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'Taxa de juros de 6,5% não é sustentável no médio prazo', diz ex-presidente do BC

Luciana Dyniewicz

São Paulo

21/06/2018 07h20

Apesar de a inflação estar sob controle, o Comitê de Política Monetária (Copom) poderá ter de antecipar um ciclo de aperto monetário já nas suas próximas reuniões devido às pressões cambiais, segundo o ex-presidente do Banco Central Carlos Langoni. Uma decisão de alta dos juros, porém, deverá ter efeitos negativos na economia, admite. "É uma escolha de Sofia", diz. De acordo com o economista, os efeitos da Selic a 6,5% estão se esgotando e já não restam mais ferramentas para impulsionar a atividade econômica.

Como avalia a decisão do BC?

Se o BC está definindo a Selic exclusivamente pela inflação, esta corretíssimo. Mas a taxa de 6,5% não é sustentável no médio prazo. Apesar de a inflação estar comportada, o cenário externo se deteriorou. Dois fatores pressionam o câmbio: a decisão do Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) de aumentar o ritmo de aceleração da taxa de juros e a guerra comercial. O efeito imediato da guerra é a redução do preço das commodities. Isso significa que a moeda dos países intensivos em commodities tende a se depreciar (pressionando a inflação). Com esse cenário, é possível que o BC tenha de fazer sua escolha: continuar intervindo com doses mais expressivas de swaps cambiais ou antecipando o início da alta de juros - aí teria de ser já nas próximas reuniões do Copom. Se a pressão sobre o câmbio se intensificar, essa possibilidade de antecipação do ciclo de alta dos juros, não poderá ser descartada.

Uma alta na Selic não teria impacto negativo na já debilitada economia?

É uma decisão delicada de se fazer. Uma escolha de Sofia. Uma alta nos juros em uma economia fragilizada é sempre negativa: afeta a demanda. O ideal seria estender o juro de 6,5% até o fim do ano e torcer para a eleição de um presidente reformista, que já aprove, no início de 2019, a reforma da Previdência e reforce o ajuste fiscal. Isso daria espaço para o BC conviver com o cenário externo mais difícil sem precisar usar um aperto monetário contundente.

O afrouxamento monetário encerrado em maio ainda pode alavancar a economia?

O efeito está se esgotando. O que tinha de acontecer já aconteceu, apesar de os bancos estarem flexibilizando a oferta de crédito, principalmente para pessoa física. Pessoa jurídica é mais lento, porque depende da recuperação da rentabilidade das empresas.

Com esse esgotamento da política monetária, o que sobra para impulsionar a economia?

Esse é o drama. Não há mais atalho ou solução emergencial. O único instrumento era política monetária. Acho que (a taxa Selic) chegou até a um nível arriscado, porque a diferença entre juros interno e externo ficou muito pequena. A situação fiscal se deteriorou com essa guinada neopopulista após a greve dos caminhoneiros e a política monetária chegou ao limite. Agora é tentar gerenciar o curto prazo para evitar uma desvalorização excessiva do câmbio e tentar acalmar um pouco o mercado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.