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Segunda diretora na história da Aneel, Elisa Silva defende o contraditório

Anne Warth

Brasília

16/01/2019 20h55

Pela segunda vez em 21 anos, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) tem uma mulher no quadro de diretores. Elisa Bastos Silva assumiu o cargo há um mês, mas sua atuação já chama a atenção do setor elétrico.

Aos 35 anos, Elisa é analista de sistemas, com mestrado e doutorado na área de comercialização e leilões de energia pela Unicamp. Por três anos, trabalhou na assessoria econômica no Ministério de Minas e Energia, na equipe da atual secretária-executiva da pasta, Marisete Dadald Pereira. Antes, ela esteve na distribuidora Celg, hoje Enel Goiás.

Assumidamente feminista em um setor quase que dominado por homens, Elisa ressalta que chega à diretoria colegiada da Aneel - composta por outros quatro homens, para trabalhar em conjunto, mas não de forma uníssona.

"Não vejo problema em divergir, mas sim quando todos pensam igual. É no contraditório que construímos uma opinião respaldada. Quem ganha com isso é a população e o País", afirma.

Para fazer parte de sua equipe, Elisa convidou três mulheres e formou um dos grupos mais fortes e tecnicamente preparados da agência reguladora. Ela também é a única dos cinco diretores da Aneel a ter doutorado.

Na história do órgão regulador, dos 21 diretores, apenas três, além dela, tinham a mesma formação no início de mandato -a ex-diretora Joísa Dutra e os ex-diretores Jerson Kelman e Edvaldo Alves de Santana. De 20 superintendências da Aneel, apenas uma é liderada por uma mulher.

"As mulheres têm assumido posições de liderança há pouco tempo. Está claro que nós temos que provar nossa capacidade antes de chegarmos a esses postos. Já os homens, muitas vezes, são alçados a esses cargos apenas pelo potencial que apresentam. Essa é uma cultura que precisamos mudar", diz Elisa.

Com opiniões fortes, Elisa sabe a responsabilidade que tem nas mãos e as expectativas que terá que cumprir. Um de seus focos, segundo ela, é fortalecer a governança do setor. "Não cabe à Aneel fazer políticas públicas. Isso é tarefa do Ministério de Minas e Energia. E não cabe ao ministério regular o setor. Esse trabalho é da Aneel. Não devemos invadir competências e nem ter competências invadidas", diz.

Entre os desafios do setor elétrico, Elisa destaca o atual modelo regulatório e de comercialização do setor. Ela ressalta a necessidade de melhora no sistema de formação de preços de energia e de medidas que ampliem a liberalização do mercado.

"Temos que olhar os casos específicos, o setor, a economia e o País, mas não podemos nos esquecer de olhar a população e minimizar os impactos aos consumidores", diz. "Temos muitos problemas a resolver no setor elétrico e o cobertor é curto, por isso a importância de decisões equilibradas."

Outra preocupação da diretora são as centenas de ações judiciais no mercado de energia. "Temos que aprender com as decisões desacertadas do passado e buscar soluções que equacionem esses problemas", disse. "A judicialização aumenta a percepção de risco, o custo de capital de novos investimentos e, consequentemente, a tarifa final do consumidor."