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Cervejas artesanais, o vício pequeno-burguês que se infiltra na China

29/02/2016 06h07

Javier Borràs.

Pequim, 29 fev (EFE).- Os garçons servem pequenos copos de cerveja chegada da Europa, Japão ou Nova Zelândia a centenas de degustadores reunidos no Festival de Cervejas Artesanais de Pequim, em um brinde pelo auge deste vício pequeno-burguês na terra de Mao Tsé-Tung.

O sabor amargo e substancioso da cerveja artesanal é cada vez mais popular na China, onde florescem as marcas locais e está na moda beber uma "ale" anglófila ou uma "lager" com toques "bitter".

Carl Setzer, organizador do evento e fundador da cervejaria Great Leap, explicou à Agência Efe o objetivo do festival realizado no último final de semana: apresentar ao mercado local as cervejas artesanais de fora de Pequim, já que - segundo diz - há certa reticência em relação a essa produção.

Setzer foi um dos pioneiros em assentar o bem-sucedido negócio das cervejas artesanais em Pequim. Seu modelo de negócio se baseia em integrar sabores e nomes chineses na produção desta elaborada bebida.

Os nomes de suas cervejas brincam com termos ou histórias da cultura chinesa tradicional, como "Buda de Ferro", "Pequeno General" ou "Abóbora Imperial", além de acrescentar toques de especiarias, frutas exóticas e chá local.

O aumento da classe média chinesa e seu poder aquisitivo, e sua atração pelas tendências de consumo ocidentais, vistas como modernas, são alguns dos fatores que explicam o auge deste tipo de bebida, que homens de negócio e estudantes de intercâmbio chineses já experimentaram, por exemplo, nos Estados Unidos, berço das cervejas artesanais.

Cabe lembrar que a China é o maior consumidor mundial de cerveja, com mais de 54 bilhões de litros anuais, segundo dados do Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais do Reino Unido, seguida à distância pelos EUA, com 24 bilhões, e o Brasil, com 14 bilhões.

Mesmo assim, quando se olha o consumo por habitante, o nível não é alto demais, já que países asiáticos como o Japão, Coreia do Sul e Vietnã são mais apaixonados pela amarga bebida.

Este fator faz da China um mercado cervejeiro "pouco maduro", disse à Efe Chandler Jurinka, criador da marca Slow Boat, uma das mais conhecidas na China, razão pela qual o negócio tem uma "vantagem competitiva" ao poder aspirar muitas mais vendas, algo que seria difícil em países onde o consumo de cerveja já está consolidado.

"Nossa cerveja mais vendida é a Monkey Fest. É forte, amarga e com toques de manga e maracujá", declarou Jurinka, que como a maioria dos empresários que adentraram neste negócio na China é estrangeiro, e revela com orgulho que seu novo projeto é criar uma cerveja com sabor de lichia.

Preparar cervejas artesanais "com características chinesas" é uma atitude habitual neste negócio - já estendido nos grandes centros urbanos do país, como Xangai - embora também haja mestres cervejeiros que se afastam desta tendência.

É o caso de Thomas Gaestadius e Will Yorke, um sueco e um inglês que após trabalharem como DJs pelos clubes de Pequim e criar salsichas artesanais, começaram a fabricar sua própria cerveja olhando vídeos pela internet e usando panelas de cozinha.

"Não queremos fazer coisas só por fazer" afirmaram à Efe, criticando a "tentação" de pôr sabores ou ingredientes chineses em cada cerveja de sua marca, chamada Arrow Factory.

Por enquanto, a maioria de seus clientes são estrangeiros - "os chineses chegam depois", disseram - e a dupla garante que não vai variar seu estilo para oferecer um "toque chinês" ao produto ou acrescentar um ingrediente exótico em cada cerveja.

"Qualquer um poderia também colocar laranja em um molho carbonara", criticaram às gargalhadas.

A dupla parece não ter medo de ser tachada de "simples" ou "pouco chinesa", e compara a fabricação de cerveja com a música eletrônica: "Se você faz algo bom, as pessoas virão".