Apple muda estratégia e entra na era dos serviços
Em um futuro próximo, será possível nos EUA pagar contas com um cartão de crédito da Apple, operado com auxílio do banco Goldman Sachs e da Mastercard, com direito a retorno (cashback, em inglês) nas compras e um cartão físico de titânio. Ou ter acesso a um acervo de 300 publicações, incluindo títulos como Time e New Yorker, por US$ 10 mensais.
Por quantias ainda não reveladas, também será possível jogar games exclusivos em qualquer dispositivos da empresa ou ver séries e filmes produzidas com o aval da Apple - incluindo a participação de Steven Spielberg e Oprah Winfrey, que estiveram no evento nessa segunda-feira. O Apple TV+ chega ao Brasil no segundo semestre; os outros serviços não têm data prevista para o País.
Troca
Há uma razão para a Apple apostar em serviços: ao contrário das últimas décadas, quando conseguia inovar em dispositivos novos depois de ver uma categoria perder atratividade, hoje a Apple vê o mercado de produtos desacelerar. As pessoas já não estão mais comprando seus primeiros smartphones e nem substituindo celulares a cada ano. Nos últimos tempos, as novidades do setor foram evoluções incrementais em design ou em desempenho.
A Apple é dependente de seus produtos: no quarto trimestre de 2018, 61% de sua receita vieram das vendas de iPhones. Outros 27% vêm de iPads, Macs ou relógios inteligentes. No início do ano, ao anunciar que teria queda nas receitas com baixas vendas do iPhone, as ações da empresa chegaram a cair 10%. "Investir em serviços é a saída para a Apple", diz William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora Avenue.
Não é algo exatamente novo: a fabricante do iPhone há tempos já oferece a seus usuários um serviço de streaming de música, outro de armazenamento na nuvem e um sistema de pagamentos móveis. Ao todo, o setor de serviços rendeu à empresa US$ 10,9 bilhões no quarto trimestre de 2018 - ou 12% do faturamento no período, contra 10% um ano antes. Além disso, é o setor que trouxe à Apple margens de lucro na casa dos 60%, ante cerca de 35% na divisão de produtos, entre outubro e dezembro passados.
Suíte
Com os lançamentos dessa segunda-feira, porém, a empresa tem uma "suíte completa de serviços", capaz de fazer os usuários de seus dispositivos seguirem gastando dentro de seu ecossistema. "Acreditamos que a Apple pode conquistar 100 milhões de consumidores em seu streaming de vídeo", afirma Dan Ives, analista da corretora Wedbush Securities.
O setor de serviços traz ainda duas vantagens à Apple. A primeira são receitas recorrentes todos os meses, em vez de receber apenas uma vez por uma venda, em faturamento sazonal. A outra é ajudar a estimular a demanda por seus dispositivos, uma vez que os serviços serão exclusivos para as plataformas da empresa.
Para analistas, porém, há diversas dúvidas sobre os serviços apresentados pela companhia comandada por Tim Cook. Um deles é a falta de inovação demonstrada pelos produtos. "Nenhum dos lançamentos é disruptivo e todos já têm concorrentes presentes no mercado. A Apple jogou de forma segura", diz Alves, da Avenue.
A concorrência é um problema: no vídeo, a Apple terá rivais como Netflix e Amazon, já presentes no mercado, ou Disney, que se lançará no setor ainda este ano. Nos games, terá de bater de frente com Google, Microsoft e Sony.
Preocupa também os investidores saber se a Apple está gastando dinheiro corretamente - e se será capaz de recuperar o que apostou agora. Só no serviço de vídeo serão US$ 2 bilhões. "A companhia está tentando se diferenciar de seus rivais ao se mostrar como confiável, dizendo que manterá dados sob privacidade", diz Ives, da Wedbush. Nessa segunda-feira, após o evento, as ações da empresa fecharam o pregão da Nasdaq em queda de 1,2%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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