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Peste suína provoca descolamento dos mercados agrícolas

Michael Hirtzer

22/04/2019 16h12

(Bloomberg) -- Os mercados agrícolas andaram relativamente juntos durante anos, mas finalmente entraram em descompasso.

Com anos de excesso de oferta, os contratos futuros de grãos continuam desvalorizados e os fundos de hedge se posicionam para quedas adicionais nos preços de milho, soja e trigo. Já uma doença fatal para suínos que se espalha pela China elevou as projeções para os mercados de proteína animal, diante da perspectiva de faltar produto. As apostas líquidas na apreciação da carne suína atingiram o maior patamar desde janeiro de 2018. No caso do gado bovino, as apostas líquidas na alta estão em nível recorde.

O alinhamento de longa data entre preços de ativos começou a se romper. Os contratos para entrega futura de milho e suínos, por exemplo, apresentam correlação negativa pela primeira vez desde agosto de 2017. Isso pode favorecer pecuaristas, como a brasileira JBS, que deve aproveitar a queda do custo da ração e a maior demanda por proteína.

No que o mercado está de olho:

Suínos

Desde que a peste suína africana começou a se alastrar pela China em agosto, mais de 1 milhão de porcos foram sacrificados no maior produtor e consumidor global de carne suína. Frigoríficos do mundo todo estão vendendo para o país asiático para cobrir a escassez causada pela doença. Com isso, a oferta diminuiu nos EUA e Europa, pressionando os preços para cima. Os contratos futuros em Chicago para entrega em junho acumulam alta de 19 por cento neste ano.

Os fundos de hedge esperam mais valorização. Na semana encerrada em 15 de abril, investidores tinham posição líquida comprada em suínos equivalente a 58.532 contratos futuros e opções, segundo dados apresentados na sexta-feira pela Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC). O número --que mede a diferença entre apostas na alta e na queda de um preço-- sobe há seis semanas consecutivas.

Bovinos

Com a disparada no mercado de suínos, especula-se sobre o aumento da demanda pelas demais proteínas. O preço da carne bovina já vinha avançando neste ano, embalado pela voracidade do consumidor americano. Agora, as apostas na continuidade dessa valorização estão em nível recorde, com posição líquida comprada de 152.634 contratos, de acordo com a CFTC.

"Há uma posição comprada líquida extrema no momento e até a tendência ceder, a expectativa é de alta de preços", disse Brian Hoops, analista sênior de mercados da Midwest Marketing Solutions, em Springfield, no Estado americano do Missouri.

Milho

Os gestores de recursos nunca estiveram tão pessimistas em relação ao mercado de milho. As posições líquidas vendidas são as maiores desde o início dos registros pela CFTC, em 2006. Nesta segunda-feira, o preço futuro caiu pela terceira vez em quatro pregões, recuando 0,3 por cento. No Centro-Oeste americano, os silos estão abarrotados e os produtores enfrentam maior concorrência com Brasil e Argentina. Ainda assim, o pessimismo extremo pode deixar o mercado vulnerável a um movimento de cobertura de posições vendidas se houver algum imprevisto durante a temporada de desenvolvimento das plantações nos EUA nos próximos meses.

A avaliação da Bloomberg Intelligence:

"O rápido aumento das exportações de suínos reduz a demanda por milho no curto prazo, mas esse nível de posições compradas deixa pouco espaço para condições não tão favoráveis para a produção" durante o terceiro trimestre. --Mike McGlone, analista de commodities