1º dia do Auxílio Brasil tem fila, dúvida e reclamação em Salvador e Maceió
No primeiro dia de pagamento do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, postos de atendimento para atualização do CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal) registraram filas em Salvador. Em Maceió, desempregadas se diziam preocupadas com o futuro. Para receber o novo auxílio, é preciso ter inscrição atualizada no sistema, que é a principal porta de entrada para os programas sociais do governo.
O UOL percorreu postos nas duas cidades. Nas filas, desempregadas buscavam atendimento e informações sobre o Auxílio Brasil.
Agendamento não evita filas em Salvador
Em Salvador, havia uma longa fila no final da manhã de hoje (17), na sede da Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Sempre), no bairro do Comércio. O atendimento na capital baiana está sendo feito exclusivamente por agendamento.
O UOL conversou com pessoas que estavam aguardando. Algumas relataram que não conseguiram realizar o agendamento pelos canais oferecidos pela prefeitura.
Às 12h20, uma delas é Celeste Gonzaga Oliveira, 53, que precisa atualizar o cadastro, mas não conseguiu fazer o agendamento pelos canais digitais.
"Estamos aqui desde cedo, chegamos às 9h30. Para a gente, está sendo difícil. Uma sugestão é que os postos possam oferecer esse serviço [sem agendamento]. A gente evitaria esses aplicativos, porque eles não funcionam —caem e dependem de internet. Então é muito ruim para a gente", reclamou.
Ana Carolina, 27, conseguiu fazer o agendamento via aplicativo para as 12h30 de hoje. Ela está desempregada há três anos e chegou às 11h40.
"Estão chamando com cerca de meia hora de atraso, porque quem não fez o agendamento está se aglomerando e, querendo ou não, isso acaba atrasando todo o processo. Vou fazer o cadastro (no CadÚnico) para ver se consigo o Auxílio Brasil. As coisas ficaram difíceis, e agradeço que o meu pai me ajuda bastante", disse.
Também estava na fila para atualizar dados Joselice Santana Oliveira, 54, que está desempregada. Ela conseguiu agendar o atendimento para as 14h e resolveu chegar um pouco mais cedo, porque achou que poderia ter alguma mudança no atendimento.
A maioria em casa também está sem emprego. Nesta pandemia, os meninos deixaram de trabalhar. Tenho três filhos e dois netos, que estão incluídos no meu cadastro e dependem de mim. Preciso do auxílio, até porque, para eles [filhos] trabalharem, preciso olhar os meninos [netos]. Mas ultimamente, todos estão desempregados, exceto uma filha que estuda e está estagiando.
Joselice Santana Oliveira, 53, desempregada
Elisene da Silva Teixeira também está sem ocupação e precisa atualizar o cadastro para tentar receber o Auxílio Brasil e contribuir com o sustento da família. Ela conseguiu agendar para as 11h e até as 11h30 não havia sido atendida. "Já estou esperando há mais de uma hora. Isso é falta de atenção do governo com as pessoas. Deveriam organizar melhor essas coisas", diz.
Com um bebê de 20 dias no colo, Larissa Emanuele, 19, que também está sem emprego, foi até o local às 9h para fazer o cadastro no CadÚnico e tentar o Auxílio Brasil.
Tenho uma filha de dez anos em casa e estou de resguardo, com minha filha de 20 dias no colo, e na fila. Eles deveriam colocar para dentro quem tem prioridade, tem gente aqui com criança e idoso, que fica aqui fora no sol. [O Auxílio Brasil] É uma ajuda, querendo ou não. Moro com meu esposo e ele está desempregado.
Larissa Emanuele, 19, desempregada
Carolaine dos Santos, 47, desempregada há dois anos, recebia o auxílio emergencial e agora quer fazer o cadastro para tentar receber o Auxílio Brasil. Tinha agendamento às 12h30 e chegou às 9h.
"Cheguei cedo achando que ia ter alguma organização, mas não tem. No site, o primeiro horário é as 8h30, mas quando cheguei ainda estavam se organizando para começar a atender. Então pelo visto só vamos sair daqui no início da noite", disse.
Também estavam no local algumas pessoas que tinham dúvida se, mesmo sendo beneficiárias do Bolsa Família, continuariam sendo atendidas pelo Auxílio Brasil.
