Nicarágua termina 2018 imersa em sua pior crise nos últimos anos
Luis Felipe Palacios.
Manágua, 20 dez (EFE).- A Nicarágua finaliza 2018 imersa na sua pior crise social, política e econômica desde que o presidente Daniel Ortega retornou ao poder, em janeiro de 2007, como consequência de protestos populares que deixaram um saldo que varia entre 325 e 545 mortos, de acordo com organizações de Direitos Humanos.
A crise, que explodiu em 18 de abril por conta de impopulares reformas da previdência, já derrubadas, marcou o 2018 na Nicarágua, no meio de exigências de renúncia do líder após quase 12 anos no poder de forma consecutiva e 23 incluindo quando liderou o primeiro regime sandinista (1979-1990).
A maré ruim de Ortega ocorre no momento emq que ele governa ao lado da esposa, a influente vice-presidente Rosario Murillo, acusada de ter ordenado responder "com tudo" às manifestações antigovernamentais.
A fracassada reforma da previdência, somada à reação do governo, foi o detonante que levou a população a se rebelar contra a Administração e suscitar uma ira até esse momento contido dos cidadãos.
A massa decidida reação popular obrigou Ortega a derrubar, apenas quatro dias depois e com o peso de 30 mortos nos protestos, o decreto que contemplava as frustradas modificações, embora a decisão tenha sido tomada tarde demais.
Os jovens, universitários na maioria, saíram às ruas para protestar com mais força exigindo justiça e a renúncia do líder, enquanto o governo, ao mesmo tempo em que convocava um diálogo nacional para superar a crise, respondia a bala quem o desafiava.
Em 30 de maio, data em que os nicaraguenses comemoram o Dia das Mães, uma grande passeata opositora em Manágua terminou banhada de sangue justo depois que Ortega sentenciou em discurso diante dos seus apoiadores que "a Nicarágua pertence a todos e aqui ficamos todos". Nesse fatídico dia, 15 nicaraguenses morreram e outros 199 ficaram feridos no mais sangrento Dia das Mães da Nicarágua.
O governo começou a implementar a denominada "Operação Limpeza", uma ofensiva das chamadas "forças combinadas", integrada por polícias, parapoliciais, paramilitares, e funciomários do Estado, para retirar as barricadas dos manifestantes. Os bispos, mediadores e testemunhas do diálogo nacional, também não escaparam dos ataques das forças do governo.
Em 17 de julho, dois dias antes de os sandinistas lembrarem os 39 anos da revolução popular, as "forças combinadas" tomaram pela força das armas a cidade de Masaya após um intenso ataque de mais de sete horas sobre a rebelde comunidade indígena de Monimbó, que deixou pelo menos três mortos, conforme organismos humanitários.
Dessa forma, o governo Ortega-Murillo conseguiu desmantelar a sangue e fogo as barricadas, mas abriu outra frente de conflito com a comunidade internacional que condenava diariamente a violência e a repressão oficial.
O presidente americano, Donald Trump, declarou a Nicarágua como uma ameaça para a segurança nacional dos Estados Unidos, sancionou à vice-presidente Murillo, o chefe policial nicaraguense, a um assessor de segurança de Ortega e outros dois altos acusações, e ameaçou com congelar os empréstimos que outorgam através dos organismos multilaterais.
O ministro das Relações Exteriores da Espanha, Josep Borrell, advogou por impor sanções por parte da comunidade internacional o governo de Ortega pela sanguinária "repressão" da sua "ditadura".
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, e doze países do continente alertaram sobre um aumento da repressão na Nicarágua.
O governo Ortega-Murillo termina 2018 no meio de um isolamento internacional e confrontado internamente com o setor privado, a Igreja Católica, organizações civis, estudantes, camponeses, organismos de direitos humanos e veículos de imprensa comunicação, e com uma forte contração econômica, a pior dos últimos 12 anos. O índice mensal da atividade econômica da Nicarágua se diminuiu 4,3% em setembro com relação ao mesmo mês de 2017, com base nos dados mais recentes do Banco Central, enquanto o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que a economia do país retrocederá 4% em 2018 e 1% em 2019. EFE
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