Sanções de Trump geram longa espera por gasolina em Damasco
(Bloomberg) -- A estrada para Damasco da fronteira com o Líbano não deixa dúvidas sobre quem venceu a guerra que obscureceu o Oriente Médio por oito anos. "Bem-vindo à vitoriosa Síria", diz um outdoor com uma foto do presidente Bashar al-Assad radiante, sobreposto à bandeira vermelha, branca e preta do país.
Em vez de um frenesi de reconstrução e promessa de reavivamento, os sírios estão lutando outra batalha. Traumatizados pela violência, tentam sobreviver em uma economia dizimada que não mostra sinais de reavivamento iminente e nenhuma esperança de paz no horizonte.
As Nações Unidas estimam que o país precisa de mais de US$ 250 bilhões em ajuda para fazer a economia funcionar novamente, o tipo de dinheiro que seus aliados do tempo de guerra, Irã e Rússia, são incapazes de fornecer. Os EUA de Donald Trump vêm revirando a situação financeira de seus adversários, esta semana tirando isenções de embargo para compradores de petróleo iraniano.
O governo de Teerã, que ampliou as linhas de crédito para Damasco nos últimos anos para comprar petróleo e apoiar a economia, está sob novas sanções americanas que proíbem a passagem de navios de ajuda para a Síria. O impacto em Damasco, onde a guerra terminou há um ano com a derrota dos combatentes nas cidades vizinhas, é impressionante.
A cidade que costumava pulsar com vida na primavera, carrinhos cheios de amêndoas frescas, pessoas fumando narguilé em cafés ao ar livre e famílias desfrutando de piqueniques, ficou sem vida. Os vendedores no antigo bazar da cidade reclamam de vendas miseráveis. Os bares que lotavam com clientes estavam em grande parte vazios. Aumento dos cortes de energia forçaram as lojas a ter geradores. Não há quase trânsito. O moral está baixo.
"Pensei que uma vez que a guerra terminasse, nossa moeda voltaria mais forte e melhoraria nosso padrão de vida", disse Saeed al-Khaldi, que transporta legumes pela extensa cidade. A população de Damasco quase dobrou desde o início da guerra, para mais de 6 milhões, quando os civis fugiram da violência para outras regiões. "Em vez disso, estamos vivendo de uma crise para outra."
A crise da gasolina representa um desastre para al-Khaldi. Tendo perdido sua loja de móveis e duas casas nos arredores da capital em 2013, ele está prestes a perder seu sustento novamente. "Eu gastei 19 horas ontem esperando para obter 20 litros de gasolina", disse recentemente em um dia fresco e arejado em Damasco. "Não é o suficiente para que eu consiga circular."
Perto dali, Salem Saleh, um funcionário do governo, de 50 anos, estava deixando a quitanda de mãos vazias. "Vim para comprar frutas e legumes, mas não consegui porque tudo é muito caro", disse Saleh.
Segundo estimativas da ONU, 83% dos sírios vivem abaixo da linha da pobreza, em um país onde pão, produtos derivados de petróleo e produtos básicos como chá, arroz e açúcar são subsidiados pelo governo.
"Na Síria, a pobreza está aumentando, a infraestrutura básica de serviços está destruída, e a malha social está no limite", disse Achim Steiner, um administrador da ONU, no mês passado.
Robert Ford, um ex-embaixador dos EUA na Síria, disse que o governo de Trump é muito mais agressivo do que o de Obama, impondo penalidades mais secundárias para aqueles que fazem negócios com pessoa física ou empresas sob sanção. Mas, o governo sírio está mantendo a fachada de normalidade que conservou durante todo o conflito. Um ex-parlamentar, Fayez Sayegh, disse que "a Síria nunca cederá à pressão".
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