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Trump e Biden se atacam - sem caos - e acentuam diferenças em temas-chave

23/10/2020 16h25

Susana Samhan.

Nashville (EUA), 23 out (EFE).- Após um primeiro debate marcado por interrupções constantes e um clima caótico, na noite desta quinta-feira o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o candidato do Partido Democrata a derrotá-lo nas eleições de 3 de novembro, Joe Biden, conseguiram enfim mostrar seus pontos de vista discordantes em temas-chave de forma mais clara, sem turbulências, embora não tenham deixado de se atacar.

Em um auditório da Universidade Belmont, em Nashville, no estado do Tennessee, Trump e Biden debateram pela segunda e última vez antes do pleito. O embate de ideias deveria ter sido o terceiro, mas o que estava previsto para 15 de outubro em Miami, na Flórida, acabou sendo cancelado após o presidente americano contrair Covid-19 e se recusar a realizá-lo de forma virutal.

Já o primeiro - e polêmico - debate aconteceu em 29 de setembro na cidade de Cleveland, em Utah.

Desta vez, em meio à possibilidade de terem os microfones cortados caso interrompessem a fala do adversário, os dois concorrentes conseguiram apresentar visões e propostas sobre política internacional, economia, racismo, pandemia e migração, e sempre se colocaram em campos nitidamente opostos.

POLÊMICA SOBRE SEPARAÇÃO DE FAMÍLIAS MIGRANTES.

"Mais de 500 crianças vieram (aos EUA) com seus pais. Foram separadas deles na fronteira para desencorajá-los a vir primeiro", disse Biden.

O ex-vice-presidente no governo de Barack Obama (2009 a 2017) referiu-se a notícias divulgadas nesta semana de que, mais de dois anos após a implementação da política de separação das famílias de imigrantes ilegais na fronteira com o México, os advogados envolvidos no caso ainda não conseguiram localizar os pais de pelo menos 545 menores.

"É algo criminoso (...) Faz de nós motivo de risadas no mundo e viola todo conceito de quem somos como nação", disse Biden.

Trump, por sua vez, afirmou que seu governo está "tentando muito" localizar os pais desses menores, embora não seja garantido que de fato o esteja - aqueles que o fazem são advogados e grupos de direitos humanos selecionados por um tribunal.

"Estamos os tratando tão bem, eles estão em instalações tão limpas", disse Trump sobre os menores separados de seus pais.

O presidente americano também denunciou que "as crianças foram trazidas por coiotes (pessoas que levam migrantes ilegalmente aos EUA) e muita gente ruim", algo que Biden imediatamente negou, alegando que elas estavam "com seus pais".

"QUEM CONSTRUIU AS GAIOLAS, JOE?".

Em uma tentativa de se defender, Trump tentou criticar as políticas de imigração do governo Obama.

"Quem construiu as gaiolas, Joe? Vamos falar sobre quem construiu as gaiolas", afirmou o atual presidente, referindo-se a como têm sido comparadas as instalações onde imigrantes ilegais menores de idade têm sido mantidos pelas autoridades americanas.

Em outro assunto no qual os candidatos mostraram profundas discrepâncias foi a gestão da pandemia.

Trump quis fazer uso de sua experiência após contrair Covid-19.

"Estou imune, cada vez mais pessoas estão se recuperando", alegou o presidente, que anunciou ter contraído a doença transmitida pelo novo coronavírus dois dias após o primeiro debate com Biden.

"Ela está indo embora e, como digo, estamos virando a esquina. Está indo", disse.

VACINA "EM SEMANAS" E "INVERNO SOMBRIO".

Trump também previu que uma vacina para a Covid-19 estará disponível em breve.

"Penso (haverá uma vacina) em semanas, e ela será distribuída muito rapidamente (...) Está pronta", declarou.

Questionado pela moderadora do debate, Kristen Welker, da rede "NBC News", o presidente americano reconheceu que não tem "garantia" de que a vacina será distribuída dentro desse prazo, mas imediatamente frisou acreditar que ela chegará "antes do final do ano", apesar do fato de que muitos cientistas preverem sua aplicação em ampla escala para meados de 2021.

Biden, por sua vez, previu um cenário difícil com Trump no poder e disse que "quem quer que seja responsável por tantas mortes não deve permanecer presidente", referindo-se às mais de 222 mil mortes nos EUA por Covid-19.

Estamos prestes a entrar em um inverno sombrio, e ele não tem um plano claro (para combater a Covid-19)", declarou o candidato democrata.

"PESSOA MENOS RACISTA".

Biden e Trump aproveitaram o segmento do debate dedicado ao racismo para se acusarem mutuamente de terem causado mais danos à comunidade negra nos EUA.

Trump lembrou que seu adversário foi a força motriz por trás de uma lei anticrime de 1994 no Senado que resultou em milhares de pessoas negras atrás das grades, e que ele aprovou um projeto de reforma em sentido contrário pouco depois de chegar ao poder.

O presidente americano também alegou ter sido o ocupante do cargo que mais fez pela comunidade negra na história dos EUA, com a possível exceção de Abraham Lincoln, que aboliu a escravidão em 1863.

"Acho que tenho ótimos relacionamentos com todos, sou a pessoa menos racista nesta sala", afirmou.

Biden, por sua vez, revisou a história de comentários racistas de Trump e lembrou que em 1989 ele defendeu a pena de morte para um grupo de adolescentes negros conhecidos como "Central Park Five", que foram acusados de um crime que não cometeram.

Trump, no entanto, deu uma guinada no discurso sobre o racismo nesta parte do debate para enfatizar novamente suas acusações contra Biden de ter usado sua posição política para receber dinheiro de governos estrangeiros direta ou indiretamente.

"Se tudo isso for verdade, ele é um político corrupto", acusou Trump, argumentando que Biden recebeu pagamentos de países como China, Rússia, Ucrânia e Iraque que poderiam render vantagens políticas e influências.

"Isso é um monte de porcaria", respondeu o candidato democrata, que havia negado todas essas acusações minutos antes.

Trump então disse que Biden estava se fazendo passar por um "bebê inocente". EFE

ssa/id

(foto) (vídeo)