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BC vê fatores de incerteza, e o eleitoral 'talvez seja o mais importante'

Fabrício de Castro

Brasília

29/08/2018 13h05

O chefe-adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Renato Baldini, reconheceu nesta quarta-feira, 29, que existem fatores de incerteza no Brasil que prejudicam a retomada do crédito.

"O mercado de crédito tem apresentado condições favoráveis à recuperação", afirmou, em entrevista a jornalistas. "As taxas de juros estão relativamente baixas, acompanhando a política monetária, a queda da Selic. Os níveis de inadimplência são também historicamente baixos e existe desalavancagem das famílias e recuperação da economia", citou.

No entanto, Baldini citou as incertezas neste cenário. "Há fatores de incertezas no País, e o eleitoral talvez seja o mais importante neste momento", afirmou. Ele disse que, à medida que as incertezas diminuam, a tendência é prolongamento da recuperação do crédito.

Baldini disse ainda que o recuo de 3,9% das concessões totais de crédito em julho ante junho não indica mudança na perspectiva de recuperação. "O que aconteceu na margem em concessões não é sinal de desaceleração do crédito", disse.

Ele pontuou ainda, na apresentação dos números de crédito aos jornalistas, que a inadimplência de pessoa física, que atingiu 3,5% em julho, é a mais baixa desde o início da série histórica do BC, de março de 2011.

Saldo total

O chefe-adjunto do Departamento de Estatísticas do Banco Central destacou que a alta de 2,4% do saldo total de crédito em 12 meses até julho é a maior desde abril de 2016, quando avançou 2,6%.

Além disso, ele pontuou que, no crédito livre, esse crescimento em 12 meses foi de 7,7% até julho, o maior desde setembro de 2013. "Estamos recuperando o ritmo de crescimento do crédito de cinco anos atrás", disse Baldini.

Baldini afirmou que um fator sazonal justifica a redução do saldo de crédito para pessoas jurídicas no mês passado. Conforme os dados do BC, o saldo de crédito total - que reúne operações livres e direcionadas - cedeu 1,0% em julho ante junho. No caso do crédito livre (sem recursos do BNDES e da poupança), a retração foi de 1,3%.

"Algumas empresas do setor de comércio, historicamente, procuram menos algumas modalidades de crédito em julho, como o desconto de duplicatas e a antecipação de recebíveis. Sobretudo grandes empresas, que fazem antecipação de recebíveis em volumes maiores", explicou Baldini.

A redução da busca por crédito nessas linhas, em julho, reduz o saldo de crédito e as concessões. Por outro lado, tem o efeito de elevar as taxas de juros, em função da menor demanda. De acordo com o BC, o juro total médio para pessoas jurídicas, considerando todas as modalidades, subiu 0,4 ponto porcentual em julho, para 15,9% ao ano. No crédito livre, a alta também foi de 0,4 ponto, para 20,6% ao ano. "Há uma elevação das taxas de juros explicada por saída de operações de menor custo no mês de julho", disse Baldini.

Ele pontuou ainda que, no caso de concessões, houve recuo de 3,9% em julho ante junho, para R$ 299,3 bilhões. Neste caso, o número considera concessões para empresas e pessoas físicas. No caso específico de pessoas físicas, houve queda de 10,4%. "No entanto, o dado dessazonalizado indica crescimento de 2,2% nas concessões de crédito total e também nas concessões para empresas", acrescentou Baldini, ao comentar o impacto sazonal registrado em julho.