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Empregados de plataformas petrolíferas: a alma de um setor em crise no México

22/04/2016 06h02

Edgar Ávila Pérez.

Ciudad del Carmen (México), 21 abr (EFE).- As imponentes estruturas das plataformas petrolíferas mexicanas e o barulho de suas poderosas máquinas se sobressaem na imensidade do mar e rompem o silêncio do Golfo do México, onde 16 mil trabalhadores lutam por um setor em crise, afastados de suas famílias.

Como pôde constatar a Agência Efe em uma visita às instalações da estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) na região, o exército de homens e mulheres enviado ao local quase não se distingue na massa de ferros retorcidos que penetram nas águas e extraem do fundo do mar "o ouro negro" que não deixa de fluir.

Dentro das plataformas, as folhas com rabiscos de filhos deixados em terra ou as cartas de amores distantes ficam penduradas nas paredes das dependências desses "guerreiros do petróleo".

"É muito ruim deixá-las, abandoná-las, mas elas sabem que é por um bem, pelo bem da família", disse com um nó na garganta Javier Torres, um funcionário que tem duas filhas.

Das praias de Ciudad del Carmen, cidade litorânea do estado de Campeche (sudeste do México), as plataformas petrolíferas parecem minúsculas, mas quando se aproxima delas de helicóptero são imponentes por seu tamanho e quantidade.

Elas abrigam milhares de pessoas que, ao deixarem suas famílias, adotam seus companheiros para criar um segundo lar que se torna inquebrantável.

A psicóloga industrial Carla Ivón Soriano Roldan, uma das seis mulheres em alto-mar, explicou à Efe que muitos deles "trazem lembranças, desenhos de sua família", para não deixar essa parte de sua vida "isolada".

Nesta porção generosa do Golfo do México, a uma distância de cerca de 100 quilômetros do litoral, o "mar" de poços, plataformas, centros de produção e distribuição petrolífera parece interminável do ar.

São como células dispersas, mas unidas ao mesmo tempo por 1.400 poços e 950 jazidas petrolíferas.

A jazida Ku Maloop Zaap, que a Efe visitou, é a ponta de lança da Sonda de Campeche, a principal região produtora de hidrocarboneto do país, com uma contribuição de 70% ao total nacional.

Do espelho de água emergem as casas dos trabalhadores como grandes hotéis construídos sobre pilares elevados que os resguardam da maré.

Os dormitórios são pequenos, mas cômodos, com quatro beliches e um banheiro com ducha. A imagem lembra os camarotes dos grandes navios de passageiros, embora aqui não haja balanço.

A sombra do estresse laboral sempre está presente, mas a Pemex combate essas situações com todo tipo de distrações, exceto álcool e cigarros, dois produtos proibidos e que podem custar aos funcionários seu emprego e até sua morte se causarem um acidente.

No café da manhã, as maçãs, peras, uvas e goiabas saltam à vista no amplo refeitório que oferece pratos típicos de diferentes regiões mexicanas ou ovos mexidos com presunto, chouriço e toucinho.

"É muito harmonioso e há muito trabalho aqui, mas também muito estresse e ansiedade", contou Carla, outra mulher que vive na plataforma junto com seus 214 companheiros homens, que as recebem com um carinho paternal.

Os quartos são mistos e devem dormir e conviver ao lado de operários que fazem os trabalhos mais pesados, a uma temperatura de mais de 35 graus centígrados, ou capatazes que se encarregam de impor disciplina.

Carla, de 34 anos e que tem marido e dois filhos em terra, não tem medo deles. "O risco está nos materiais, a maioria dos homens são muito respeitosos e cuidam de nós", relatou.

O totó (conhecido também como pebolim) e a sinuca ajudam a suportar o regime de 14 dias em alto-mar contra 14 em terra. Uma academia com sauna libera também tensões, dessas "que dão quando não há mulher por perto", disse um dos operários soltando um sorriso.

A maioria dos empregados faz ouvidos surdos para os anúncios de cortes de pessoal na Pemex que chegam da capital.

Não em vão, a queda dos preços internacionais do petróleo causou perdas de US$ 30,315 bilhões para a empresa em 2015, quase o dobro que em 2014, o que levou o governo a fixar um plano de ajuste para a companhia petrolífera de cerca de US$ 5,727 bilhões.

Alheios também a esse debate, como mãos humanas, as máquinas extratoras das plataformas marinhas continuam sugando do fundo do mar milhares de barris de petróleo e metros cúbicos de gás.

O barulho é ensurdecedor por causa da injeção de nitrogênio nos poços, mas também pelo bombeamento do produto do subsolo para os centros produtores ou para os navios cargueiros que continuam transportando o "ouro negro" mexicano para outros cantos do mundo. EFE

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