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Crise no Equador coloca Lasso entre a retomada econômica e o conflito social

28/05/2021 04h45

Fernando Arroyo León.

Quito, 27 mai (EFE).- O presidente do Equador, Guillermo Lasso, que tomou posse no início desta semana, herdou uma economia em crise, agravada pela pandemia, e com a difícil tarefa de reativá-la para evitar um conflito social reprimido.

Os indicadores econômicos que encontrou no gabinete que lhe foi deixado pelo seu antecessor, Lenín Moreno, não são animadores; pelo contrário, atestam a gravidade da situação.

Com uma economia que perdeu força durante o primeiro ano da pandemia em 7,1% e que mal recuperará 1,5% em 2021, de acordo com as estimativas do Banco Central, Lasso planeja apostar na abertura, na austeridade e no investimento.

No entanto, reconhece que o caminho que precisa percorrer está cheio de problemas e que, por isso, requer uma forte "unidade nacional" para reforçar sua estratégia de recuperação.

APOSTA EM MAIS RECEITAS E MENOS GASTOS.

Um ex-banqueiro e empresário de 65 anos, Lasso deixou claro que irá apostar na melhoria das receitas e na redução da despesa pública, porque vê a iniciativa privada e o investimento estrangeiro como o fator-chave para a reativação e a prosperidade.

Por essa razão, convidou empresas privadas a participar em negócios estatais como a indústria petrolífera, mineração, estradas, turismo e habitação, entre outras.

Especificamente, tentará aumentar a produção petrolífera do país, que ronda uma média de 536.000 barris por dia, para um milhão de barris, e fazer com que as três refinarias estatais aumentem a cota de 110.000 barris por dia de derivados que entregam ao país, uma quantidade que, segundo Lasso, não é proporcional aos 300.000 barris que consomem.

Para o novo presidente equatoriano, estes objetivos podem ser alcançados através de concessões a empresas privadas, que também poderiam dar frutos em outros setores como a administração da rede rodoviária nacional e mesmo com o Banco del Pacífico, uma entidade gerida pelo Estado.

O Equador, com sua rica biodiversidade e orografia, também se apresenta como um país de oportunidades para o investimento estrangeiro e, por essa razão, Lasso planeja criar uma "zona livre de turismo", livre de impostos para aqueles que desenvolvem o setor.

O objetivo é aumentar as receitas para empreender as reparações necessárias na maioria dos indicadores econômicos, em vermelho desde o governo Moreno.

Com um déficit fiscal de quase US$ 3 bilhões e uma inflação de -1,47% em abril, mais próximo a uma recessão, o Equador está também atado ao financiamento estrangeiro.

O antecessor de Lasso deixou-o com uma dívida pública de US$ 63 bilhões, de acordo com relatórios do Banco Central.

As organizações multilaterais, contudo, reafirmaram seu compromisso de acompanhar o Equador e, portanto, espera-se que o governo Lasso possa pactuar fórmulas que compensem as dificuldades financeiras do Estado.

Porém, a tarefa é complexa e há quem acredite que o país não seria capaz de suportar eventuais ajustes fiscais ou fiscais, principalmente cortes em setores sensíveis da economia.

A AMEAÇA SOCIAL.

Para o professor Pablo Dávalos, Lasso enfrenta um dilema crucial no seu desejo de reativar a economia através do aumento das receitas e da redução da despesa pública.

Segundo o analista, o presidente equatoriano optou pela "via da oferta" quando o país está exigindo soluções pela "via da demanda".

Por esta razão, considera que a reativação econômica no modelo Lasso será difícil e terá grandes obstáculos políticos e sociais a enfrentar.

Vale lembrar que, embora o movimento de centro-direita CREO liderado pelo novo presidente, que tem apenas 12 assentos próprios na Assembleia, tenha conseguido combinar uma maioria parlamentar para organizar a nova legislatura, isto não significa que esta aliança o acompanhe em outras decisões.

Além disso, Dávalos recordou que vários setores sociais "começaram a exigir" a eliminação de um decreto que aumentou o valor da gasolina através de um sistema de flutuação e que foi promovido por Moreno no meio da pandemia.

Para Davalos, se as reivindicações da população, que suportou os rigores da crise econômica e sanitária, não forem atendidas primeiro, o Equador poderia "seguir o caminho da Colômbia", com "cenários de conflito social".