Uma nova vida em Portugal, com dinheiro do Brasil
Apesar de Schultz e a mulher Andréa, de 42 anos, terem aberto um serviço de turismo em vans em Portugal, por enquanto, todo o dinheiro é proveniente dos negócios no Brasil. "O negócio em Portugal só se paga", define Andréa. Depois de muito vaivém entre Curitiba e Lisboa, Schultz conseguiu reduzir a "ponte aérea" e toca a empresa pelo Skype. O casal é também exemplo de um tipo de imigrante que Portugal está buscando com afinco: gente com dinheiro para investir, seja em imóveis ou na abertura de negócios, e que está em busca da qualidade de vida oferecida por Portugal.
Schultz e Andréa obtiveram o visto "golden", autorização de residência para investidores. Após terem sido feitos reféns em um assalto no condomínio de luxo em que viviam em Curitiba, decidiram empacotar tudo e tentar a vida em terras lusitanas em 2014. Como não se qualificam para a cidadania portuguesa por descendência, tiveram de desembolsar mais de 500 mil euros pela casa onde vivem, no Belas Clube de Campo, condomínio que inclui residências, edifícios de apartamentos e um campo de golfe, entre outras comodidades.
No ano passado, a concessão desses vistos rendeu mais de 1,6 bilhão de euros ao governo português, que se abriu a imigrantes porque tem uma grande população idosa - cerca de 20% dos residentes têm 65 anos ou mais. Descontando as autorizações de residência aos dependentes, a cifra bilionária foi arrecadada com 1.292 permissões concedidas em 2017. Cada novo investidor em Portugal trouxe ao país 1,28 milhão de euros, em média.
Embora o custo seja alto, Andrea e Schultz dizem que a decisão de deixar o Brasil é definitiva e vale a pena. "A gente aqui tem uma vida mais livre. Da última vez que fui a Curitiba, fui assaltado em uma farmácia", lembra ele. A permanência, porém, não é livre de "soluços", como a burocracia portuguesa - que, segundo Andrea, consegue ser ainda mais difícil de navegar do que a brasileira. Ela faz um alerta aos que estão de olho no visto "golden": além de investir no imóvel, a família precisa ter condições de arcar com os custos de renovação da autorização de residência por cinco anos, que giram em cerca de 20 mil euros por pessoa.
Interesse
O Brasil é a segunda nação em obtenção de vistos "golden", atrás apenas da China. Só no ano passado, 226 famílias brasileiras se transferiram do Brasil como investidores ou donos de imóveis - ao custo unitário de 1,28 milhão de euros, isso significa a transferência direta de 289 milhões de euros (cerca de R$ 1,3 bilhão) a Portugal. Em dois anos, a concessão desse tipo de visto a brasileiros disparou 340%.
O visto "golden" está longe de refletir o atual ciclo migratório do Brasil para Portugal. Isso porque o investidor que tem cidadania europeia não entra nessa estatística. É o caso do empresário Manoel Barbosa, nascido em Londrina (PR), mas com passaporte suíço. Dono da Rota Oeste, uma das maiores redes de concessionárias do Centro-Oeste, ele vive hoje com a mulher e os três filhos no bairro lisboeta de Belém. Enquanto a família permanece em Portugal, Barbosa, de 46 anos, divide-se entre os dois países para cuidar dos negócios.
"São Paulo me expulsou do Brasil", diz o empresário, em referência à cidade onde morava antes de se transferir a Portugal, em 2016. "Não estava satisfeito com a qualidade de vida, com o trânsito e a insegurança." Em 30 dias, a família se organizou para ficar entre 18 e 24 meses na Europa. Após esse período de "experiência", numa casa alugada em Cascais, balneário de luxo, Barbosa decidiu fincar raízes. Comprou uma casa em Belém e agora vê a permanência em Portugal como definitiva.
Por enquanto, o sustento da família vem do Brasil. Barbosa já fez uma tentativa de abrir uma empresa em Portugal, mas o projeto não foi adiante. Ele vai, porém, ampliar o leque de investimentos imobiliários. No dia em que conversou com o Estado, o londrinense reservou dois apartamentos - um de quatro quartos e outro de dois - no projeto Unique Belém, localizado ao lado do palácio do governo português.
Os dois apartamentos, que o empresário ainda não decidiu se usará como moradia - caso a família se transfira para o edifício, eles serão transformados em um -, custarão cerca de 1,5 milhão de euros. O Unique Belém tem uma corretora dedicada a atender os brasileiros de passagem por Lisboa. Os apartamentos partem de 500 mil euros (R$ 2,3 milhões), segundo a diretora de vendas da incorporadora Casa em Portugal, Lisette de Almeida, justamente a cifra mínima para obtenção do visto golden.
Câmbio
As empresas que fazem a corte aos endinheirados brasileiros, no entanto, começam a se preocupar com a desvalorização do real nesse momento de tensão pré-eleições. Enquanto empresários de maior porte, como Barbosa, continuam a fazer investimentos apesar do euro a R$ 4,60, bolsos menos fundos já começam a adiar a decisão de morar em Portugal. O casal Schultz, que chegou em 2014, acredita que se deu bem ao vir para Portugal antes do início da atual "onda" de imigração. "Se a gente não tivesse comprado a casa lá atrás, não sei se conseguiríamos comprar hoje", diz Andréa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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