É o caso de Surana dos Santos, 47, que tem receio de deixar de perder o benefício.
Sou chefe de família. Se cortarem esse dinheiro, vou para a casa de parente ou para a rua com minhas duas filhas. Elas não trabalham porque não conseguem emprego. Sempre recebi o Bolsa Família. Minha preocupação é que eles dizem que [o novo benefício] automaticamente vai estar lá, mas vai que isso não acontece. Isso aqui [a fila] é uma humilhação. Toda hora passa carro com alguém dizendo: 'Vá trabalhar!', mas não sabem que o país em que vivemos é um lixo.
Surana dos Santos, 47, desempregada
Secretaria diz que só houve fila na sede
Procurada pelo UOL, a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate informou que só havia filas na unidade do Comércio.
Além de na sede no Comércio, o atendimento é feito em 13 unidades do Cras (Centro de Referência da Assistência Social), no Nuar (Núcleo de Ações Articuladas para a População em Situação de Rua), no Subúrbio 360 e na Casa do Trabalhador de Cajazeiras.
Ao todo, conforme a secretaria, foram realizados 7.197 agendamentos até as 16h30 de hoje, em todas as unidades, nos primeiros dois dias do novo sistema de agendamento.
"Em todos os pontos, funcionários da prefeitura estão auxiliando os assistidos no processo de cadastramento. Os três canais de agendamento permanecem ativos, com o aplicativo Fala Cidadão, o site Hora Marcada e o WhatsApp, com vagas disponíveis para todos os dias dessa semana", diz a nota da secretaria.
Em Maceió, 'pedidos de ajuda'
Em Maceió, o movimento nos 16 postos de atendimento do CadÚnico aumentou desde que foi anunciado o novo programa, principalmente por causa de pessoas que querem tirar dúvidas sobre quem receberá o benefício e a partir de quando. O posto que fica no Benedito Bentes, bairro mais populoso de Maceió, estava cheio nesta quarta-feira (17), mas sem filas do lado de fora.
A assistente social e coordenadora da unidade, Ana Lúcia Nogueira, disse que a maioria dos atendimentos são verdadeiros "pedidos de ajuda".
"As pessoas estão sem dinheiro para garantir segurança alimentar para suas famílias. Um pedido recorrente é o aluguel social, porque nas situações mais críticas, essas pessoas precisam escolher entre se alimentar e ter um teto", afirmou.
Enquanto a reportagem esteve no posto do Benedito Bentes, apenas mulheres, muitas com crianças, aguardavam atendimento.
Entre elas, Ana Rafaela Correia Alves, 29. Desempregada desde 2019, ela recorreu ao cadastro temendo não ter condições de cuidar da filha Julia, de 5 anos.
Estamos morando em uma casa simples, emprestada. Recebi o auxílio emergencial e agora dependo da ajuda de parentes. Não paro de entregar currículo, mas parece que todas as portas se fecharam.
Ana Rafaela Correia Alves, 29, desempregada
Os Cras (Centros de Referência de Assistência Social) que funcionam nos principais bairros de Maceió registram busca por informações sobre migração de programas e atualização de cadastros, de acordo com o coordenador Geral do Cadastro Único de Maceió, Diogo de Lima Santos. "Ainda assim, estamos agendando tudo que for possível para evitar longas filas. Aos poucos, conseguimos instituir essa modalidade mais organizada, e tem funcionado", disse.
Na sede do órgão, no bairro na Serraria, não havia movimentação no final da manhã. Estava lá apenas Elissandra Ribeiro da Silva, 43, que tentou realizar o cadastro, mas foi informada de que teria de voltar no mês que vem.
Faxineira, ela conta que não consegue mais bicos de diarista e que o marido, além de desempregado, está há uma semana doente.
Se não fosse a ajuda que recebemos da igreja, estaríamos passando fome. Como vamos fazer para sobreviver até que chegue algum auxílio, só Deus é quem sabe. Confio que nada nos faltar.
Elissandra Ribeiro da Silva, 43, faxineira
Em Alagoas, 415.817 já estão vinculadas a programas destinados a famílias de baixa renda. Maceió atingiu a marca de 319.716 famílias inscritas no CadÚnico, das quais 184.016 famílias recebiam o Bolsa Família, por seguirem todos os critérios de concessão do antigo programa.
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