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Explosões ameaçam vantagem das baterias de íon-lítio

Brian Eckhouse e Mark Chediak

24/04/2019 09h55

(Bloomberg) -- Outra bateria de íon-lítio explodiu. Desta vez foi em um complexo de armazenamento de energia nos EUA.

Pelo menos 21 incêndios foram registrados em projetos de baterias na Coreia do Sul, de acordo com a BloombergNEF. Este último, ocorrido na sexta-feira em uma propriedade da Pinnacle West Capital, na cidade de Surprise, no Arizona, foi o primeiro nos EUA desde que essas baterias ganharam o mundo.

Enquanto autoridades locais exigem respostas e empresas investigam as causas, analistas se perguntam se novos episódios podem ameaçar o futuro da tecnologia de íon-lítio, a única que se provou capaz de popularizar o armazenamento de energia em baterias.

"Se esses incêndios continuarem acontecendo, não é bom para o setor no curto prazo e o mercado de armazenamento quase certamente vai se desacelerar", disse Ravi Manghani, analista da Wood Mackenzie Power & Renewables. "À medida que outras tecnologias amadurecem e os custos diminuem, isso com certeza vai corroer a vantagem do íon-lítio."

As explosões ocorrem em momento particularmente inoportuno para o setor. A queda dos preços de íon-lítio é o principal fator por trás do sucesso global do mercado de baterias. Os custos caíram a tal ponto que as baterias concorrem com usinas convencionais. Fazendas solares, distribuidoras de eletricidades e proprietários de imóveis compram esses equipamentos para ter retaguarda em caso de fornecimento intermitente de energia renovável. No caso da Arizona Public Service, pertencente à Pinnacle West, o objetivo é adicionar 850 megawatts de armazenamento até 2025 - o suficiente para abastecer mais de 600.000 residências de uma vez.

Mas essa meta foi estabelecida antes do incêndio da sexta-feira passada. Na terça-feira, a Arizona Public Service informou o órgão estadual que regula distribuidoras de eletricidade que paralisou dois outros sistemas de baterias após a explosão, que feriu pelo menos quatro bombeiros. A APS não definiu a causa do acidente, mas a porta-voz Jill Hanks adiantou que provavelmente houve algum tipo de "falha de equipamento".

O sistema que está sendo investigado foi instalado pela Fluence, joint venture da AES e da Siemens.

A APS pretende seguir adiante com os planos de instalar mais baterias, disse o presidente Jeff Guldner durante audiência na terça-feira.

Avaliação da BloombergNEF: "Se distribuidoras de eletricidade e autoridades reguladoras determinarem que o armazenamento de energia é inseguro, gigawatts em projetos de armazenamento planejados estarão ameaçados." --Logan Goldie-Scot, analista de armazenamento de energia da BNEF em São Francisco, na Califórnia

Na Coreia do Sul, modelos defeituosos de baterias, choques externos durante a construção e sistemas falhos de gestão de baterias contribuíram para incêndios em fábricas, segundo Goldie-Scot.

Os incêndios coincidem com uma fase de avaliação mais rigorosa das baterias de íon-lítio de menor porte, como as usadas em carros elétricos. Nesta semana, a Tesla informou que investiga um sedã que pegou fogo na China.

Tecnologias rivais podem aproveitar a situação para vender mais. Tom Stepien, presidente da Primus Power, empresa de baterias que usa uma tecnologia chamada flow, rapidamente apontou os "riscos inerentes de incêndio" dos equipamentos de íon-lítio após o acidente de sexta-feira. Ele conta que, por esse motivo, passageiros são alertados para não entrar com essas baterias nos aviões.

Concorrência

Há uma enorme variedade de novas tecnologias que visam superar a de íon-lítio em performance e custo, explicou Jeff Chamberlain, presidente da Volta Energy Technologies, companhia apoiada pela Exelon que avalia e testa novas aplicações de armazenamento de energia.

Mas o predomínio das baterias de íon-lítio não será facilmente derrubado. Anualmente, a tecnologia é usada em mais de 85 por cento dos projetos de armazenamento de energia desde 2016, segundo a BloombergNEF. E outras tecnologias carregam seus próprios perigos potenciais.

--Com a colaboração de David R. Baker.

Repórteres da matéria original: Brian Eckhouse em New York, beckhouse@bloomberg.net;Mark Chediak em San Francisco, mchediak@bloomberg.net