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Gastos em hotéis e retaliação a colegas: as polêmicas do presidente do BID

Ex-presidente do BID Mauricio Claver-Carone durante evento em Nova York; advogado indicado por Trump foi demitido devido a caso com funcionária - NOAM GALAI/Getty Images via AFP
Ex-presidente do BID Mauricio Claver-Carone durante evento em Nova York; advogado indicado por Trump foi demitido devido a caso com funcionária Imagem: NOAM GALAI/Getty Images via AFP

Do UOL*, em São Paulo

27/09/2022 11h33Atualizada em 27/09/2022 12h35

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) demitiu ontem (26) seu presidente, Mauricio Claver-Carone, após uma investigação concluir que ele manteve uma relação íntima com uma funcionária, desrespeitando as normas da instituição.

Ele já havia negado as alegações, criticando a investigação por não "atender aos padrões internacionais de integridade".

Segundo o jornal Financial Times, a consultoria independente feita pelo escritório de advocacia Davis Polk concluiu que Claver-Carone já tinha um relacionamento com a mulher anteriormente e que ele teria violado as políticas do banco ao tomar ações para beneficiá-la na organização.

Entre os indícios coletados pela consultoria, estão custos "excessivos" de diárias de hotéis em viagens oficiais com a funcionária, e retaliação a membros do BID que reportaram a relação entre os dois.

A vice-presidente executiva do banco, Reina Irene Mejia, de Honduras, assumiu a presidência temporariamente até que um sucessor seja escolhido.

Nome de Trump para banco de desenvolvimento latino. Advogado americano de ascendência cubana, Claver-Carone chegou ao posto de chefe da principal fonte de financiamento para o desenvolvimento da América Latina e Caribe rompendo com a tradição de latinos ocuparem o cargo.

O BID, criado em 1959 pela OEA (Organização dos Estados Americanos), teve antes de Claver-Carone quatro presidentes: o chileno Felipe Herrera (1960-1970), o mexicano Antonio Ortiz Mena (1970-1988), o uruguaio Enrique Iglesias (1988-2005), e Luis Alberto Moreno (2005-2020), da Colômbia.

Antes de ser indicado, Mauricio Claver-Carone foi assessor de segurança nacional da Casa Branca do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele era conhecido por sua forte oposição a Havana e Venezuela.

Sua eleição, em setembro de 2020, contou com 67% dos votos dos acionistas e o apoio de 23 dos 28 países da região. À época, foi vista como uma vitória de Trump, mas gerou críticas: Argentina, Chile, México, Peru e Trinidad e Tobago se abstiveram de votar.

Posição em relação à China. Uma das desconfianças em relação a Claver-Carone era como ele veria a China no BID, especialmente porque Trump tinha uma forte retórica anti-Pequim. Para a América Latina, os planos de Claver-Carone incluíam um "pan-americanismo", segundo entrevista concedida à AFP após sua posse.

"A China desempenha um papel importante no comércio internacional, mas é um país distante das Américas e totalmente controlado por um Estado. Portanto, o que buscamos é realizar o sonho do pan-americanismo, que existe desde antes da China ser uma potência econômica. A China nunca vai suplantar a relação entre os países das Américas, mas vai preencher as lacunas existentes. E isso é válido competitivamente! Não podemos ficar com raiva da China por isso, mas de nós mesmos por termos deixado o vácuo", argumentou.

Tensão com Argentina. A situação econômica da Argentina foi uma das pautas mais tensas na gestão de Claver-Carone frente ao BID.

O país acusava o banco de ter congelado US$ 600 milhões desde que Alberto Fernández, presidente argentino, questionou a gestão do BID durante a Cúpula das Américas, em junho.

O Banco, por sua vez, afirmou que não podia aprovar novos fundo se o país não cumprisse com os compromissos de melhorar suas condições macroeconômicas.

Em carta ao editor publicada pelo Wall Street Journal, Mauricio Claver-Carone afirmou que o banco tinha o "dever de ajudar membros como a Argentina", mas também estaria "ansioso para que a Argentina cumpra seus compromissos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para melhorar as condições macroeconômicas".

A Argentina, que enfrenta um cenário de inflação em alta e moeda em mínimas históricas em relação ao dólar, já tem um acordo de US$ 44 bilhões com o FMI.

*Com informações da AFP e Reuters