Brasil tem mais cursos de agronegócio, mas população rural perde escolas
Otávio Nadaleto.
Apesar do avanço na profissionalização do agronegócio no Brasil, que incluiu o aumento da oferta de cursos de nível superior voltados ao setor nos últimos anos, as zonas rurais do país ainda apresentam indicadores educacionais muito inferiores aos das áreas urbanas.
Segundo dados extraídos dos censos da educação básica e superior do Inep, entre 2010 e 2016 a quantidade de escolas em zonas rurais caiu 20,1%, de 79.723 para 63.116. Para Igor Alves Dantas de Oliveira, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), especialista em educação, arte e história da cultura, este encolhimento é sintomático das transformações sociais dos últimos anos, sobretudo o êxodo rural.
"O jovem de hoje decide mais cedo se quer permanecer no campo ou se mudar para a cidade. Além disso, o desenvolvimento tecnológico faz com que as pessoas tenham mais acesso às informações", disse Oliveira à Agência Efe.
Outro fator levantado pelo professor para explicar a queda é o maior investimento em transporte por parte das prefeituras, que passaram a deslocar alunos para estudar na cidade.
Segundo o gerente de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, não há como afirmar que faltam vagas, mas, mesmo assim, "não se pode dar como resolvida a questão do acesso (à educação no campo)".
"É fundamental um olhar atento, pode haver situações de descaso. A população rural ainda recebe uma educação consideravelmente de pior qualidade. Em 2016, por exemplo, apenas 30% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental de escolas rurais se mostraram plenamente alfabetizados - valor que foi de 48% para escolas urbanas", lamentou.
De acordo com Corrêa, há questões problemáticas "de infraestrutura, de acesso dos alunos à escola e da formação de uma equipe de professores e gestores escolares".
A dificuldade de encontrar professores também foi destacada por Nei Orzekovski, que ensina filosofia na comunidade rural Assentamento Contestado, em Lapa (PR), onde foi criada após uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e se tornou uma referência em agroecologia.
O assentamento abriga também a Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA), iniciativa do MST junto à Via Campesina, destinada a militantes do movimento para aprender e disseminar agroecologia.
Orzekovski explica que os educadores que trabalham no campo não são concursados e trabalham com contratos temporários, o que dificulta que fiquem e participem da educação rural.
"Todo ano há mudança de professores quando acabam os contratos. Não há sequência pedagógica, isso é um limite enorme", alegou.
Alana Lourenço, de 15 anos, é aluna de Nei do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual do Campo Contestado, única escola da região rural - as outras ficam em espaços urbanos, com a mais próxima a mais de 10 quilômetros.
Junto com outras 150 famílias, a dela vive em uma área de cerca de três mil hectares, que há dez anos conta com espaços de formação múltiplos para crianças e adolescentes, incluindo as práticas agroecológicas, focadas no desenvolvimento da agricultura familiar e produção de orgânicos.
Embora reconheça a boa qualidade do ensino em sua escola por ter um bom projeto educacional, Alana admite que ainda há muitos problemas relacionados à estrutura e acompanhamento dos alunos.
"Faltam muitas coisas. O colégio funciona na escola municipal, não é um prédio próprio. Falta quadra de esportes, laboratórios. A maioria dos professores vem realmente para dar aula, mas às vezes alguns não levam a sério", contou a estudante.
Em contrapartida à situação das escolas rurais, houve um aumento nos cursos técnicos e bacharelados destinados ao agronegócio: em 2010, 627 deles se encaixavam na área específica "Agricultura, florestas e recursos pesqueiros" da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Esse número chegou a 766 em 2016, um crescimento de 18,1%, o que representou um aumento de 30% nas matrículas destes cursos no mesmo período (de 97.557 139.968).
Uma das instituições que aceleraram o crescimento de cursos técnicos e de graduação foi a Faculdade CNA, vinculada ao Conselho Nacional da Agricultura (CNA), a primeira do Brasil destinada unicamente ao agronegócio desde 2013, quando obteve credenciamento para funcionar.
Para o professor da FAAP, os fenômenos são independentes, o que pode ser comprovado diferença de público das instituições: quem ingressa nestes cursos superiores provém das zonas urbanas e não do campo.
A partir das projeções do INEP, nos últimos dois anos mais de quatro mil escolas rurais foram fechadas pelo país, enquanto o ensino superior voltado ao agronegócio parece despontar.
O diretor-geral da instituição, André Sanches, entende que o crescimento dos cursos pode ser atribuído à importância econômica do agronegócio: em 2016, o setor foi responsável por 23% do PIB do Brasil, segundo a própria CNA.
"Atribuo (o crescimento) ao avanço no reconhecimento da importância desse setor. Esses cursos surgem como uma oportunidade de colocação no mercado", afirmou.
Apesar de celebrar a maior oferta de profissionalização, Sanches crê que ainda é necessário mais cursos nesta área para "enriquecer o conhecimento do setor e produzir uma academia pensante".
