificada capaz de resistir à seca e de oferecer maiores rendimentos aos agricultores. No entanto, embora a soja e o milho geneticamente modificados, que são usados principalmente para alimentar animais, sejam amplamente plantados e comercializados, o setor agrícola não quer se arriscar com o trigo, que é consumido diretamente pelos seres humanos.
O governo e o setor agrícola da Argentina querem estimular o potencial do país como líder global em tecnologia de agricultura e sementes. Mas cultivar trigo geneticamente modificado poderia levar compradores globais a rejeitar a oferta argentina. No ano passado, o Japão e a Coreia do Sul suspenderam as compras do Canadá depois da descoberta de plantas geneticamente modificadas na região produtora de trigo.
O desejo de aprovar a semente da Bioceres existe, disse Luis Urriza, subsecretário de agricultura da Argentina. "Mas tem um risco para o comércio. Precisamos de garantias de nossos mercados de exportação."
Enquanto avalia a adoção de organismos geneticamente modificados, a Argentina está ganhando destaque como produtora de trigo. O país colheu o recorde de 19 milhões de toneladas nesta temporada, mais até que a Austrália, importante rival. Apenas um terço disso é consumido internamente, e o restante é exportado, principalmente para o Brasil, que comprou 5,9 milhões de toneladas até dezembro.
O trigo geneticamente modificado é ilegal no Brasil. A Bioceres solicitará a aprovação de sua semente, HB4, às autoridades da maior economia da América do Sul neste mês, após um lançamento comercial no fim do ano passado, disse o CEO Federico Trucco em entrevista.
Se o Brasil estiver disposto a receber remessas, talvez isso baste para que a Argentina aprove a HB4, disse o subsecretário Urriza. Mas os exportadores querem a aprovação de mais partes porque, mesmo com o auge recente, a Argentina ainda representa apenas 8 por cento do comércio global, portanto, os principais importadores poderiam substituí-la facilmente.
"Um acordo só com o Brasil não é suficiente", disse Gustavo Idigoras, diretor da Ciara-Cec, a câmara de processamento e exportação de safras da Argentina. Entre os membros da associação há partidários do setor agrícola como a Cargill e a Bunge.
Para ganhar alavancagem global, a Argentina deveria trabalhar com outros países produtores na criação de um consórcio de exportadores de trigo geneticamente modificado, disse Idigoras.
Contaminação
Se o Brasil aceitar a HB4, um dos maiores problemas seria impedir que cargas não-transgênicas sejam contaminadas. Se a HB4 for detectada em remessas para países que não a aprovaram, os preços do trigo da Argentina provavelmente cairiam.
David Hughes, diretor de produção de trigo argentino e da câmara de comércio ArgenTrigo, disse que não vê um benefício econômico para os agricultores, porque isolar o trigo geneticamente modificado aumentaria os custos de logística deles sem que as tradings pagassem um prêmio.
"Ser o primeiro sempre dá medo", disse o CEO Trucco. "Não queremos ser uma empresa que imita as outras. Temos que desafiar o status quo."
--Com a colaboração de Megan Durisin e Lydia Mulvany.
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