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Odebrecht não avança diálogo para reestruturar dívida: Gramercy

Davide Scigliuzzo e Pablo Gonzalez

19/03/2019 07h00

(Bloomberg) -- Após o não-pagamento de novembro, a gigante Odebrecht Engenharia e Construção parecia determinada a agir rapidamente para negociar com os credores.

Um mês depois, a empresa começou a conversar com alguns dos maiores detentores de seus títulos de dívida externa, concedendo-lhes acesso a informações confidenciais e concordando em reembolsar comissões. Os dois lados mantiveram negociações como um prelúdio para uma reunião em Nova York em 27 de fevereiro, quando a companhia brasileira deveria apresentar sua proposta para reestruturar cerca de US$ 3 bilhões em dívidas.

No entanto, a Odebrecht não estava pronta. A empresa se dispôs a realizar um encontro apenas se o grupo de detentores de títulos da dívida prolongasse as discussões por mais um mês e, quando eles se recusaram, a reunião foi cancelada. Com títulos que estão sendo negociados a apenas 15 centavos de dólar, o maior credor da Odebrecht está ficando impaciente.

"Eles não parecem prontos para se engajar totalmente", disse Robert Rauch, sócio da Gramercy Funds Management, empresa sediada em Greenwich, Connecticut, que lidera o grupo de detentores de títulos da dívida externa, em uma entrevista. "É importante chegar a uma solução o mais rápido possível, porque, caso contrário, não será fácil para eles finalizar acordos adicionais e conquistar novos negócios."

A Odebrecht está com pouco caixa. A redução de gastos em projetos de infraestrutura na América Latina pressionou seus negócios, além dos bilhões de dólares em multas que a empresa e sua controladora concordaram em pagar como resultado de um escândalo de corrupção em 2014. Sem uma reestruturação ou renegociação de suas dívidas, a empresa provavelmente terá que entrar em recuperação judicial, disseram analistas da S&P Global Ratings em um relatório de novembro.

'Não viável'

A Odebrecht "continua comprometida em discutir e negociar uma transação de reestruturação" com o grupo de detentores de títulos, disse uma porta-voz da empresa.

Depois que o período de discussões terminou, o grupo liderado pelo Gramercy fez sua própria proposta de reestruturação este mês. O plano oferece à companhia uma prorrogação de quatro anos nos vencimentos da dívida e nenhum desconto no seu valor de face. Ele permite que os pagamentos de juros sejam feitos por meio da emissão de bônus adicionais em vez de dinheiro.

A Odebrecht chamou a oferta de "não viável", dizendo que está "finalizando uma abrangente proposta de reestruturação que satisfaria adequadamente suas necessidades de curto e longo prazo".

'Cofrinho'

A Odebrecht se prepara para apresentar essa oferta até o final de março, segundo uma pessoa com conhecimento direto do plano, que pediu para não ser identificada porque o assunto não é público. Rauch, da Gramercy, disse que os credores estão dispostos a retomar as negociações e espera que a empresa volte a se engajar até o final do mês.

"Nossa proposta foi estruturada para funcionar dentro da estrutura do plano de negócios que a empresa detalhou para nós em fevereiro", disse Rauch.

Entre os aspectos mais controversos da proposta do grupo estão as sugestões para que a controladora faça uma injeção de US$ 375 milhões em dinheiro na unidade de construção e para que seja feito um bloqueio nos pagamentos de dividendos à matriz da Odebrecht até que os títulos reestruturados sejam integralmente pagos.

"O grupo Odebrecht usou a construtora como seu cofrinho", disse Rauch, citando US$ 2,2 bilhões em empréstimos entre companhias que são devidos à unidade de construção pela holding e afiliadas do grupo. "Os credores não estão pedindo uma injeção de capital ou um presente, mas a controladora deve fazer um pagamento parcial desses empréstimos."

Os detentores de títulos também pediram em garantia ações da Odebrecht da petroquímica Braskem, que a empresa brasileira tem negociado para vender. Eles também querem que a controladora pague qualquer multa aplicada a ela com seu próprio dinheiro.

A Odebrecht, que ainda não divulgou detalhes de sua proposta, considera a imposição de cortes "agressivos" no principal da dívida e um leque de opções, incluindo uma troca de dívida por ações, segundo a Bloomberg. A holding não negociada em bolsa também está reestruturando mais de R$ 5 bilhões de sua própria dívida.