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Novo bairro carioca não saiu do papel

Vinicius Neder

Rio de Janeiro

22/08/2018 11h10

As principais obras de infraestrutura do Porto Maravilha saíram do papel, mas a construção de um novo bairro carioca, com pontos turísticos, transporte por Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), edifícios comerciais de alto padrão, condomínios residenciais e shoppings, ainda está longe de se tornar realidade.

Como a recessão que afundou o mercado imobiliário, o desenvolvimento do novo bairro vai demorar mais que o previsto inicialmente, disseram agentes do setor. Lançamentos foram adiados e há investimentos malsucedidos, especialmente de empreendimentos anunciados nos anos de euforia com a economia do Rio de Janeiro - hoje afetado pela mais grave das crises fiscais estaduais.

Com o desenvolvimento mais lento, o Porto Maravilha tem hoje duas áreas distintas. Na metade mais distante do centro do Rio, limitada pela Avenida Francisco Bicalho, por onde passa o Canal do Mangue, ainda faltam obras de revitalização e há construções inacabadas, como o esqueleto do Porto Vida, projeto residencial cujas obras estão paradas. Ao lado, fica o edifício onde funcionaria um hotel Holliday Inn, que também não foi adiante.

Os dois empreendimentos são da Odebrecht Realizações, assim como o Porto Atlântico, considerado um "pepino", segundo uma fonte do mercado. O Estado apurou que a Odebrecht não conseguiu vender todos os andares do complexo de escritórios, lojas e hotel, instalado perto do Morro da Providência. O hotel, com as marcas Novotel e Ibis, está funcionando, parte dos escritórios está alugada, mas, na sexta-feira passada, 17, o local parecia um edifício fantasma. A Odebrecht não quis comentar os investimentos.

Pelas ruas e calçadas ainda degradadas, com terrenos vazios e construções abandonadas, há poucas pessoas circulando. Segundo Cláudio Castro, diretor da imobiliária Sérgio Castro Imóveis, que atua na região, o mercado não está olhando para essa "metade" do Porto Maravilha no momento. A região mais próxima do centro, onde as obras de reurbanização estão prontas, tende a se desenvolver antes.

Nessa parte, onde o Elevado da Perimetral, que tapava a vista da Baía de Guanabara, deu lugar ao Boulevard Olímpico, ponto turístico durante os Jogos Olímpicos, há movimento de turistas, que circulam, ao largo de muros grafitados, até o aquário oceânico Aqua Rio.

Apostando nessa infraestrutura já construída e na demanda reprimida por escritórios no Rio, já que os edifícios do centro são antigos e apertados, há quem defenda o sucesso da revitalização no longo prazo.

Para essa área mais próxima do centro já se mudaram empresas como L’Oréal, Subsea 7 e Nissan. A Granado levou sua sede para o Vista Guanabara, edifício de 17 andares de escritórios da Autonomy Investimentos. Segundo o presidente, da empresa Roberto Miranda de Lima, há demanda. "Temos duas vezes a área do prédio em negociação", disse Lima.

Projetos residenciais

Ainda assim, para Castro, da Sérgio Castro Imóveis, a PPP só vai decolar de vez com projetos residenciais. Na visão dele, há espaço para condomínios de apartamentos menores, de alto padrão, para casais sem filhos ou solteiros que buscam moradia perto do trabalho.

"Temos de trazer gente para morar aqui", disse Antonio Carlos Barbosa, presidente da Cdurp, estatal que administra o Porto Maravilha.

A Tishman Speyer, que já construiu dois edifícios comerciais - um deles vendido para a Bradesco Seguros - e segue apostando no porto, tem um terreno reservado para um prédio residencial. "Quando a gente desenvolveu o Florida Penthouses, na região da Berrini (em São Paulo), só tinha edifícios comerciais. Antes do lançamento, fomos criticados. E foi um sucesso de vendas", disse Daniel Cherman, presidente da Tishman Speyer. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.