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Escritório em Jerusalém: árabes podem trocar importação do Brasil por Índia

Vladimir Goitia

Colaboração para o UOL, em São Paulo

02/04/2019 04h00

A abertura de apenas um escritório brasileiro de negócios em Jerusalém (Israel), em vez da transferência da embaixada para lá, não foi suficiente para atenuar a insatisfação dos países árabes com a política externa do governo Bolsonaro. O país se arrisca a perder espaço na exportação de carne bovina, frango, soja e milho. Os árabes criticam apoio para Jerusalém ser capital de Israel, em vez da Palestina.

Rubens Hannun, presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, afirmou que há uma insatisfação entre os representantes diplomáticos árabes por causa de um "movimento desnecessário" por parte do governo Bolsonaro, que pode ameaçar a preferência dos árabes pelos produtos brasileiros. "Acho que deve haver um impacto no comércio, mas não há como quantificar", afirmou.

Árabes podem trocar Brasil por outros outros países

Michel Alaby, que atuou por 35 anos na Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, tendo exercido vários cargos, inclusive o de diretor-geral, disse ao UOL que a Liga Árabe (22 nações ao todo, excluindo muçulmanos não árabes, como Turquia e Paquistão) pode trocar os principais produtos brasileiros por fornecedores de outros países, entre eles, Índia, Turquia, Estados Unidos e Argentina.

No ano passado, as exportações totais brasileiras para os países árabes somaram US$ 11,49 bilhões, uma queda 14,8% em relação a 2017, quando alcançaram US$ 13,59 bilhões.

Brasil levou 40 anos para conquistar mercados

"A pressão sobre as exportações desses produtos será grande, mas seria maior ainda se o Brasil tivesse decidido transferir a sua embaixada para Jerusalém", disse Alaby. Segundo ele, mais itens brasileiros podem sofrer concorrência de outros fornecedores dos árabes, entre eles a Índia e Tailândia (açúcar) e Estados Unidos e Argentina (soja e milho).

"Levamos mais de 40 anos para conquistar o mercado dos países árabes e, agora, por uma impropriedade, podemos sofrer retaliações, embora não tenha como ser mensurado isso no momento porque os contratos de exportação são de médio e longo prazos com os fornecedores", afirmou Alaby.

Ele disse ainda que o Brasil é o maior exportador mundial de carne "halal" [ritual islâmico para abate de animais]. Por isso o Brasil não devia se alinhar aos Estados Unidos neste tipo de política, até porque os norte-americanos são o maior player do mundo, além de contar com uma moeda forte.

Dependemos muito de relações comerciais

"Nós não somos tudo isso. Eles podem fazer o que querem. Nós somos um país em desenvolvimento que depende muito de suas relações comerciais", afirmou Alaby.

No início deste ano, a pauta de exportações para os árabes já vinha mostrando uma recuperação depois do recuou em 2018. Os embarques para esses mercados em janeiro e fevereiro somaram US$ 2,12 bilhões, 15,9% a mais do que no mesmo período de 2017 (US$ 1,83 bilhão).

O embaixador palestino Ibrahim Alzeben, disse que os embaixadores de países árabes no Brasil querem conversar com o chanceler Ernesto Araújo e com o presidente Jair Bolsonaro (PSL), assim que eles voltarem de Israel.

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AFP