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Latinos e negros investem mais em criptomoedas em busca de riqueza equitativa

21/07/2022 16h42

Sarah Yáñez-Richards.

Nova York, 21 jul (EFE).- Os latinos e negros nos Estados Unidos investiram mais do que os brancos em criptomoedas, com a esperança de uma riqueza rápida e muito mais equitativa, sonho que deu lugar à decepção para muitos após o colapso destes ativos digitais.

Bitcoin, a criptomoeda mais popular, que chegou a valer mais de US$ 67 mil em novembro do ano passado, hoje custa cerca de US$ 22 mil.

Foram registradas quedas semelhantes no Ethereum, que passou de um valor superior a US$ 4.800 em novembro para menos de US$ 1 mil em junho, e no meme Dogecoin, que passou de US$ 0,33 em agosto de 2021 para US$ 0,50 em junho, além de quase todas as outras criptos.

De acordo com um relatório da Morning Consult, depois de perguntar a mais de 4.400 adultos em junho, cerca de 25% dos entrevistados negros e hispânicos disseram ser proprietários de criptomoedas, em comparação com apenas 17% dos consultados brancos.

"Os investidores que pertencem a minorias, como negros, latinos e LGBTQIA+ são de longe a maioria no mercado de criptomoedas, e investiram por terem sido tratados injustamente por instituições financeiras. Estas minorias não obtiveram os empréstimos que necessitam, e se solicitaram crédito, não obtiveram todo o crédito que necessitam", declarou John A Ladyzinski, professor da Universidade de Nova York.

Para as famílias negras, mais frequentemente do que ao resto da população, são negadas hipotecas para possuir uma casa, um bem que há muito tempo é visto como a chave para o sucesso financeiro.

A desigualdade econômica também continua sendo vista neste país na riqueza média de uma família. De acordo com um estudo do Federal Reserve (banco central dos EUA) de 2019, as famílias brancas têm uma riqueza média de US$ 188.200, enquanto as famílias negras e hispânicas têm valores muito mais baixos: a riqueza média das famílias negras é de US$ 24.100, enquanto a das famílias hispânicas é de US$ 36.100.

Neste sentido, Ladyzinski assinala que é muito fácil para as minorias investir nestas moedas do século XXI porque não têm de passar por uma terceira parte para aprovação.

É um investimento que pode ser feito independentemente dos antecedentes econômicos de uma pessoa, seja ela indocumentada ou possuidora de um visto. Além disso, não é exigido nenhum depósito, nenhuma taxa mínima a pagar, e a vantagem é que é possível enviar a moeda para outra pessoa de forma barata e fácil.

"É fácil investir em criptomoedas. Há exchanges como a Coinbase, o que torna tudo muito fácil, mas essa não é a única forma de investir. Existem caixas multibancos com criptomoedas, especificamente caixas Bitcoin, onde se pode depositar dinheiro e obter uma criptomoeda", detalha o especialista.

No entanto, o professor também ressalta que o fato de estas moedas não serem regulamentadas por um banco central também pode levar a mais fraudes.

Sobre a grande queda do mercado de criptomoedas nos últimos meses, Ladyzinski observa que este colapso provavelmente afetou muito mais os investidores das minorias do que outros.

O professor diz que desde que introduziu as criptomoedas no seu programa de estudos, percebeu que as pessoas em geral ainda não compreendem a alta volatilidade envolvida neste tipo de investimento.

"A criptomoeda é muito volátil, obviamente não se deve investir dinheiro que não se pode dar o luxo de perder. Mas há países que olham para as criptos e as veem como bastante estáveis", e ele dá o exemplo da Venezuela, onde a taxa de inflação calculada pelo FMI será de 500% neste ano, a mais alta do mundo.

Ladyzinski frisa também que outra vantagem deste tipo de moeda, especialmente para aqueles que têm família em outros países, é que é muito fácil enviar dinheiro, desde que a outra pessoa tenha uma carteira eletrônica, uma vez que outros serviços de transferência como Western Union têm comissões muito elevadas. EFE