Temer ganhou ou perdeu? As questões que o mercado se faz após a eleição
SÃO PAULO - As eleições municipais de 2016 foram bem diferentes de pleitos da mesma natureza ocorridos em outros anos. Apesar dessas disputas sempre indicarem a correlação de forças das legendas, o que influencia para as eleições para governadores e presidentes dois anos depois, o impacto do pleito municipal deste ano foi direto sobre as perspectivas para 2018 --e até para os mercados, que se animaram com os resultados das urnas.
Os principais ganhadores e os principais perdedores foram claros nessa eleição: PSDB e PT, respectivamente. O PSDB se recuperou ao eleger 792 prefeitos neste ano ante 695 em 2012 e 791 em 2008, levando ainda a "joia da coroa" com a eleição de João Doria em primeiro turno em São Paulo, a maior cidade do País.
Já o PT foi o grande derrotado nessas eleições ao obter apenas 256 prefeituras nas eleições deste domingo. Em 2012, foram eleitos 638 prefeitos e 557 em 2008. Em termos de capitais, o partido só obteve Rio Branco no Acre e disputará o segundo turno em Recife.
Enquanto isso, o PMDB conseguiu manter sob seu controle o maior número de prefeituras: o maior partido do Brasil elegeu 1027 prefeituras contra 1021 em 2012 e 1202 em 2008.
Porém, saiu com saldo negativo quando comparado a 2012. Em destaque, as derrotas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
"A primeira teve a candidatura apagada de Marta Suplicy, em campanha sem identidade, haja vista seu recente desligamento do PT; a segunda marcou a derrota pessoal de Eduardo Paes e do PMDB, que há quase uma década domina a política no estado do Rio de Janeiro", aponta a Rosenberg Consultores Associados em relatório.
Efeito imediato
Porém, muitas questões ficam no ar após as eleições de 2018. Aliás, o governo ganhou forças para aprovar as reformas ou perdeu com o fortalecimento do PSDB? Quais são as chances de Geraldo Alckmin para 2018 com a eleição de seu afilhado político João Doria? Como será 2018?
O efeito das eleições desembocam no mercado em duas frentes, em perspectiva de longo e curto prazo: o enfraquecimento do PT tendo em vista as eleições de 2018 (o que impactou positivamente o mercado nesta sessão) e a perspectiva para a aprovação de reformas que já estão ou vão entrar em breve na pauta do Congresso.
Conforme destaca o Santander, o resultado do pleito trouxe importantes mensagens para os investidores:
- foi muito positivo para a coalizão do governo e muito negativo para a esquerda;
- por outro lado, políticos associados diretamente ao presidente Michel Temer tiveram resultados negativos levando em conta a baixa popularidade do governo e a impopular agenda de reformas;
- o resultado mostrou que o impeachment é apoiado pela grande parte da população, o que é marginalmente positivo para Temer se ele for capaz de melhorar as condições econômicas.
- destaca que o discurso "liberal" em locais como São Paulo com o candidato do PSDB João Doria mostra que há demanda por menor intervencionismo do Estado;
- por outro lado, a mensagem negativa é que, se realmente a população está à procura de pessoas "novas", aqueles não associados com o establishment político tem chance real de ganhar em 2018, o que pode ser bom ou ruim
- o PT foi o mais prejudicado pelo resultado da eleição e, assim, a chance ter um candidato forte e competitivo em 2018 parece pequeno.
Dentre todos os pontos destacados, justamente o reequilíbrio de forças entre PSDB, PMDB e PT está sendo observado com lupa pelos analistas políticos.
"As derrotas do PMDB em São Paulo e no Rio de Janeiro podem criar no partido a ideia de que o PMDB tem feito o jogo sujo das reformas, enquanto o PSDB se beneficia", aponta a LCA Consultores, que completa: "de qualquer forma, não acreditamos que haverá impacto na votação da PEC do teto, mas pode aumentar a resistência à Reforma da Previdência".
A análise vai em linha com o Santander, que reforça que o resultado é em geral positivo para o mercado, mas que o apoio social para as reformas ainda é muito baixo dado o resultado dos candidatos diretamente associados a Temer.
Por outro lado, "o PSDB emerge novamente como uma força política importante e o PMDB terá que considerá-lo para negociar as reformas, o que é marginalmente positivo para o mercado atual", avalia o banco.
O inverno rigoroso do PT e ascensão de Alckmin
Do ponto de vista dos partidos e a disputa para 2018, enquanto o PT se defronta com a falta de opções para o próximo pleito presidencial, o PSDB evidencia o seu racha e mostra uma maior força de Geraldo Alckmin, que "bancou" a candidatura de Doria apesar da contrariedade dos grandes caciques do partido.
"Alckmin cresce, assim como cresce a estrutura política que o governador está montando, que conta com inúmeras prefeituras eleitas em São Paulo e mais uma sólida aliança com o PSB. Ele, hoje, a contragosto de Aécio Neves –que também caminha para eleger prefeituras importantes em Minas Gerais– e José Serra, que ficou praticamente de fora do processo eleitoral, se cacifa definitivamente como peça importante no tabuleiro da próxima eleição presidencial", destaca o analista político Richard Back, da XP Investimentos.
Por outro lado, ainda há dúvidas sobre a força do governador paulista para 2018, por duas razões principais: como será a avaliação de Doria até o ano da eleição presidencial e também o quanto Alckmin teria "surfado" na onda do "apolítico" Doria.
Em webcast promovida pela Fundação FHC, o professor do Insper Humberto Dantas, destacou que a eleição pode ter sido influenciada muito mais pela questão de se mostrar um quadro fora da política e por conta dos novos desejos da nova classe média após os avanços com o aumento de consumo nos últimos anos.
No mesmo evento, contudo, o professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Cláudio Couto fez uma ressalva, ao destacar que Doria mantinha relações políticas e, com isso, "fazia e faz política".
Do lado do PT, as eleições confirmaram a "já esperada demolição da estrutura política do partido", reforça a XP. Para o analista Richard Back, o derretimento do partido, agora só o décimo colocado em número de prefeituras, marca o fim melancólico de uma era de protagonismo político petista, e trará sérios reflexos para as eleições proporcionais de 2018.
"São prefeitos que elegem deputados, logo, podemos esperar um PT muito menor para a legislatura 2019-2023. Se pode ser precipitado dizer que o PT acabou –se dizia equivocadamente o mesmo do Democratas não muito tempo atrás– pode-se por outro lado afirmar que a legenda viverá um inverno rigoroso, no qual não está preparada.
Já não há produção intelectual, organização estratégica ou mesmo tática, e seu maior líder, Lula, anda acossado pela operação Lava-Jato. Resta saber se o inverno petista terá as consequências que teve o inverno Russo com a “Grand Armée” de Napoleão Bonaparte", afirma a XP. Confira a análise completa clicando aqui.
De acordo com a Eurasia, o PT não está em posição competitiva para a eleição presidencial mesmo com Lula. Contudo, a disputa promete forte fragmentação e aponta: o sucesso de Doria nas urnas mostra eleitores em busca de renovação política.
Assim, uma mudança na corrida presidencial pode muito bem ir a partir do potencial de partidos centristas escolherem alguém fora do circuito tradicional para representar a demanda por renovação.
Desta forma, Alckmin sai na frente para a disputa presidencial - mas, assim como a eleição de 2016 alçou Doria prefeito inesperadamente no primeiro turno, mais surpresas podem vir no pleito de 2018.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.