Com aversão global, Ibovespa inicia agosto em baixa de 0,20%, aos 127,3 mil

O Ibovespa lutou até o meio da tarde por sinal positivo neste primeiro fechamento de agosto, após a recuperação vista nos dois meses anteriores, especialmente em julho, quando subiu 3%. Mas, do meio para o fim da tarde, o índice da B3 não conseguiu resistir à forte correção em Nova York nesta abertura de mês e também à pressão no câmbio, que foi negociado a R$ 5,74 na máxima desta quinta-feira.

Assim, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 0,20%, a 127.395,10 pontos, entre mínima de 127.149,63 (-0,39%) e máxima de 128.761,54 pontos (+0,87%) na sessão, em que saiu de abertura aos 127.652,02 pontos.

O giro financeiro foi a R$ 23,8 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa recua 0,08% e, no ano, acumula perda de 5,06%.

A aversão global que prevaleceu nesta quinta-feira colocou o ouro - um típico ativo defensivo, buscado em momentos de risco econômico e geopolítico - no maior nível histórico intradia na Comex, de Nova York, a US$ 2.506,60 por onça-troy. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam com perdas entre 1,21% (Dow Jones) e 2,30% (Nasdaq) a sessão, em que o índice de volatilidade (VIX) atingiu o maior nível desde abril, refletindo o aumento da percepção de risco.

No dia seguinte à celebração de sinais mais brandos do Federal Reserve sobre a orientação da política monetária nos Estados Unidos, vieram dados mais fracos tanto sobre a economia americana como sobre a chinesa, as duas maiores do mundo, o que resultou em retomada de temores sobre o nível de atividade global. E, como pano de fundo, as tensões geopolíticas no Oriente Médio que afetam diretamente os preços de commodities, como o petróleo (em baixa de 1,63% no Brent), e reforçam a demanda por dólar, a principal referência entre as moedas.

"Houve realização de lucros forte em Nova York após a decisão de ontem do Federal Reserve. O mercado ansiava muito pela expectativa de o corte de juros se materializar em setembro, e foi o que se teve ontem, com o tom dovish, flexível, mostrado pelo Fed", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Hoje veio um ajuste, em meio a uma temporada de resultados trimestrais volátil, que traz nesta noite dois nomes importantes: Apple e Amazon", acrescenta.

Na B3, "seis das 10 empresas mais pesadas do Ibovespa tiveram dia negativo", aponta Anderson Silva, sócio da GT Capital, destacando a forte pressão observada no câmbio especialmente à tarde, que lançou o dólar à vista a R$ 5,74 no pico da sessão. Vale ON fechou em baixa de 2,24%, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 1,85% (na mínima do dia no fechamento, a R$ 39,85) e 1,52%. Na ponta perdedora do Ibovespa, Dexco (-4,38%), Embraer (-4,09%) e Cogna (-3,95%). No lado oposto, Vivo (+4,31%), Weg (+4,30%) e Marfrig (+3,71%).

"A manutenção da taxa de juros no Brasil aconteceu - porém, o governo ainda não fez ação que melhore o cenário com relação ao fiscal, o que deixou os vencimentos futuros de DI mistos na sessão, com parte deles ainda exigindo prêmio maior. O governo diz 'baixe os juros', o mercado diz 'suba os juros', e o Banco Central faz malabarismo para equilibrar tudo isso", acrescenta Silva.

Para Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos, a decisão unânime do Comitê de Política Monetária (Copom), de manter, conforme esperado para a noite da quarta-feira, a Selic em 10,50% ao ano, foi acompanhada por comunicado "duro, mas inteligente", no qual se reconhece a "deterioração das expectativas, a piora do quadro fiscal e a depreciação do câmbio".

"Os riscos exigem uma política monetária apertada por mais tempo", aponta Boragini em nota, na qual ressalva não ter havido, no comunicado da noite da quarta, "qualquer indicação" de que o Copom planeja aumentar a taxa de juros, ao contrário de receios que vinham sendo precificados na curva de juros futuros.

No câmbio, a superação de níveis como o de R$ 5,70 aciona ordens de 'stop loss', o que resulta em vendas automáticas de ativos denominados em real e em aumento da demanda por dólares, observa em nota Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. "Dados econômicos fracos nos Estados Unidos, como os que mostraram, hoje, desaceleração da atividade industrial e aumento dos pedidos de seguro-desemprego, fortalecem o dólar como ativo de refúgio", acrescenta.