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Declaração de Bolsonaro derruba Eletrobrás

Luciana Dyniewicz, Renée Pereira e Fernanda Nunes

Rio de Janeiro e São Paulo

11/10/2018 07h00

O mercado reagiu mal à mudança de tom no discurso do candidato Jair Bolsonaro (PSL) em relação às privatizações. Depois de ele criticar a venda da Eletrobrás na noite de terça-feira, 9, as ações da estatal de energia caíram 9,1% na quarta-feira, 10. O Ibovespa, principal índice da Bolsa, recuou 2,8% e o dólar subiu para R$ 3,76. "A gente vai vender (a Eletrobrás) para qualquer capital do mundo? Você vai deixar a nossa energia na mão da China? A gente pode conversar sobre distribuição, mas sobre geração não", afirmou o candidato, na noite de terça, em entrevista à TV Bandeirantes - hoje, os chineses já são os maiores geradores de energia privada do País.

O discurso de Bolsonaro vai na direção oposta da cartilha liberal de seu guru econômico, Paulo Guedes, que sempre defendeu a venda das empresas estatais para arrecadar dinheiro para o pagamento da dívida pública e para viabilizar seu projeto de reforma da Previdência.

Na semana passada, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o general Oswaldo de Jesus Ferreira, também da equipe de Bolsonaro, já havia indicado a intenção de não privatizar empresas consideradas estratégicas, como Petrobrás, Furnas, Caixa e Banco do Brasil. Ferreira, porém, havia confirmado que a Eletrobrás iria para a iniciativa privada.

Na segunda e na terça-feira, os papéis da empresa avançaram 17,3% e 3,68%, respectivamente, com a possibilidade de a privatização da estatal sair do papel dado o fortalecimento do presidenciável na corrida eleitoral após o primeiro turno.

"Só está surpreso (com a fala de Bolsonaro) quem não fez a lição de casa. Bolsonaro e os que foram eleitos com ele (os parlamentares do PSL) têm visões parecidas: nacionalizantes e contra propostas liberalizantes", disse o economista Marcos Lisboa, presidente da instituição de ensino superior Insper e secretário de Política Econômica no Ministério da Fazenda entre 2003 e 2005.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, também destaca que o candidato tem visão estatizante e critica o fato de o mercado financeiro ter comprado a ideia de que ele mudaria o modo de pensar em apenas um ano. "O mercado acredita no que quer. Mas, por 30 anos, ele teve uma postura estatizante. Não seria convertido da noite para o dia."

Desde o começo da campanha eleitoral, Bolsonaro admitiu não entender de economia e destacava sempre que deixaria o assunto nas mãos de Guedes. Quando o economista sugeriu o retorno da CPMF (imposto sobre movimentação financeira), no entanto, o candidato rapidamente o desautorizou.

Para Vale, diante dessas divergências ideológicas - que estão ficando mais expostas no fim da corrida eleitoral -, a permanência de Paulo Guedes em um eventual governo Bolsonaro deve durar menos de um ano.

Petrobrás

A entrevista de Bolsonaro à Bandeirantes também resultou, na quarta-feira, 10, em uma queda de 3,7% nas ações ordinárias (com direito a voto) da Petrobrás. O candidato declarou que a estatal não pode se "salvar" e "matar a economia", em referência à política de paridade internacional praticada pela estatal, que acompanha internamente os preços praticados nas principais bolsas de negociação de commodities. Essa política foi adotada durante o governo de Michel Temer, na gestão de Pedro Parente no comando da petroleira, e foi uma das desencadeadoras da greve dos caminhoneiros.

Esse novo discurso do candidato do PSL em relação às estatais assemelha-se ao projeto petista, destaca Vale. "Acho que se ele (Bolsonaro) que ser diferente (do PT), precisa sinalizar melhor ao mercado", disse Vale. Lisboa compartilha a mesma opinião: "Muitos aspectos econômicos do discurso (de Bolsonaro) são semelhantes ao do governo do PT pós 2008. Mas um candidato (Bolsonaro) vende pela direita e outro (Fernando Haddad) pela esquerda."

O programa de Haddad afirma que pretende "suspender a política de privatização de empresas estratégicas para o desenvolvimento nacional" e que a política de preços da Petrobrás será "reorientada".

"O mercado brasileiro é aberto a importações e, portanto, não é possível manter os preços domésticos desalinhados dos preços internacionais. No entanto, não é necessário que esses ajustes se façam ao sabor da volatilidade diária, diz o documento" Procurados, economistas do programa do PT não quiseram dar entrevistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.