Temor com atividade nos EUA e commodities impedem Ibovespa de avançar com PIB forte do Brasil
Após ter avançado 0,03% na máxima de 134.947,77 pontos, o Ibovespa perdeu tração e renovou mínima há pouco diante da aceleração do recuo das cotações do petróleo no exterior e das bolsas norte-americanas. Na volta do feriado, os índices de ações de Nova York iniciaram o pregão em baixa, com os rendimentos dos Treasuries também operando em queda.
As bolsas norte-americanas e o petróleo aprofundavam as perdas, em meio à divulgação do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial dos EUA. O indicador atingiu 47,9 em agosto, de 49,6 em julho, segundo pesquisa final divulgada hoje pela S&P Global. O resultado é indicação de contração da economia norte-americana.
Desta forma, o crescimento acima do esperado do PIB brasileiro no segundo trimestre é insuficiente para impedir a queda do Índice Bovespa. "Fatores globais estão pesando mais do que os locais. O PMI industrial dos EUA parece que está assustando um pouco o mercado", avalia Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital.
O PIB brasileiro registrou alta de 1,4% no segundo trimestre de 2024 ante o primeiro trimestre, informou hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado ficou perto do teto das estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, que variavam de 0,4% a 1,6%, com mediana em 0,9%. Na comparação com o segundo trimestre de 2023, o PIB apresentou alta de 3,3%, resultado que ficou acima da mediana das estimativas do mercado (2,6%).
"O PIB surpreendeu positivamente mesmo com o agro desacelerando caiu 2,3% no 2º tri ante o 1º", afirma o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus. "Agrada pontualmente", completa, ao referir-se à possibilidade de mais pressão de uma inflação e taxa básica juros, a Selic, maiores.
Com o declínio das commodities - o minério de ferro cedeu quase 5% em Dalian - as estrelas do Índice Bovespa têm quedas fortes. Às 11h08, Petrobras tinha baixas entre 1,31% (PN) e 1,61% (ON), enquanto Vale ON perdia 2,69%. Desta forma, sobrepunha ao avanço de ações ligadas ao consumo na esteira do PIB e de papéis de grandes bancos.
Ao comentar o PIB, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que "muito provavelmente" o governo irá reestimar a previsão de expansão do PIB de 2024. O ministro disse que pode "superar 2,7%, 2,8%". A última previsão feita pela Secretaria de Política Econômica da pasta, em julho, manteve a estimativa em 2,5%. Neste mês, a SPE publicará sua grade de parâmetros atualizada.
Às 11h17, o Ibovespa tinha alta queda de 0,41%, aos 134.353,36 pontos, ante mínima aos 134.259,54 pontos (-0,48%).
Vale tinha declínio de 2,76%, liderando o grupo das perdas da carteira teórica. Petrobras tinha desvalorização em torno de 1,26% (PN) e 1,57% (ON). Já na ponta das altas, destaque a algumas ações de varejistas como Carrefour e Lojas Renner, com ganho em torno de 3,00%. A maior elevação era 6,31%, de Yduqs.
A empresa informou que o conselho de administração da companhia aprovou um programa de recompra de ações ordinárias de sua emissão de até R$ 300 milhões, que correspondem, pela cotação do último fechamento, a 31.023.785 de ações.
Capital externo
Ontem, o Ibovespa fechou com queda de 0,81%, aos 134.906,07 pontos. Em agosto, avançou 6,54% e o investimento estrangeiro direto somou de R$ 10,013 bilhões. Foi o segundo mês seguido do ano a fechar no azul. No acumulado de 2024, contudo, o capital externo segue negativo em R$ 26,557 bilhões.
O início de um ciclo de redução de juros nos Estados Unidos neste ano e a expectativa de uma bem-sucedida temporada de balanços corporativos brasileiros no terceiro trimestre são alguns dos fatores que devem manter o ingresso de capital externo na B3. A opinião é de Guto Leite, gestor de renda variável da Western Asset.
"A economia, no segundo trimestre, apresentou um desempenho robusto e a expectativa é que o PIB do segundo trimestre seja o dobro do previsto pelos economistas, impulsionado por dados fortes em varejo, serviços, produção industrial, emprego e indicadores de confiança. Esse cenário aumenta o interesse em investimentos no Brasil, que segue com preços atraentes entre os mercados emergentes", avalia a chefe de estratégia para ações do JPMorgan no Brasil, Emy Shayo.
Essa melhora dos fundamentos da economia brasileira tem estimulado o Ibovespa, avalia Enrico Cozzolino, head de analise e sócio da Levante Investimentos. "Se nada for alterado, o principal indicador da B3 tende a avançar mais e o capital estrangeiro a continuar entrando", estima.
*Com Beatriz Capirazi e Caroline Aragaki
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