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Bradesco ganha corrida para financiar aquisições no Brasil

Cristiane Lucchesi e Felipe Marques

02/05/2019 07h00

(Bloomberg) -- Os bancos brasileiros estão liderando o mercado de financiamento de aquisições, oferecendo empréstimos em condições mais vantajosas já que as taxas de juros locais em recorde de baixa lhes dão uma vantagem que Wall Street não consegue igualar.

A compra pela Engie do gasoduto TAG, da Petrobras, é um exemplo disso. Quando ficou claro que a empresa francesa de energia estava à frente na transação, Bruno Boetger, executivo do Banco Bradesco, se reuniu com executivos da Engie em Paris, oferecendo financiamento para a compra com proposta que batia até mesmo a do assessor da empresa no negócio, o Citigroup. Quando a Engie venceu os concorrentes e levou o negócio em abril, os bancos brasileiros ficaram com a maior parte do financiamento de US$ 8,6 bilhões. Bancos japoneses e europeus participaram, mas os dos EUA ficaram totalmente de fora.

"Temos uma vantagem competitiva sobre os bancos internacionais agora porque temos financiamento local de longo prazo mais barato, que pode se adequar perfeitamente às necessidades de nossos clientes", disse Henrique Leme Pinto Lima, responsável pelo banco de investimento do Banco Bradesco BBI. A vantagem é ainda mais pronunciada quando a empresa que está sendo adquirida é uma companhia que gera a maior parte de sua receita na moeda local, disse ele.

Os bancos brasileiros estão com muito dinheiro em caixa por causa do crescimento tímido dos empréstimos nos últimos anos, dada a pior recessão já registrada no país. As instituições estão usando essa disponibilidade para oferecer empréstimos denominados em moeda local a um custo menor do que o equivalente em dólares, com vencimentos de até sete anos, em vez dos habituais empréstimos-ponte de curto prazo que têm sido uma prática mais usual.

O Bradesco, que tem a maior carteira de empréstimos corporativos do país entre os bancos de capital aberto e foi o assessor financeiro número 1 em fusões e aquisições no ano passado, financiou mais de R$ 20 bilhões em transações desde o começo de 2018, segundo dados compilados pela Bloomberg. E mais está por vir.

"Conseguimos oferecer cheques enormes para nossos clientes, com estruturas que envolvem crédito e swaps para dólar", disse Marcelo Noronha, vice-presidente executivo responsável pelo banco corporativo e de investimento no Bradesco.

A carteira de empréstimos do Bradesco para as maiores empresas do Brasil aumentou quase 15% nos 12 meses até março, para R$ 248,4 bilhões, enquanto o Banco Santander Brasil teve uma queda de 3,6%, para R$ 86,9 bilhões. No Itaú Unibanco Holding, que ainda não divulgou os números do primeiro trimestre, a carteira teve uma retração de 4,7%, para R$ 191,6 bilhões no ano passado.

O apoio do Bradesco foi decisivo para que a italiana Enel SpA apresentasse a proposta vencedora no ano passado para comprar 73% da Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo, a empresa de distribuição de energia, por R$ 5,5 bilhões. Após a aquisição, o banco também ajudou a Eletropaulo a pedir um waiver aos credores e melhorar seu perfil de dívida.

Entre outros importantes empréstimos para aquisições nos últimos meses:

  • A companhia de papel e celulose Suzano concordou em março de 2018 em comprar a Fibria Celulose para criar uma potência industrial. Em vez de rolar parte de US$ 9,2 bilhões em financiamento de aquisições usando títulos globais, como tinha planejado inicialmente, a Suzano conseguiu R$ 4,68 bilhões em crédito do Bradesco e fez um swap para dólar. A empresa também fez uma emissão de R$ 4 bilhões de títulos no mercado local sob a liderença do Banco do Brasil
  • O Bradesco financiou a aquisição de R$ 1,9 bilhão da empresa de energia Cia. Energética de São Paulo pela Votorantim Energia em conjunto com o Canada Pension Plan Investment Board em um leilão em outubro
  • O Bradesco, juntamente com o Itaú, participou do financiamento de R$ 5,5 bilhões para a aquisição da Somos Educação pela Kroton Educacional em abril do ano passado
  • Junto com o Rabobank e o ING, o Bradesco ajudou a financiar a aquisição pela Marfrig Global Foods de 51% da National Beef por US$ 969 milhões, em acordo anunciado em junho
  • A EDP Energias do Brasil vendeu oito pequenas centrais hidrelétricas no estado do Espírito Santo por R$ 704 milhões para a Statkraft AS em outubro. O Bradesco, assessorando a EDP, já era credor das usinas hidrelétricas, reestruturou o perfil da dívida das usinas e fez novos empréstimos à Statkraft

"O mercado está muito competitivo - quando o crédito é bom todo mundo quer entrar", disse Miguel Queen, co-responsável pelo banco corporativo do Citigroup no Brasil, que está ganhando participação de mercado em financiamentos de aquisição denominados em reais apesar da competição do Bradesco.

O Citigroup foi o único provedor de um empréstimo de R$ 900 milhões, aprovado em apenas duas semanas, para a prestadora de serviços de saúde Notre Dame Intermédica Participações adquirir a concorrente Green Line Group, avaliada em R$ 1,2 bilhão, incluindo dívidas. O negócio foi anunciado em setembro.

O banco sediado em Nova York também está oferecendo transações denominadas em dólar. O Citigroup, juntamente com o JPMorgan Chase & Co., está entre os credores que financiaram a Raízen para a aquisição de US$ 916 milhões em ativos de refino e distribuição da Shell Argentina, disseram pessoas com conhecimento do assunto em outubro.

"O mercado de M&A está pronto para crescer este ano e a disponibilidade de crédito local abundante no Brasil é um dos principais motores", disse Boetger.