Startup usa inteligência artificial para fazer maionese sem ovo
"Hoje produzimos muitos vegetais apenas para alimentar os animais que vão virar carne. Por que não podemos cortar os intermediários?", explica o presidente executivo da empresa, Matías Muchnick, ao 'Estado'. No Chile, a maionese da startup já tem 10% de participação no mercado local; aqui no Brasil, os potes de 350 gramas do produto chegarão à rede Pão de Açúcar por preços em torno de R$ 10.
"Queremos trazer algo premium, mas acessível aos consumidores. A maionese, porém, é só o começo: queremos explicar como podemos levar novos produtos ao mercado", diz o executivo, que fundou a NotCo com dois sócios em 2015 - Karim Pichara, doutor em ciências da computação, e Pablo Zamora, doutor em biotecnologia. No início, a NotMayo será importada do Chile, onde a empresa tem uma fábrica própria. Até o início do segundo semestre, porém, o plano é fabricar a maionese sem ovo localmente, com um parceiro que a empresa não revela.
"Não queremos perder tempo com fabricação, somos bons em desenvolvimento e na área comercial", explica Muchnick, que espera ter no Brasil seu maior mercado. Para isso, está contratando pessoas por aqui - já tem um time de quatro funcionários, liderado por Giuliana Vespa, ex-Ambev. Até o fim do ano, chegará também à Argentina e ao México.
Em 2020, será a vez dos EUA, com a ajuda de um parceiro especial: Jeff Bezos. O presidente executivo da Amazon, por meio de seu fundo de investimentos pessoal, o Bezos Expeditions, participou da última rodada de investimentos da startup. Fundos como o The Craftory, especializado em startups de alimentos, e o latino Kaszek Ventures, também participaram da rodada. "Ainda não conhecemos Bezos, mas é o parceiro ideal: ele tem rede de distribuição na Amazon e no Whole Foods, mas não tem produtos próprios. Nós temos o produto", afirma o executivo.
Tendência
Apostar em produtos de origem vegetal que possam substituir carnes ou derivados de leite não é algo novo: nos EUA, startups como Impossible Foods e Beyond Meat já têm testado algo parecido e lançado hambúrgueres no mercado. A diferença é que, enquanto as americanas fazem modificações genéticas em plantas para conseguir uma carne que "sangre" ao ser colocada na chapa, a chilena apenas combina diferentes materiais - o que envolve menor trabalho regulatório junto a autoridades de vigilância sanitária. "O que a Impossible faz é muito interessante, mas precisa de investimento alto e muito tempo de pesquisa", diz Muchnick.
A startup levou três anos desenvolvendo Giuseppe, seu "algoritmo chef de cozinha", que usa dados nutricionais e sensoriais, além da composição molecular, sobre milhares de plantas e animais para chegar a uma fórmula. Giuseppe, como todo bom chef, não é infalível. "Ele nos sugere receitas que não funcionam, mas consegue aprender com o tempo quais são as melhores combinações sensoriais", explica Karim Pichara, diretor de tecnologia da NotCo.
Além da NotMayo, Giuseppe já tem outras receitas em fase de finalização para chegar ao mercado: o NotMilk (leite) e o NotIceCream (um sorvete que, promete Muchnick, se parece com um gelato italiano). Há ainda dois produtos em fase de elaboração: o NotCheese e o NotYogurt. Durante a entrevista com Muchnick, a reportagem do 'Estado' teve a oportunidade de provar a NotMayo: em um teste cego, poderia muito bem passar por uma maionese tradicional encontrada nos mercados brasileiros.
Por outro lado, ao consultar a ficha de informações nutricionais, é fácil perceber que uma colherada da NotCo tem 90% a mais de gordura e 85% calorias a mais que uma concorrente comum. Há diferenças, no entanto, no tipo de gordura de cada produto - a NotMayo alega que tem maior teor de gorduras insaturadas, consideradas mais saudáveis (7,2g por colher, contra 3,4g de uma rival comum). Além disso, a maionese chilena diz não utilizar conservantes ou aromatizantes e tem um terço do sódio de uma rival popular no mercado nacional.
Para Maximiliano Carlomagno, sócio da consultoria de inovação Innoscience, o gosto é apenas um dos desafios que a NotCo terá no mercado. "Eles também vão precisar mostrar que têm preço e uma cadeia de distribuição eficiente para fazer sucesso no mercado brasileiro", avalia o especialista. A favor da empresa, porém, há a bandeira de não usar alimentos de origem animal - permitindo atingir um público vegetariano e vegano - e a gourmetização. "É um produto que traz inovação pendurada em sua embalagem e isso atrai o consumidor", diz Carlomagno.
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