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S&P: Grau de investimento para Brasil depende de reformas e crescimento mais alto

05/12/2019 18h14

Por Paula Salati

A concretização das reformas fiscais e da agenda de produtividade serão essenciais para o Brasil conseguir recuperar o seu grau de investimento e crescer acima de 3% nos próximos anos.

Porém ainda há muitas dúvidas sobre a agilidade e habilidade política do governo para implementá-las, segundo analistas da agência de classificação de risco Standard&Poor's (S&P).

Durante uma conferência nesta tarde (05/12), o diretor-executivo para Crédito Soberano da S&P, Joydeep Mukherji, disse que o Brasil se destaca dentre os países emergentes da América Latina por ter encaminhado uma agenda de reformas fiscais, mas que a agência monitora os próximos passos com cautela.

"A aprovação da reforma da Previdência Social foi um passo muito positivo para o início das mudanças estruturais. Nós estamos aguardando a implementação das outras reformas. O governo brasileiro tem uma agenda ambiciosa, que inclui as reformas tributária e administrativa, o projeto de lei de independência do Banco Central (BC), etc", disse Mukherji.

Porém, para o diretor da S&P, ainda há dúvidas sobre quais dessas reformas serão efetivamente implementadas e em quanto tempo elas serão aprovadas. O receio gira em torno da capacidade de negociação do governo com o Congresso.

Segundo Mukherji, quanto mais rápido ocorrerem as provações, maiores as chances de o Brasil entrar em um círculo virtuoso de crescimento econômico, que pode até mesmo levar o Produto Interno Bruto (PIB) do país uma expansão de 3% a 4% ao ano.

Por enquanto, as projeções da agência para os próximos anos seguem abaixo de 2,5%: 2019 (+0,8%); 2020 (+2,0%); 2021 (+2,2%) e 2022 (+2,5%).

Somente em meio a um ciclo de expansão acima de 3% e com reformas implementadas é que o Brasil terá a chance de recuperar o seu grau de investimento.

Na S&P, a nota do Brasil é BB-, nível especulativo, com perspectiva estável.

Ainda sobre a questão fiscal, a diretora sênior de finanças públicas internacionais, Daniela Brandazza, lembra que, no Brasil, o sistema de aposentadorias dos estados e municípios ainda pressiona a situação fiscal do país.

De qualquer forma, os analistas da S&P entendem que uma expansão de 2% no próximo ano é uma notícia positiva, tendo em vista a forte recessão que o Brasil passou em 2015 e 2016 e todos os problemas políticos.

"Em 5 anos, o Brasil passou por um impeachment de uma presidente, por escândalos de corrupção que impactaram fortemente setores importantes da economia, passou por desafios fiscais, desaceleração do crescimento mundial", lembrou Mukherji.

"Estamos vendo o Brasil emergir de todos esses fatores negativos", destacou o diretor, lembrando que ainda demora para o Brasil se recuperar totalmente da crise dos últimos anos. "Leva um tempo para as mudanças se solidificarem", acrescentou.

Calote à vista na Argentina

As perspectivas da agência para um dos principais importadores do Brasil, a Argentina, ainda preocupam.

Para Mukherji, a negociação da dívida externa do país junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) será bastante complicada.

O diretor comenta que, anos 2000, foi mais fácil para o país renegociar a sua dívida, tendo em vista a forte elevação dos preços das commodities no período, cenário que permitiu à Argentina maiores receitas em dólar.

Já para os próximos anos, não haverá nenhum novo ciclo de "boom de commodities" capaz de ajudar o país. "Haverá dificuldades na negociação", diz Mukherji.

As projeções de PIB para o país são: 2019 (-3,0%), 2020 (-1,0%), 2021 (+1,5%).

A nota soberana do Argentina é CCC- (que significa alto risco de inadimplência), com perspectiva negativa.

Protestos no Chile

Para a S&P, os protestos no Chile terão forte impacto no consumo e nos resultados do comércio, serviços, aviação e setor de óleo e gás no quarto trimestre de 2019.

Se os efeitos negativos se propagarem pela economia chilena, a situação fiscal do país tende a piorar, reduzindo a credibilidade do país.

Porém, por enquanto, a expectativa é que o rating do Chile se mantenha estável, com grau de investimento AA-, com perspectiva estável.

As projeções para o PIB do Chile são: 2019 (+2,0%); 2020 (+2,4%); 2021 (+2,9%).