Errático, incoerente e limitado: por que o pacote para "salvar" o PIB não agradou nem um pouco
SÃO PAULO - Ontem, o governo anunciou medidas de estímulo ao crédito que injetarão R$ 83 bilhões na economia de modo a impulsionar a produção e recuperar o crescimento.
O BNDES responderá com R$ 24 bilhões, sendo que os refinanciamentos das prestações do PSI e do Finame responderão por R$ 15 bilhões. Além disso, será reaberta a linha de capital do giro do banco, para pequenas empresas, com um volume de recursos de R$ 5 bilhões. Também serão oferecidos R$ 4 bilhões na linha de pré-embarque do BNDES.
O FGTS também foi envolvido nesse novo programa de crédito do governo, com uma contribuição total de R$ 49 bilhões. Será criado um limite de R$ 10 bilhões para que o Fundo aplique em CRI. Além disso, o FI FGTS investirá R$ 22 bilhões em programas de infraestrutura. Finalmente, serão utilizados R$ 17 bilhões do FGTS a titulo de garantia das operações de crédito consignado dos trabalhadores do setor privado. O Banco do Brasil através de sua carteira de crédito rural investirá R$ 10 bilhões numa linha de pré-custeio rural.
O governo buscou gerar ânimo com o pacote, com os líderes governistas avaliando estas medidas como um começo, que sinaliza positivamente para investidores e para o Congresso. M as não foi isso o que aconteceu.
Em um contundente relatório, a consultoria de risco político Eurasia ressaltou que, ao invés de uma virada decisiva para a esquerda, o anúncio é visto “como prova de uma estratégia de política econômica cada vez mais errática e até mesmo incoerente”.
Para os consultores que assinam o relatório, "i sso representa uma grande mudança, pois até este ano, a política econômica vinha sendo, em grande parte coerente, mesmo que sujeita a oscilações importantes”.
A Eurasia aponta que tanto Dilma Rousseff quanto Nelson Barbosa estão cientes de que abordar os desequilíbrios fiscais continua sendo essencial para conter a atual crise de confiança nos mercados e é fundamental para acabar com a recessão. Porém, o que "parece agora é a indicação de que a política econômica sob Barbosa será cada vez mais errática e um tanto incoerente”.
A consultoria aponta ainda que a "única pessoa capaz de levar o PT a bordo de um ajuste fiscal de longo prazo é Lula”. O problema, porém, "é que ele está cada vez mais incapaz e sem vontade de fazê-lo dado suas próprias responsabilidades legais".
Sem eficácia
Segundo o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, Neil Shearing, o pacote de estímulos é “grande e de amplo alcance, mas há forças poderosas que irão limitar a sua eficácia em termos de estimular a atividade econômica”.
Assim, destaca, é questionável se ele irá deflagrar a reviravolta na atividade que o governo espera. "A m aioria das medidas são destinadas a aliviar a pressão sobre os devedores existentes - em outras palavras, elas são projetadas para evitar que as coisas piorem em vez de realmente estimular a atividade”.
“Na verdade, é discutível se um programa de flexibilização de crédito poderia fazer muito para revigorar o crescimento, de qualquer modo, dada a enorme quantidade de desalavancagem necessária tanto nas famílias quanto no setor corporativo após uma década de explosão do crédito”.
A mesma avaliação é feita pela LCA Consultores, que aponta que os efeitos na economia destas medidas fiscais serão reduzidos, pois a demanda por crédito tanto das famílias, como das empresas está retraída. Entretanto, esta disponibilidade de crédito poderá ajudar na rolagem dos compromissos das empresas. "Quanto às medidas fiscais, anunciadas pelo governo fica a dúvida quanto à sua viabilidade tendo em vista a atual fragilidade política", afirmam os consultores.
Segundo a Capital Economics, as medidas são bem vindas uma vez que podem ajudar a aliviar a pressão sobre algumas áreas da economia que estão mais endividados e que têm sido pouco mais afetadas pelo aprofundamento da recessão. " Mas somos céticos quanto a saber se elas vão fazer muito para tirar a economia da atual queda”.
(Com Bloomberg)
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