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Passageiro faz escala, muda data e parcela em 24 vezes para viajar de avião

Tamara Barros, 45, comprou a viagem de presente de aniversário do filho com um ano de antecedência: "Hoje eu não teria condições" - Henrique Santiago/UOL
Tamara Barros, 45, comprou a viagem de presente de aniversário do filho com um ano de antecedência: "Hoje eu não teria condições" Imagem: Henrique Santiago/UOL

Henrique Santiago

Do UOL, em São Paulo

28/06/2022 04h00Atualizada em 28/06/2022 11h25

A disparada do preço das passagens aéreas tem mudado os planos de muitos passageiros. De acordo com o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), a prévia da inflação oficial, o preço do bilhete de avião subiu 123,26% no acumulado dos últimos 12 meses.

A reportagem do UOL visitou na sexta-feira (24) o aeroporto de Congonhas, um dos mais movimentados do país, e ouviu reclamações de passageiros. Eles estão fazendo escalas para conseguir preços mais baixos, mudando datas de viagem e parcelando mais os pagamentos, em até 24 vezes. Associações do mercado de viagens veem o setor aquecido e não se assustam com a escalada da inflação.

Passagens em prestações

As estudantes Esther Rebouças, 21, e Beatriz Contreiras, 21, pagaram R$ 600 cada uma em uma passagem de Salvador para Florianópolis. Elas afirmam que a opção com escala no aeroporto de Guarulhos, na Grande São Paulo, e decolagem em Congonhas era a mais barata. Porém, gastaram R$ 170 em uma viagem de táxi entre os dois terminais aéreos.

Esther diz que parcelou a passagem em dez vezes. "Tive que dividir para poder pagar hotel e alimentação no débito", declara. Ela pagou R$ 78 em um almoço em um restaurante dentro do aeroporto de Congonhas.

A funcionária pública Tamara Barros, 45, comprou a viagem para o Beto Carrero World, em Penha (SC), para levar o filho Hugo, 5, com um ano de antecedência. À época, ela desembolsou R$ 1.300 em um pacote que incluía bilhete aéreo, hospedagem e um dia de parque para duas pessoas.

Ela diz que pesquisou o preço da viagem recentemente e só a passagem de avião já chegava a R$ 1.000. "Hoje eu não teria como comprar, sem condições. Os preços aumentam, e o salário não acompanha."

De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o preço médio da tarifa aérea tem alta de 12,6% entre janeiro e abril de 2022, chegando a R$ 580,41 —no primeiro quadrimestre do ano passado, era R$ 515,22.

Viajar pode ficar para o ano que vem

Sansão quer comprar um pacote para visitar praias, mas ainda não sabe quando - Henrique Santiago/UOL - Henrique Santiago/UOL
Afonso Henrique Sansão quer comprar um pacote para visitar praias, mas ainda não sabe quando
Imagem: Henrique Santiago/UOL

Quem viaja a trabalho também se assusta com os valores, mesmo que a empresa pague os custos. O assessor jurídico Afonso Henrique Sansão, 25, aguardava em Congonhas para voltar a Cuiabá (MT), onde vive, após uma viagem de um dia em São Paulo. Ele viaja ao menos duas vezes por mês.

Ele diz que a companhia onde trabalha tem uma política rígida de comprar as passagens mais baratas, escolhendo horários tarde da noite ou de madrugada.

Segundo a Abracorp (Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas), o volume de vendas de viagens e eventos corporativos em maio deste ano foi de R$ 1,093 bilhão, apenas 2,4% abaixo do registrado no mesmo mês de 2019, antes da pandemia.

Ao pensar em seu lazer, Sansão se planeja para viajar nos próximos meses, só que ainda não começou a pesquisar preços. "Estou pensando em ir para o litoral de Fortaleza ou Sergipe. Se não der este ano, fica para 2023", diz.

Parcelamento em até 24 vezes

Esther Rebouças, 21, e Beatriz Contreiras, 21, parcelaram a passagem de avião em 10 vezes - Henrique Santiago/UOL - Henrique Santiago/UOL
Esther Rebouças, 21, e Beatriz Contreiras, 21, parcelaram a passagem de avião em 10 vezes
Imagem: Henrique Santiago/UOL

Além dos roteiros pelo Brasil, as promoções de pacotes têm atraído consumidores, segundo Magda Nassar, presidente da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens). Ela declara que os descontos na baixa temporada, que será iniciada em agosto, são importantes para aumentar as vendas, ainda que a passagem aérea esteja mais salgada.

"As pessoas não estão deixando de viajar, e sim readaptando algumas viagens e mudando algumas datas, porque em épocas de muita procura os preços ficam mais altos", afirma Magda.

Para se adaptar ao momento, a CVC Corp ampliou as possibilidades de parcelamento de viagem. Recentemente, a empresa lançou o financiamento em boleto em até 24 parcelas, para atingir clientes sem cartão de crédito ou que fazem pouco uso dessa opção, informa, em nota, a assessoria de imprensa.

No primeiro trimestre deste ano, a CVC embarcou 1,9 milhão de passageiros, 15% a mais do que nos três primeiros meses de 2021, segundo dados da prévia operacional divulgada no início de junho. A partir de julho, a companhia aposta em fretamento de voos exclusivos, com 220 mil assentos reservados nos próximos 12 meses, a retomada das viagens rodoviárias, e a volta dos cruzeiros.

Setor de viagens não sente impacto

Mesmo com a escalada nos valores, o setor de viagens de lazer vê sinal de recuperação em 2022. A Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) aponta que 66% das operadoras associadas tiveram faturamento maior no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2021.

Em 2021, o faturamento das operadoras associadas à Braztoa foi de R$ 7,1 bilhões —54% a menos do que em 2019. Para este ano, a associação avalia que a receita dos seus filiados tem tudo para empatar com o último ano pré-pandemia, graças ao aquecimento do mercado doméstico.

"É fato que a demanda por viagens está alta e os voos, cheios, já que estamos entrando na temporada de férias [de julho]", diz Roberto Haro Nedelciu, presidente da Braztoa.

Aéreas reclamam de imposto do combustível

O imposto sobre o querosene de aviação é um gargalo que impede a redução do preço das passagens aéreas, diz a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).

Segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o querosene de aviação acumula alta de 102,4% nos últimos 12 meses.

A Abear afirma que o combustível dos aviões responde a 30% dos custos de uma companhia aérea. A entidade diz que a guerra entre Rússia e Ucrânia e a precificação em dólar da Petrobras prejudicam o setor.

"O Brasil é o único país do mundo que tem um tributo regional sobre o querosene de aviação, o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços]. Já as empresas estrangeiras não pagam esse imposto para abastecer em território nacional. É por isso que uma viagem internacional muitas vezes é mais barata do que um voo doméstico, considerando-se distâncias similares", afirma a nota.