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Reino Unido se prepara para histórico desligamento da União Europeia

28/03/2017 11h57

Patricia Rodríguez

Londres, 28 mar (EFE).- Em um cenário sem precedentes históricos, o Reino Unido se prepara para iniciar na quarta-feira seu desligamento formal do bloco comunitário - "Brexit"-, após mais de quatro décidas como Estado-membro da União Europeia (UE).

O Reino Unido iniciará uma nova caminhada fora do bloco dos 27, ao começar estabelecer os termos de sua saída, depois que os britânicos votaram a favor do desligamento da União no referendo de 23 de junho.

A primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, tem perante si um cenário difícil, pois terá que buscar -no prazo fixado de dois anos de negociações- um acordo que satisfaça as nações que conformam o Reino Unido e também a UE.

Está previsto que o embaixador britânico na União Europeia, Tim Barrow, entregue pessoalmente ao presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, a carta na qual o Executivo de Londres notificará que invoca o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que estabelece o processo para a saída de um país comunitário.

A partir daí, começa a contagem regressiva para consumar o desligamento, que dever ser efetivo, segundo os planos previstos, em 29 de março de 2019.

Também amanhã, paralelamente, May irá ao parlamento para informar aos deputados na câmara dos Comuns (Baixa) que este país ativou o artigo 50.

A imprensa local antecipa hoje que Tusk fará uma breve declaração sobre o recebimento e, no dia seguinte, o presidente do conselho fará circular entre os 27 uma minuta sobre quais serão as diretrizes de negociação com Londres.

Essas diretrizes serão adotadas formalmente na cúpula especial organizada para 29 de abril em Bruxelas.

Barrow, que foi diretor político no Ministério britânico das Relações Exteriores antes de ser nomeado representante permanente do Reino Unido em Bruxelas, substituiu em janeiro Ivan Rogers, que renunciou por aparentes desacordos com o governo de May.

Após a ativação do "Brexit", espera-se que ambas as partes estabeleçam nas negociações os termos da saída britânica e decidam como serão suas futuras relações comerciais.

Sobre a negociação, as partes abordarão o custo que Londres terá que assumir pela retirada - que os veículos de imprensa se referem como "a fatura do divórcio"-, o status legal dos cidadãos expatriados e a divisão dos ativos comunitários.

Ambas as partes deverão esclarecer o que ocorrerá com a situação legal dos comunitários que vivem neste país, assim como com os britânicos que residem no continente após o "Brexit" e terão que resolver, entre outras coisas, o que fazer com as pensões que cobram esses cidadãos quando Londres caminhar sozinha.

O ministro para a saída do Reino Unido da UE, David Davis, rejeitou em declarações emitidas pela "BBC" que este país vá pagar a Bruxelas a quantidade de 50 bilhões de libras (57,8 bilhões de euros), como foi ventilado.

"Cumpriremos, certamente, com nossas obrigações internacionais, mas também esperamos que sejam respeitados nossos direitos. Não acredito que vamos falar dessas quantidades", disse ontem à noite Davis a um programa especial do "Brexit" na "BBC".

O ministro assegurou, além disso, que o Executivo conta com "planos de contingência" caso não alcance um acordo comercial com a UE, mas recalcou que o objetivo é obter um "amplo" pacto.

Além disso, sobre o tema da migração -um fator determinante na hora de os britânicos se inclinarem pela opção do "Brexit" no referendo-, Davis apontou que os níveis de imigração terão que aumentar "de vez em quando" pois há indústrias e serviços públicos que dependem de mão de obra estrangeira.

Suas declarações foram interpretadas como um sinal de que a saída britânica do bloco não resultará em uma queda dramática na migração líquida neste país.

Por sua vez, o jornal "The Guardian", que cita fontes comunitárias, diz hoje que o governo de May começou aparentemente a dar marcha à ré a sua inicial ameaça de deixar o bloco sem um acordo comercial, caso as negociações não prosperem.

Essas fontes asseguram que, em privado, os funcionários britânicos admitem que um cenário sem acordo ocasionaria o "caos", apesar de May insistir em repetidas ocasiões que essa situação seria melhor do que obter um pacto "ruim".