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De forma unânime, BC decide manter juros em 10,75% ao ano

Da Redação, em São Paulo

20/10/2010 20h18

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu nesta quarta-feira (20) manter a taxa básica de juros (a Selic) em 10,75% ao ano. A decisão foi unânime entre os integrantes do comitê.

Em curto comunicado, o Copom afirmou apenas que tomou a decisão “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”.

Com a decisão, já esperada pelo mercado, a taxa fica no mesmo patamar das últimas duas reuniões do Copom (21 de julho e 1º de setembro) e segue sendo a maior desde março do ano passado, quando estava em 11,25%.

"É um comunicado neutro para reforçar mensagens já  passadas. Reforça a tese de que provavelmente os juros vão ficar parados por um bom tempo", comentou Roberto Padovani, estrategista-chefe do WestLB do Brasil, à agência de notícias Reuters.

Ao manter a Selic em 10,75%, o Brasil também continua com os maiores juros reais do mundo. Os juros reais descontam a inflação projetada para os próximos 12 meses.

Fazendo essa conta, os juros básicos no Brasil ficam em 5,3% ao ano. Em segundo, vem a África do Sul, com taxa real de 2,4%. Em terceiro, está a China, com 2%.

O ranking dos juros reais foi elaborado pelo analista internacional da Apregoa.com – Cruzeiro do Sul, Jason Vieira, com a colaboração do analista de mercado da Weisul Agrícola, Thiago Davino.

A pesquisa de juros reais não inclui todos os países do mundo, mas 40 economias relevantes. O país com menor taxa nesse ranking é a Venezuela, com -8,25%.

JUROS REAIS EM PAÍSES SELECIONADOS
(Descontada a inflação)

PaísTaxa
1º - Brasil5,3%
2º - África do Sul2,4%
3º - China2%
38º - Grécia-4,4%
39º - Índia-4,4%
40º - Venezuela-8,2%
  • Fontes: Jason Vieira/Thiago Davino

Segundo o Boletim Focus divulgado na última segunda-feira (18), pesquisa semanal do BC com profissionais do mercado, a previsão é que a taxa de juros não sofrerá alteração até o final deste ano. A próxima reunião do Copom será realizada nos dias 7 e 8 de dezembro.

"Guerra cambial"

A chamada "guerra cambial", que opõe os interesses de países ricos e emergentes com relação ao câmbio, também está diretamente relacionada à Selic.

Ao possuir juros reais elevados, o Brasil se torna atrativo para o investidor estrangeiro. Isso faz com que aumente a entrada de dólar no país e, consequentemente, a queda da cotação da moeda norte-americana ante o real.

Para evitar que o real se valorize demais, o que prejudica as exportações brasileiras, em apenas 14 dias o governo aumentou duas vezes o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre recursos de estrangeiros que investem em renda fixa. A alíquota passou de 2% para 6%.

Impacto na vida das pessoas

A Selic é a taxa básica de juros. Ela é usada como base, por exemplo, para os juros cobrados quando se parcela uma compra ou se pede dinheiro emprestado no banco. Se os juros básicos aumentam, as lojas fazem o mesmo com o crediário.

Os juros também são usados como política monetária pelo governo para conter a inflação. Com juros altos, as prestações ficam mais caras e as pessoas compram menos, o que restringe o aumento dos preços.

No caso de redução dos juros, o receio do governo é que haja muitas compras e as indústrias não consigam produzir o suficiente. Quando isso acontece, há falta de produtos no mercado, e os que existem ficam mais caros -- é a chamada lei da oferta e da procura.

Um aspecto positivo dos juros altos é que eles remuneram melhor as aplicações financeiras. Isso é bom para os investidores brasileiros e também para os estrangeiros que procuram o país. Quando alguém investe em fundos ou títulos públicos, por exemplo, recebe um rendimento mensal maior se os juros estiverem mais altos.

Por outro lado, os juros altos prejudicam as empresas, que ficam mais receosas de tomar empréstimos para investir em expansão. Por isso os empresários reclamam dos juros altos. Nesse cenário, também se torna mais difícil a criação de empregos.

O Copom foi instituído em junho de 1996 para estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa de juros.

O colegiado que tem direito a voto é formado por oito integrantes: o presidente do BC, Henrique Meirelles, e mais os diretores das seguintes áreas: Política Monetária, Normas e Organização do Sistema Financeiro, Fiscalização, Administração, Liquidações e Controle de Operações do Crédito Rural, Política Econômica e Assuntos Internacionais.

(Com informações da Reuters)