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Comida mundial está na mão de poucos, e agricultor fica pobre, diz estudo

Do UOL, em São Paulo

20/06/2018 21h00

A concentração do mercado de alimentos nas mãos de poucas empresas está esmagando os rendimentos dos pequenos produtores rurais e trabalhadores do campo no mundo todo. Há casos em que a renda dos lavradores é tão baixa que eles chegam a passar fome. Ao mesmo tempo, os ganhos das gigantes do setor engordam.

É o que diz um estudo da ONG britânica Oxfam divulgado nesta quarta-feira (20).

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“A renda dos agricultores vem sendo arrochada de forma brutal, os baixos salários são generalizados e os direitos trabalhistas, negados a pessoas que trabalham para fornecer diferentes produtos a supermercados em todo o mundo”, afirma a diretora-executiva da ONG, Winnie Byanyima. 

Nossas pesquisas concluíram que a grande maioria tem dificuldades para alimentar adequadamente suas próprias famílias
Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam

Mercado está nas mãos de poucas empresas

O estudo aponta que a concentração do mercado se dá em diversas etapas da cadeia de alimentos. Quase 60% do fornecimento de insumos, como fertilizantes e agrotóxicos, é dominado por três multinacionais (Bayer/Monsanto, Dupont-Dow e ChemChina/Syngenta).

No comércio de commodities (matérias-primas) agrícolas, quatro empresas respondem por 70% da receita movimentada (ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus), e 50 fabricantes de alimentos abocanham metade de todas as vendas do setor, de acordo com a Oxfam.

Na ponta final da cadeia, também há dominação de poucas empresas. Na União Europeia, por exemplo, apenas 10 redes de supermercados respondem por mais da metade de todas as vendas de alimentos no varejo.

As distorções são tão profundas, diz a ONG, que o executivo mais bem pago de um supermercado do Reino Unido recebe, em cinco dias, o mesmo valor que uma trabalhadora que colhe uvas na África do Sul ganhará na vida inteira.

‘Pressão implacável’ nos agricultores

Segundo a Oxfam, a concentração faz com que os supermercados tenham cada vez mais poder de impor os seus termos na negociação com os fornecedores. Por um lado, esse cenário é positivo para o consumidor, que tem acesso a mais produtos e a preços mais baixos. Mas, por outro, esse modelo exerce “uma pressão implacável nos fornecedores para reduzir custos”. 

Como há poucas empresas para as quais os produtores podem vender seus alimentos, eles acabam aceitando os termos das grandes redes.

O resultado é que os lavradores ganham fatias cada vez menores dos preços finais observados nos supermercados. A ONG analisou os preços de uma série de produtos em diversos países, como o suco de laranja do Brasil, o café da Colômbia, o cacau da Costa do Marfim e o chá na Índia.

O levantamento mostrou que, do preço final desses produtos nas prateleiras, 8,8% iam para os pequenos agricultores entre 1996 e 1998. Em 2015, a parcela caiu para 6,5%. Na contramão, a mordida das redes de supermercado nos preços das etiquetas aumentou de 43,5% para 48,3% no mesmo intervalo.

Trabalhador chega a passar fome, diz ONG

De acordo com a Oxfam, a disparidade no poder de negociação entre as partes está levando a uma série de práticas comerciais injustas. É o que acontece, por exemplo, quando supermercados mudam os termos dos contratos com produtores rurais por iniciativa própria, adiam pagamentos e cobram taxas para colocar produtos em suas prateleiras ou para punir os fornecedores por reclamações de clientes.

Outra prática comum entre as gigantes do setor de alimentos, segundo a ONG, é pagar aos produtores rurais preços que ficam abaixo do custo de produção, o que ameaça não só a atividade econômica como também a própria subsistência dos lavradores.

Em uma pesquisa realizada em 2017 com centenas de pequenos agricultores e trabalhadores da cadeia de fornecimento de alimentos para supermercados, a organização descobriu que a maioria havia passado fome recentemente.

Na África do Sul, por exemplo, mais de 90% das trabalhadoras entrevistadas em vinícolas disseram não ter tido alimento suficiente no mês anterior. Quase um terço afirmou que elas próprias ou um membro de suas famílias foram dormir com fome pelo menos uma vez naquele período.

Lavrador fica mais longe da ‘renda digna’

O esmagamento dos ganhos de quem produz comida deixa essas pessoas mais distantes de atingirem o que a ONG considera uma renda mínima digna, definida com a renda necessária para que todos os membros de uma família tenham “um padrão de vida decente”. Esse valor varia de país para país, conforme fatores como o poder de compra da moeda local.

No caso do Brasil, onde a renda digna ficaria em torno de R$ 1.316 por mês, o estudo analisou o mercado de suco de laranja. Concluiu que trabalhadores do setor, empregados em grandes plantações de laranja, por exemplo, ganham apenas 61% desse valor. Pequenos agricultores, que cultivam a própria terra, recebem ainda menos --58%.

A situação é ainda pior em países como a Índia, onde trabalhadores de fazendas ligadas ao chá recebem apenas 38% da renda considerada digna por lá, e no Quênia, onde esse número fica em torno de 40% entre empregados nas plantações de feijão verde.

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