Brasileiros evitam lojas reabertas enquanto vírus se alastra e afeta economia
O esforço agressivo do Brasil para reabrir a economia antes de controlar o coronavírus está gerando apenas ganhos modestos até agora, com a recuperação de apenas parte das quedas históricas da produção industrial e das vendas do varejo.
Rio de Janeiro a Brasília estão reduzindo as restrições ao comércio, no momento em que novos casos de covid-19 pairam perto de recordes. Enquanto a Organização Mundial da Saúde adverte sobre a manutenção do pico da pandemia, até o presidente Jair Bolsonaro testou positivo para o vírus na terça-feira.
Uma recuperação modesta vista em maio já perdeu força em junho, disse o diretor do Banco Central Fabio Kanczuk na semana passada, descartando a possibilidade de uma recuperação em forma de "V". Como descobriram os donos de empresas que estão tentando retomar as operações, o medo de ser contaminado pelo vírus mantém muitos clientes em casa, mesmo com a reabertura das lojas.
"Podemos ter o pior dos dois mundos", disse Andre Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos. "A recuperação econômica pode não acontecer rapidamente, e o vírus pode ficar conosco por mais tempo."
A reabertura está ocorrendo quando o número de novas infecções ultrapassa os 40.000 por dia, próximo ao recorde diário nos EUA, ainda que o Brasil tenha mais de 100 milhões de habitantes a menos. Em comparação, o Peru está afrouxando as restrições ao comércio, com sua média de cinco dias de novos casos de vírus diminuindo, enquanto a Argentina estendeu seu lockdown depois que as infecções aumentaram.
Mensagens de clientes
No Distrito Federal, lojistas tentam atrair clientes em meio ao aumento de mais de 3% ao dia de casos de vírus no início de julho. Em comparação, o estado de Nova York está afrouxando as restrições ao comércio, diante de aumentos diários bem abaixo de 1%.
Marcel Rates é um dos lojistas que tentam reaquecer os negócios diante da crise da saúde. Quando Rates reabriu suas lojas de cachaça em Brasília, pensou que sua oferta de produtos especiais, juntamente com medidas extras de segurança, como álcool gel para desinfetar as mãos, atrairia rapidamente os clientes de volta.
Em vez disso, ele recebeu um fluxo de mensagens de compradores preocupados, querendo saber o quão cheia suas lojas estão antes de se decidirem a fazer compras presencialmente. Aqueles que entram em suas lojas gastam menos em visitas mais curtas, com medo de serem expostos ao coronavírus. "E o que foi apresentado pelo governo no crédito não está sendo suficiente até agora", disse ele.
'Fator medo'
Nacionalmente, a confiança do consumidor medida pela Fundação Getúlio Vargas, está em nível semelhante ao sentimento pessimista captado na recessão do Brasil no período 2015-2016.
"O fator medo é uma questão difícil de responder e é muito importante", disse o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a repórteres em 25 de junho. "Isso estará conosco até o ano que vem."
Os pequenos empresários não são os únicos que têm sentido uma demora no reaquecimento da demanda em meio à pandemia. Ruy Kameyama, CEO da operadora de shoppings centers BR Malls Participações, disse que os fluxos e as vendas caíram 50% em comparação com os níveis pré-vírus e que os compradores estão gastando menos tempo nas lojas, de acordo com a transcrição de uma teleconferência sobre o balanço da empresa, em 5 de junho.
"Levará tempo para que o consumo volte aos níveis pré-pandemia", escreveu Gersan Zurita, vice-presidente sênior da Moody's Investors Service, em relatório datado de 8 de julho. O desemprego e a incerteza em torno da duração e da gravidade da pandemia jogaram a confiança do consumidor para níveis recordes de baixa, disse ele.
"Ninguém quer passear pelo zoológico se o leão estiver solto", disse Adriana Dupita, economista da América Latina da Bloomberg Economics. Os esforços pela reabertura não trazem necessariamente os consumidores de volta às lojas e aos restaurantes, especialmente se o risco de contágio ainda existir, disse ela.
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