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Dependência do açúcar obriga Tailândia a lidar com poluição e diabetes

27/02/2019 10h03

Noel Caballero.

Ubon Ratchathani (Tailândia), 27 fev (EFE).- A Tailândia enfrenta uma crise de diabetes infantil por causa do abuso do açúcar, de acordo com fontes médicas, enquanto a queima dos canaviais destrói o país, o segundo maior exportador do mundo deste produto.

"É uma prática habitual. A queimada facilita a colheita e nos permite economizar", disse à Agência Efe Chalern, um agricultor da província de Ubon Rachathani, no nordeste do país.

Embora no longo prazo seja prejudicial para a terra, essa é uma prática amplamente estendida na fértil Tailândia, onde todos os anos, entre dezembro e fevereiro - coincidindo com a época seca -, os níveis de poluição disparam.

Assim, nos canaviais, a primeira queima é feita para limpar o terreno das folhas e facilitar o acesso dos cortadores de cana. A segunda serve para limpar o campo dos resíduos após a colheita.

Um estudo da Universidade de Kasetsart, em Bangcoc, publicado no final de 2014 indica que esta prática geralmente é vista nas regiões rurais do centro, norte e nordeste, onde a poluição é consequência das queimadas e das condições secas do clima.

Nas grandes cidades e zonas industriais, por sua vez, se somam outros fatores, como o trânsito e a construção civil.

Atualmente, quando Bangcoc, afundada no congestionamento e no ritmo desenfreado das construções, consegue um respiro após semanas com altos níveis de poluição, as cidades de Chiang Mai (norte) e Khon Kaen (nordeste) continuam a registrar níveis insalubres, de acordo com o Índice de Qualidade do Ar (AQI).

Chiang Mai, a segunda maior cidade em população no país, chegou a ficar no dia 21 de fevereiro como a terceira cidade com pior qualidade de ar do mundo, atrás apenas de Nova Délhi (Índia) e Lahore (Paquistão).

No ano passado, a Tailândia exportou 7,8 milhões de toneladas de açúcar, segundo dados do Ministério da Indústria, e é há anos o segundo maior exportador deste produto no mundo, só perdendo para o Brasil.

O país também é o quarto maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, utilizada principalmente para a produção de biocombustível.

A importância do setor açucareiro no país é tanta que dois times de futebol da Primeira Divisão da Tailândia pertencem a duas das maiores empresas produtoras de açúcar e quando se enfrentam o jogo é chamado de "O Clássico do Açúcar".

Com todos esses vínculos entre o país e o açúcar, o governo aprovou no final de 2017 a imposição de uma taxa de até 30% para bebidas doces, mas uma moratória adiou sua aplicação para outubro deste ano.

"Os casos de diabetes em menores de idade aumentaram muito nos últimos anos, além do número de pessoas afetadas pela obesidade", declarou à Efe a médica Wannee Nitiyanant, presidente da Associação para Diabetes da Tailândia.

A doença, que segundo ela tem maior incidência entre crianças, jovens e idosos, afeta mais de 4,8 milhões de tailandeses, o equivalente a 7% da população total do país, que é de cerca de 70 milhões.

"Todos os anos detectamos mais de 200 mil casos novos de diabetes", disse a médica, que classifica o açúcar como "um doce veneno".

Em 2015, um estudo do Ministério da Saúde apontou que cada tailandês consome, em média, 26 colheres de açúcar - ou 104 gramas - por dia. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de seis colheres - ou 26 gramas - no máximo.

Na rica cozinha tailandesa, praticamente todos os pratos levam açúcar refinado de alguma forma e que, acompanhados de um molho também doce e aliados ao maior consumo de comidas rápidas e um estilo de vida mais sedentário, pioram a saúde dos tailandeses.

Além disso, segundo Wannee, muitos colégios têm máquinas de produtos pouco nutritivos e refrigerantes, que são consumidos pelos alunos e que ajudam a agravar o risco de diabetes ou outras doenças relacionadas.

"Há alguns anos, lançamos uma forte campanha para combater o consumo de açúcar nas escolas e promover um estilo de vida mais saudável. Foi um grande sucesso, mas, com o passar do tempo, observamos que os maus hábitos voltaram", relatou a presidente da Associação para Diabetes da Tailândia.

Para ela, a taxação do açúcar é importante e benéfica, mas são necessárias mais medidas para combater as doenças derivadas do abuso deste produto. EFE