Ainda não é o momento do BC 'baixar a guarda' com os juros, diz Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avisou nesta sexta-feira, 26, que ainda não é o momento de a autoridade monetária "baixar a guarda" em relação aos juros no Brasil. Ele fez a declaração durante o "1618 Spring Investment Meeting", promovido pela 1618 Investimentos ao comentar que, pelas projeções do mercado financeiro, é possível ver a precificação da taxa básica com pouco espaço de alta nos próximos seis meses e depois visualiza-se a expectativa de uma queda.
No evento, o presidente do BC disse que a inflação mudou de forma tão drástica e estrutural que contaminação de preços também se dá de forma diferente. "Ainda achamos que há correção a ser feita pela frente de juros pelo Banco Central", considerou.
Segundo ele, no entanto, o Brasil está em um nível diferente, com juro mais alto do que em outras praças, mas nível de contaminação de preços também maior. "O Brasil fez movimento mais rápido e agressivo em juro", comparou.
Inflação e preços de energia
Campos Neto relatou que na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), houve uma preocupação com as tendências dos preços de energia. "Estávamos vendo que os preços da energia estavam subindo e o capex caindo. Isso é muito ruim porque, se isso ocorre, é um problema mais grave de preços à frente", explicou.
Segundo ele, porém, os investimentos no setor começaram a subir este ano.
O presidente do BC disse ainda que, ao olhar os indicadores de inflação cheia é possível ver que há um movimento de subida ainda "bastante" forte. "A inflação está bem alta. E o argumento de setembro do ano passado ainda vale: qual a janela que o mercado está precificando?"
Segundo ele, o que é apontado hoje é que as projeções para o crescimento estão mais baixos e logo na sequência há uma inflação mais baixa à frente.
Comparação com a inflação no restante do mundo
O presidente do Banco Central afirmou também que é preciso contemporizar a diferença das tendências da inflação no Brasil e no restante do mundo. Ao apresentar um gráfico de preços nos últimos 20 anos durante o "1618 Spring Investment Meeting", ele disse que a inflação do Brasil hoje está abaixo da média dos países desenvolvidos.
"Remeter a inflação atual do Brasil com a de 2014 é algo diferente", disse. "É importante contemporizar, pois antes era inflação made in brazil. Agora, nossa inflação está bem abaixo da média dos países desenvolvidos.", continuou Campos Neto.
Segundo o presidente do BC, essa diferença que mostra uma alta menor dos preços no Brasil hoje revela "o trabalho que vem sendo feito" por todo o governo e citou, inclusive, atuações na área de saneamento. "É um trabalho de formiguinha, é um efeito combinado."
Expectativas para 2023 e 2024
O presidente do Banco Central disse também que as expectativas do mercado para a inflação de 2023 e 2024 começaram a acomodar e devem começar a cair. "A gente vê as expectativas do mercado para a inflação deste ano caindo, um pouco pelas medidas do governo. A gente acha que as expectativas de inflação de 2023 e 2024 começaram a acomodar e vão começar a cair em algum momento", comentou.
Apesar da melhora no cenário, o presidente do BC reiterou que a maior parte dos impacto do aumento de juros já conduzido pela autarquia ainda não se materializou na economia e que a autoridade monetária não deve "baixar a guarda". "A gente ainda tem um desafio grande pela frente", disse o presidente do BC. "Tem muito do que a gente fez que ainda não tem efeito na economia, então, a gente leva isso em consideração. Mas a gente precisa sempre passar uma mensagem, quando a gente chega no comunicado, que a gente está vigilante."
Estender horizonte relevante da política monetária
O presidente do Banco Central defendeu também a decisão da autarquia de estender o horizonte relevante da política monetária. Para ele, a medida é adequada para responder à incerteza em torno dos impactos da retomada da cobrança de impostos desonerados pelo governo."Decidimos que isso era melhor do que fazer uma meta ajustada, porque a gente tinha mais certeza sobre o quando ia voltar e menos certeza sobre o quanto ia voltar. Como a incerteza estava na quantidade e a certeza estava no efeito temporal, a gente preferiu estender o horizonte relevante", disse.
Na sua última decisão de juros, a autoridade optou por mirar a convergência da inflação para a meta no primeiro trimestre de 2024, e não mais no fim de 2023. No comunicado, divulgado no dia 3 de agosto, o Copom afirmara tratar-se de uma medida que "suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias."
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