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'Economia brasileira se mantém robusta, apesar da pandemia', diz professor de Harvard

Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) e atualmente professor da Universidade Harvard, durante entrevista - Garrige Ho / South China Morning Post via Getty Images
Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) e atualmente professor da Universidade Harvard, durante entrevista Imagem: Garrige Ho / South China Morning Post via Getty Images

Ricardo Leopoldo

Do Estadão Conteúdo, em São Paulo

09/06/2021 08h19Atualizada em 09/06/2021 19h28

Apesar da pandemia do coronavírus, a economia brasileira "está surpreendentemente robusta", inclusive com o Produto Interno Bruto (PIB) voltando ao nível anterior ao registrado ao surgimento da covid-19, mas o desemprego alto é um problema que depende do avanço da vacinação e do controle da doença, diz Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) e atualmente professor da Universidade Harvard, em entrevista exclusiva para o Estadão/Broadcast.

A entrevista, a seguir, foi concedida na véspera da participação de Rogoff como palestrante no evento Bradesco BBI, na 12.ª London Conference para investidores internacionais, que neste ano ocorre de forma virtual.

Como o sr. avalia as perspectivas econômicas no Brasil no curto prazo?

O Brasil está tendo muitos dos problemas que todos os outros países registraram com a pandemia. Há um grande aumento da desigualdade social, gerando agitação política etc. No entanto, a economia está surpreendentemente robusta. O País já registrou a volta do PIB para o mesmo nível anterior ao surgimento da covid-19, o que é notável. Os mercados de dívida continuam incrivelmente resilientes. O Brasil fez muitas mudanças, foi capaz de lidar muito bem com a crise e está muito melhor do que eu poderia estimar no passado recente.

Como a recuperação da economia poderá ser sustentável se o ritmo da vacinação é muito lento?

A vacinação virá, talvez com um atraso de um ano em comparação com economias avançadas. Há um temor de que, se a retomada não for longa o suficiente, poderá não ser somente um ano, mas uma década perdida na economia, como manifestam meus amigos no Brasil que estão preocupados. Porém, a trajetória até o momento sugere, particularmente, para um forte mercado emergente como o Brasil, que terá uma boa recuperação. É difícil saber. Há recuperações bem divergentes. Os países ricos estão indo muito bem, as nações com baixa renda têm uma situação terrível e os mercados emergentes estão em algum lugar na metade desses dois caminhos e poderão ir para uma direção ou a outra.

A taxa de desemprego no Brasil passou de 14%. O sr. considera que ela poderá baixar neste ano ou no próximo?

Eu penso que será difícil corrigi-la até que o programa de vacinação (avance) e o que a doença esteja sob controle.

Como o sr. avalia a tendência da inflação nos EUA?

A recuperação está ocorrendo bem mais rápida e forte do que qualquer um imaginava, em grande parte por causa das vacinas, mas também pelo enorme apoio de gastos do governo prevenindo uma longa duração dos efeitos da pandemia.

Ao mesmo tempo, há uma imensa variedade de gargalos na economia global, entre eles no fornecimento de microprocessadores. Claro que a inflação vai subir neste ano. Eu tenho visto a secretária do Tesouro, Janet Yellen, dizer que pode chegar a 3% em 2021, mas é uma estimativa baixa.

Os EUA crescerão acima de 7% neste ano e 4% em 2022. A verdadeira questão é se a inflação subirá muito a ponto de levar o Federal Reserve a aumentar os juros bem mais cedo do que avalia. Pelo ponto de vista dos países emergentes, como o Brasil, a preocupação é se a inflação explodirá, o que forçaria o Fed a elevar os juros por questões domésticas, o que seria muito doloroso para os mercados internacionais. Não é o cenário mais provável, mas é certamente o maior risco no momento.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.