Apesar do avanço na profissionalização do agronegócio no Brasil, que incluiu o aumento da oferta de cursos de nível superior voltados ao setor nos últimos anos, as zonas rurais do país ainda apresentam indicadores educacionais muito inferiores aos das áreas urbanas.
Segundo dados extraídos dos censos da educação básica e superior do Inep, entre 2010 e 2016 a quantidade de escolas em zonas rurais caiu 20,1%, de 79.723 para 63.116. Para Igor Alves Dantas de Oliveira, da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), especialista em educação, arte e história da cultura, este encolhimento é sintomático das transformações sociais dos últimos anos, sobretudo o êxodo rural.
"O jovem de hoje decide mais cedo se quer permanecer no campo ou se mudar para a cidade. Além disso, o desenvolvimento tecnológico faz com que as pessoas tenham mais acesso às informações", disse Oliveira à Agência Efe.
Outro fator levantado pelo professor para explicar a queda é o maior investimento em transporte por parte das prefeituras, que passaram a deslocar alunos para estudar na cidade.
Segundo o gerente de políticas educacionais da ONG Todos Pela Educação, Gabriel Corrêa, não há como afirmar que faltam vagas, mas, mesmo assim, "não se pode dar como resolvida a questão do acesso (à educação no campo)".
"É fundamental um olhar atento, pode haver situações de descaso. A população rural ainda recebe uma educação consideravelmente de pior qualidade. Em 2016, por exemplo, apenas 30% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental de escolas rurais se mostraram plenamente alfabetizados - valor que foi de 48% para escolas urbanas", lamentou.
De acordo com Corrêa, há questões problemáticas "de infraestrutura, de acesso dos alunos à escola e da formação de uma equipe de professores e gestores escolares".
A dificuldade de encontrar professores também foi destacada por Nei Orzekovski, que ensina filosofia na comunidade rural Assentamento Contestado, em Lapa (PR), onde foi criada após uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e se tornou uma referência em agroecologia.
O assentamento abriga também a Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA), iniciativa do MST junto à Via Campesina, destinada a militantes do movimento para aprender e disseminar agroecologia.
Orzekovski explica que os educadores que trabalham no campo não são concursados e trabalham com contratos temporários, o que dificulta que fiquem e participem da educação rural.
"Todo ano há mudança de professores quando acabam os contratos. Não há sequência pedagógica, isso é um limite enorme", alegou.
Alana Lourenço, de 15 anos, é aluna de Nei do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual do Campo Contestado, única escola da região rural - as outras ficam em espaços urbanos, com a mais próxima a mais de 10 quilômetros.
Junto com outras 150 famílias, a dela vive em uma área de cerca de três mil hectares, que há dez anos conta com espaços de formação múltiplos para crianças e adolescentes, incluindo as práticas agroecológicas, focadas no desenvolvimento da agricultura familiar e produção de orgânicos.
Embora reconheça a boa qualidade do ensino em sua escola por ter um bom projeto educacional, Alana admite que ainda há muitos problemas relacionados à estrutura e acompanhamento dos alunos.
"Faltam muitas coisas. O colégio funciona na escola municipal, não é um prédio próprio. Falta quadra de esportes, laboratórios. A maioria dos professores vem realmente para dar aula, mas às vezes alguns não levam a sério", contou a estudante.
Em contrapartida à situação das escolas rurais, houve um aumento nos cursos técnicos e bacharelados destinados ao agronegócio: em 2010, 627 deles se encaixavam na área específica "Agricultura, florestas e recursos pesqueiros" da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Esse número chegou a 766 em 2016, um crescimento de 18,1%, o que representou um aumento de 30% nas matrículas destes cursos no mesmo período (de 97.557 139.968).
Uma das instituições que aceleraram o crescimento de cursos técnicos e de graduação foi a Faculdade CNA, vinculada ao Conselho Nacional da Agricultura (CNA), a primeira do Brasil destinada unicamente ao agronegócio desde 2013, quando obteve credenciamento para funcionar.
Para o professor da FAAP, os fenômenos são independentes, o que pode ser comprovado diferença de público das instituições: quem ingressa nestes cursos superiores provém das zonas urbanas e não do campo.
A partir das projeções do INEP, nos últimos dois anos mais de quatro mil escolas rurais foram fechadas pelo país, enquanto o ensino superior voltado ao agronegócio parece despontar.
O diretor-geral da instituição, André Sanches, entende que o crescimento dos cursos pode ser atribuído à importância econômica do agronegócio: em 2016, o setor foi responsável por 23% do PIB do Brasil, segundo a própria CNA.
"Atribuo (o crescimento) ao avanço no reconhecimento da importância desse setor. Esses cursos surgem como uma oportunidade de colocação no mercado", afirmou.
Apesar de celebrar a maior oferta de profissionalização, Sanches crê que ainda é necessário mais cursos nesta área para "enriquecer o conhecimento do setor e produzir uma academia pensante".
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